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Carioca é finalista de prêmio global ao levar jovens de favela à tecnologia

Aline Froes: idealizadora do projeto Vai Na Web. - Banco de Imagens Vai Na Web
Aline Froes: idealizadora do projeto Vai Na Web. Imagem: Banco de Imagens Vai Na Web

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

06/12/2020 14h19

"De um lado, empresas têm cofres cheios e precisam investir em tecnologia; do outro, jovens sofrem de ansiedade por não conseguir entrar no mercado de trabalho. O que falta é capacitar a mão de obra".

A partir desta conclusão, que pode parecer óbvia, a empresária carioca Aline Fróes, de 33 anos, foi parar na final do Women in Tech Global Awards, premiação que aconteceu em Lisboa, na última quarta-feira — ela, aliás, era a única brasileira na disputa e concorreu com representantes de 120 países.

Há três anos, Aline criou ao lado do empresário Igor Couto o Vai Na Web, empresa focada em formar jovens (mas não só jovens) para a chamada Quarta Revolução Industrial.

"O Planeta está se encaminhando para uma economia totalmente digital. Esse é um movimento global, não tem para onde fugir. Mas qual é o problema? A gente não tem pessoas capacitadas para essas novas tecnologias. As pessoas não sabem usar, não estão sendo educadas para o século 21", percebe.

Ela continua: "As grandes empresas estão com os cofres cheios de dinheiro, têm orçamentos milionários para fazer uma transformação digital, mas não encontram mão de obra especializada. Ao mesmo tempo, há uma quantidade enorme de jovens sem emprego, sofrendo de ansiedade, tentando entrar no mercado de trabalho.

O Complexo do Alemão tem 60 mil pessoas. Quantas delas são jovens que podem ter uma baita vocação para a tecnologia, que passam o dia conectados na lan house, em casa, no celular, no videogame? Será que 5 mil têm esse perfil? Não sei, mas com certeza é muita gente".

Resumidamente, o Vai Na Web é uma escola de programação voltada para as classes D e E. Na prática, Aline explica, o objetivo é democratizar a linguagem da tecnologia formando jovens para trabalhar neste universo, seja criando animações, programando sistemas, desenvolvendo softwares.

Vai Na Web - Banco de Imagens Vai Na Web - Banco de Imagens Vai Na Web
Imagem: Banco de Imagens Vai Na Web

A empresária, que saiu da educação pública do Rio de Janeiro para uma pós-graduação em Stanford, uma das universidades mais conceituadas do mundo, acredita que é preciso levar para as salas de reunião das empresas pessoas que não necessariamente saíram das mesmas grandes instituições de ensino.

"Nós precisamos de diversidade de pensamentos para resolver problemas. Não adianta ter um grupo de pessoas que estudaram em Stanford numa sala, que muito provavelmente ninguém vai resolver nada. Agora, se tiver mulheres, negros, pessoas trans, pessoas pobres, as soluções serão muito mais ricas".

Vida de estudante

Em três anos de vida, o Vai Na Web formou cerca de 300 jovens programadores e mantém a taxa de empregabilidade em 55% — ou seja, metade dos alunos está no mercado de trabalho.

O curso dura "seis meses intensos", reforça Aline, explicando que os alunos enfrentam uma carga horária longa. No final do semestre, parte deles é selecionado para trabalhar no Estúdio Vai Na Web, espécie de laboratório da empresa, que presta serviços tecnológicos para empresas, revertendo o lucro para a própria escola, e ao mesmo tempo funciona como vitrine de talentos formados ali para o mercado de trabalho.

"Não posso emitir um certificado para o jovem sair dali sabendo mais ou menos de programação, mais ou menos de robótica. Eles colocam a mão na massa e saem daqui sabendo entregar um trabalho bem feito", conta. "Ao mesmo tempo, pensamos num formato rápido [de seis meses] para que ele ocupe logo seu espaço no mercado de trabalho".

Aline relata diversas histórias de alunos que se matricularam enquanto trabalhavam como balconistas de redes de fast-food, por exemplo, e saíram do laboratório direto para um emprego CLT como programadores.

Ela conta que, desde a primeira turma, as mulheres são maioria entre os alunos. Há casos de alunas que levam o filho para amamentar durante as aulas, e de mães solo que buscam formação em tecnologia para conseguir trabalhar de casa, sem deixar os filhos sozinhos, por exemplo.

"Quando você ajuda um jovem, você ajuda uma família inteira. Se antes ele fazia parte de uma família que tinha uma renda total menor que um salário mínimo, hoje ele sozinho tem uma renda superior à da família toda, com plano de saúde, benefícios e tudo mais. Ele começa a ser um agente transformador na sua comunidade. Transforma ele, a família, e serve de exemplo para um vizinho, um amigo, um parente".