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Relação aberta não é bagunça: elas contam regras que criaram para dar certo

Casais devem conversar sobre "regras" relacionadas à prioridade afetiva e prática dentro do relacionamento - sanjeri/Getty Images
Casais devem conversar sobre 'regras' relacionadas à prioridade afetiva e prática dentro do relacionamento Imagem: sanjeri/Getty Images

Nathália Geraldo

De Universa

08/02/2021 04h00

Quando uma pessoa fala sem tabus sobre relacionamento aberto, como a atriz Fernanda Nobre fez para Universa, ajuda a desmistificar esse modelo de relação. Ainda assim, para o casal que toma a decisão de abrir mão da monogamia, surgem dúvidas: quais são as regras?

Três mulheres que vivem ou já viveram relacionamentos abertos contam para Universa quais são os acertos e as ciladas que experimentaram ao se relacionar nesses moldes. A ideia é que os relatos ajudem os casais a estabelecerem seu próprio estatuto.

Ao contar como abriu a relação com o marido, Fernanda Nobre explicou que se pautou pela equidade de liberdade dentro da relação e por uma reavaliação de como a monogamia funcionava para a vida dela.

Para quem entende que desejo, sentimentos e interesse em uma terceira pessoa não são negociáveis, relacionamento aberto pode ser impensável. E tudo bem. A questão é que, quem quer rever o padrão monogâmico, como fez a atriz, precisa se atentar a que acordos aos quais o casal se submeterá para que dê certo.

Especialistas recomendam que sejam levados em conta, entre outros fatores, questões de afeto, cumplicidade e lealdade, e os limites emocionais que cada pessoa pode ter em um modelo de relação não exclusivo.

8 pontos para discutir a dois antes de abrir a relação

amor - Kelly Sikkema - Kelly Sikkema
Discutir o padrão monogâmico das relações requer muita conversa; casal precisa alinhar sentimentos e interesses
Imagem: Kelly Sikkema
  • Existe traição no relacionamento aberto?

Decidir se dentro de relacionamento aberto existe traição é um dos pontos. A estudante de Medicina Aline Matos Paiva, que tem 25 anos e está há dois em um relacionamento aberto com a namorada, explica que, no acordo entre elas "se envolver emocionalmente" com outras pessoas é considerado traição. Por outro lado, beijar ou transar, o que acontecia quando as duas frequentavam festas, era liberado.

Para outros casais, mentir ou esconder informações sobre encontros com outras pessoas, fazer atividades que sejam "de casal" com elas ou contratar garoto ou garota de programa podem ser formas de traição. Tudo vai depender do que foi conversado quando os parceiros discutiram o formato da relação.

  • Ficar com amigo, pode ou não?

Para Aline e a parceira, se relacionar com amigos está liberado. "Em festa da faculdade, antes da pandemia, rolava rodinha de beijos com meus amigos, por exemplo". Já para a estudante de arqueologia Ana Ligia Lopes, que tem 19 anos e vive pela primeira vez um relacionamento aberto com seu parceiro, só não pode ficar com os melhores amigos do casal. "Nós dois somos bissexuais, então, estamos liberados para ficar com qualquer outra pessoa, independentemente da orientação sexual."

  • E ex? Pode ter "vale a pena ver de novo"?

Por ser um tabu para muitas pessoas, o tema pode ser sensível e envolver ciúme. Há casais que preferem selar o compromisso de só se envolverem com desconhecidos e, nesse acordo, ex-namorados ou contatinhos estão fora do circuito.

  • "Amor é amor, e um lance é um lance"

No caso de Ana Ligia e o parceiro, a letra do funk "Amor é amor e um lance é um lance" é levada a sério. "Não podemos nos apegar, tem que ser uma coisa estritamente física, casual", explica para Universa. "E há outra regra: se for ficar mais de uma vez com a pessoa, precisa avisá-la que tem um relacionamento aberto. Se não no primeiro dia, no segundo encontro."

  • Quem ficou com alguém precisa contar para o parceiro?

Contar ou não o que rolou (ou o que vai rolar) com outra pessoa também faz parte do combinado entre o casal, explica Luisa Sousa, 25, que teve dois relacionamentos abertos, mas, hoje, está solteira. "Eu dizia para meu parceiro se divertir e, se ele quisesse trazer informações sobre a pessoa, tudo bem. Eu comentava com quem eu saía, se acontecia algo engraçado no date, por exemplo."

  • Parceiro como prioridade

"Eu sabia que eu gostava do meu namorado mais do que das pessoas com que saía. E era uma questão de prioridade. Eu falava que ele era minha pessoa principal", diz Luisa. Para ela e o ex-namorado, o critério também valia para quando precisavam aliar as agendas de eventos sociais. Dates com outras pessoas estavam sempre em segundo plano.

  • Se sentir ciúme, o jeito é conversar

As três entrevistadas recomendam: diálogo é o segredo para quem está a fim de abrir o relacionamento, principalmente para calibrar as expectativas e o ciúme. "Eu achava que em relacionamento aberto não tinha ciúme, mas, na verdade, você aprende a lidar com ele, ao perceber que consegue manter o amor e a reciprocidade na relação. Nos meus relacionamentos, rolava muita DR. E, no primeiro incômodo, é necessário levar para a outra pessoa, para diminuir a chateação", pontua Luisa.

  • Usar camisinha é indispensável

O sexo com uso de preservativo também deve estar em pauta na conversa de quem abre o relacionamento.

Abrir para salvar relação: cuidado com a cilada

Se você está em um relacionamento fechado e quer abri-lo para "reacender o romance" ou decide por essa mudança de formato após uma discussão, é importante saber que é preciso avaliar melhor essa motivação. Dessa forma, o início dessa transição deve ser ainda mais cauteloso, com bastante conversa e busca de maturidade pelo casal.

No caso de Luisa, a tentativa de voltar a namorar com o ex deixando a monogamia de lado não deu certo. Segundo ela, outro erro foi tentar convencer o ex-parceiro que aquele era "o melhor modelo de relacionamento", sendo que ele não estava na mesma sintonia.

"Namoramos um ano e meio e terminamos. Em uma conversa de reconciliação, eu levei o relacionamento aberto como alternativa. Foi um erro. O que aconteceu é que ele aceitou para não me perder, e terminamos quatro meses depois".