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#MulheresnoBBB: "Não fiz sexo oral. Se tivesse feito, e daí?", diz Tessália

Tessalia, que participou da edição 2010 do BBB. - Reprodução/Instagram
Tessalia, que participou da edição 2010 do BBB. Imagem: Reprodução/Instagram

Tessália Serighelli, em depoimento a Mariana Gonzalez

De Universa

19/01/2021 04h00

Quando entrou no BBB, em 2010, Tessália Serighelli, tinha apenas 22 anos. Cheia de planos e sonhos com a fama, ela não imaginava que seria eliminada logo no primeiro paredão, com 78% dos votos. E o pior: reduzida cruelmente no Brasil todo à "garota que fez sexo oral embaixo do edredon", por causa de sons captados pelos microfones que ela o o partipante Michel Turtchin usavam enquanto trocavam carícias, dando asas à imaginação da audiência.

Naquela décima edição do BBB, Tessália já não era a primeira e nem a segunda mulher a protagonizar cenas do tipo no programa. Ela acredita que o fato de Michel ter namorada (coisa que ela não sabia) e do tabu envolvendo o sexo oral (que ela diz nem ter feito), tornou o caso um escândalo.

À Universa, Tessália conta que o episódio "mexeu com seu psicológico", mas garante: "Tudo o que eu passei ali foi importante para valorizar a igualdade de gênero como valorizo hoje".

"No BBB 2020 mulheres foram menos julgadas do que eu fui"

"São 11 anos desde que entrei na casa, e hoje vejo como as coisas mudaram. Ainda bem. Ter uma final com três mulheres [se referindo à edição passada, em que Thema Assis, Rafa Kaliman e Manu Gavassi disputaram o prêmio] mostra que elas receberam apoio em suas trajetórias, foram menos julgadas. Eu entrei numa época em que a mulher dizer que entrou no BBB para jogar era mal vista. As mulheres que chegavam mais perto da final eram as que diziam seguir o coração, arrumavam a casa, não brigavam e davam orgulho aos pais.

Tessalia conversa com o apresentador Pedro Bial, logo depois de deixar o BBB com 78% dos votos - TV Globo/Frederico Rozario - TV Globo/Frederico Rozario
Tessalia conversa com o apresentador Pedro Bial, logo depois de deixar o BBB com 78% dos votos
Imagem: TV Globo/Frederico Rozario

Lá dentro não estava claro para mim, mas o Michel tinha uma namorada. Enquanto para mim aquela era uma relação sem nenhum impedimento, o público viu como uma relação proibida. Soma isso o mito do sexo oral. Naquela época era um tabu, não sei se ainda é. Aqui nos Estados Unidos [onde Tessália mora atualmente], o sexo oral é entendido como uma das etapas antes da penetração, mas no Brasil eu não sei como as pessoas enxergam.

Sexo é só papai e mamãe? E quem faz diferente disso é biscate? Não sei mesmo. Junta a traição com o sexo oral, acabou para mim. Virei vilã.

Só que eu não fiz sexo oral em ninguém. Foram só uns amassos em baixo do edredom. Na época, isso foi tão falado, tão associado à minha imagem, que eu até esqueço que não fiz. Mas se tivesse feito, e daí?

Nunca adiantou dizer o contrário. Ninguém acreditava que eu não tinha feito nada. Mais de uma vez, quando eu estava em uma festa ou evento, as pessoas gritavam 'boqueteira, boqueteira'. Foi difícil de lidar. Mas se não fosse o estardalhaço do boquete, eu não teria feito a Playboy, que rendeu uma grana legal.

Tudo isso mexeu bastante com o meu psicológico. No momento em que seria bom para trabalhar, quando meu nome ainda estava em alta, eu só queria desaparecer. Fui passar um tempo fora do Brasil. Mas tudo que eu passei foi importante para valorizar a igualdade de gênero como valorizo hoje.

Antigamente, praticamente só homem hétero me seguia nas redes sociais. Era uma homarada que me conhecia porque eu tinha saído na Playboy e queria ver foto minha de biquíni. Hoje em dia são mulheres interessadas no que eu tenho para dizer. É legal ser chamada de gostosa, claro, dá um up no ego, mas é tão mais legal quando alguém diz "nossa, me identifico com você" ou "gosto quando você fala disso". É muito mais rico.

Lembro que, por volta de 2014, a Pitty começou a jogar na roda questões de feminismo, sororidade. Foi aí que comecei a refletir sobre isso. Eu acho que sempre fui feminista, desde criança. Talvez eu não conhecesse o termo, mas sempre acreditei que homens e mulheres são iguais. E nunca deixei que ser mulher fosse uma barreira e mandava tomar no cu todo mundo que dissesse que eu não poderia fazer alguma coisa por ser mulher.

Querendo ou não, o BBB é uma imagem do que é o Brasil. E todas as questões ligadas a minorias precisam ser discutidas ali. Essa última edição foi muito bonita, todos os meninos saindo de lavada depois que as mulheres se uniram. Se todo BBB fosse como esse último [de 2020], ficaria feliz.

Sem querer, eu levantei o debate sobre traição, sobre sexo oral e sobre como a mulher é vista nesses termos. E, naquele ano, o público votou contra. Se o mesmo debate fosse levantado hoje seria diferente. Ainda bem".

Até a estreia do Big Brother Brasil deste ano, em 21 de janeiro, Universa publica histórias de ex-BBBs que levantaram debates importantes, especialmente para as mulheres.

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