Topo

Grávida diz que ficou dias com gêmeas mortas na barriga e denuncia hospital

Getty Images
Imagem: Getty Images

Tatiana Campbell

Colaboração para Universa, no Rio

24/11/2020 21h30Atualizada em 26/11/2020 12h01

A família de uma adolescente de 16 anos acusa o Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), de negligência médica por não ter identificado morte fetal. Segundo relato de parentes, a garota, grávida de 36 semanas de gêmeas, procurou atendimento médico no último domingo.

Na última sexta-feira, a garota, que não terá sua identidade divulgada, sentiu que a barriga havia ficado mais dura e não sentia mais a movimentação das bebês. No domingo, ela decidiu ir ao hospital para realizar exames.

"No domingo ela já estava muito preocupada. Chegando ao hospital, ela fez um exame para checar como estavam as bebês. O médico falou que conseguiu escutar apenas o coração de uma das filhas, porque, segundo ele, o coração da mãe não permitiu escutar o coração da outra criança. Mesmo assim, ela foi liberada e o médico recomendou que ela fizesse um ultrassom por conta própria e retornasse no dia seguinte", disse uma parente da jovem, que pediu para não ser identificada.

No domingo à noite, ela sentiu uma dor muito forte e voltou ao hospital. "Na segunda pela manhã, recebemos a notícia que nos deixou muito abalados. Eles nos contaram que as bebês estavam mortas desde sexta-feira, justamente no dia em que ela sentiu que havia algo errado. Como pode? Ele não fez nenhuma observação, disse que estava tudo bem e que ela podia ir embora [na ocasião]. Você entrar em um hospital com um bebê morto dentro de você e eles não conseguirem identificar... isso para mim é descaso ou burrice", acrescentou a familiar.

A mulher também relatou que a garota segue internada na unidade. Como ela estava com pouca dilatação e, segundo os médicos, eles não realizariam cesariana, somente hoje conseguiram retirar as crianças.

"Ela ficou segunda e terça no hospital, em nenhum desses dois dias ela teve dilatação. Ela chegou a 3 cm de dilatação hoje e não sei como ela conseguiu entrar em trabalho de parto. Como não pode ter visita, ficamos sempre esperando por notícias. Eu sinto que o hospital está tirando o dele fora, dizem que não foi negligência, disseram que é normal o que aconteceu. Para amenizar a situação, eles disponibilizaram uma assistente social que vai oferecer o caixão para poder enterrar as meninas. Algumas enfermeiras chegaram a explicar que, quando a criança fica muito tempo dentro da barriga da mãe, dá uma infecção no sangue. Agora, imagina, elas já estavam mortas desde sexta", acrescentou a parente.

Familiares estão "destroçados"

A mulher contou que a adolescente e o companheiro, assim como todos da família, estão muito abalados. Ela pretende procurar a Defensoria Pública.

"Os dois, as mães deles, nós todos estamos destroçados. Agora, eles estão recebendo esse apoio psicológico do hospital, porque ela ainda está na maternidade, vendo todas as mães saindo com os filhos e ela nem chegou a ver nenhuma delas", apontou.

A mulher relata que a adolescente está em boas condições de saúde, sem infecção, e não corre risco. O enterro das bebês será realizado amanhã.

Em nota, o Hospital Universitário Antônio Pedro disse que a gestante recebeu os atendimentos necessários e lamentou profundamente a evolução desfavorável dos fetos.

Confira a nota na íntegra:

O Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), por meio da Gerência de Atenção à Saúde (GAS), esclarece que a paciente gestante foi encaminhada, pela regulação estadual, por risco fetal e atendida pela primeira vez, em 19 de novembro de 2020, no pré-natal de Alto Risco do Huap. Na época, a paciente apresentou exames morfológicos que mostravam que um dos fetos apresentava anencefalia (condição rara que impede o desenvolvimento de parte do cérebro e do crânio). Nesta primeira consulta no Hospital Universitário (HU), também foram solicitados outros exames de pré-natal e agendada a consulta de retorno. A paciente, mencionada na matéria, voltou ao Hospital, no domingo (22), com queixa de ausência de movimentos fetais desde sexta-feira (20). Infelizmente, durante o exame realizado, no domingo (22), nesta unidade, não se auscultou batimentos cardíacos fetais. No dia seguinte (23), o ultrassom fetal detectou a ausência de batimentos cardíacos dos dois fetos, confirmando, assim, o óbito fetal intrauterino. Na terça-feira (24), a paciente expeliu dois fetos com 26 semanas de gestação (uma prematuridade extrema). Os fetos pesavam, 725 e 850 gramas, respectivamente. O Huap esclarece que entre o diagnóstico e a resolução transcorreu um dia. A adolescente foi acolhida pelo Serviço Social e pela Psicologia do Hospital Universitário, em Niterói. Em 25 de novembro (quarta-feira), a paciente recebeu alta e continuará sendo acompanhada no ambulatório de Puerpério e da Psicologia do Huap. A equipe de saúde do hospital, assim como a direção, lamenta profundamente a evolução desfavorável dos fetos e se solidariza com a dor dos pais e familiares.