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Com máquina de costura do lixo, ela criou negócio e fatura R$ 180 mil/mês

Samanta Daibert com sua primeira máquina de costura - Divulgação
Samanta Daibert com sua primeira máquina de costura Imagem: Divulgação

Marcelle Souza

Colaboração para Universa

02/11/2020 04h00

A mineira Samanta Daibert, 43, entrou no mundo dos negócios para realizar um sonho: fazer uma festa de 15 anos para a filha. Precisando de dinheiro extra para dar vida à comemoração, ela viu a vida mudar ao encontrar no lixo uma velha máquina de costura.

Tudo começou em 2011, quando Samanta trabalhava meio período em um consultório médico. Com o orçamento apertado, ela precisava de um forma de juntar o dinheiro para o aniversário da filha no ano seguinte. "Eu queria dar a ela a festa que eu não tive, mas para isso tinha que fazer uma poupança extra para não onerar o orçamento da família", conta.

A primeira ideia foi fazer bombons, que a filha passou a vender na escola. O negócio foi um sucesso, mas em pouco tempo a direção proibiu o comércio na hora do intervalo. Era preciso buscar outra saída. "Um dia, estava sentada na cozinha, olhei para o fogão e vi um pano de prato. Pensei que outras pessoas também podiam gostar, então comecei a procurar material para fazer alguns modelos mais simples", lembra.

À época, Samanta só tinha uma máquina de costura de plástico em casa, que usava para fazer pequenos consertos, e não era suficiente para fazer o acabamento dos produtos. A solução veio do lixo, onde seu pai havia encontrado uma máquina antiga e muito boa, que só precisou de um reparo para se tornar sua ferramenta de trabalho.

"Eu só sabia fazer costura reta, não tinha experiência, mas com essa máquina eu comecei a produzir. Com o dinheiro que entrava, investia em cursos para aprender novas técnicas e comprava os materiais necessários", afirma.

Samanta acordava às 5h30 e trabalhava na mesa da cozinha até as 10h30, quando precisava parar para cuidar dos filhos e preparar o almoço da família. Na porta da escola do mais novo, abria a sacola e vendia as peças que produzia para as mães dos outros alunos. Ia para o trabalho e, no fim do dia, ainda voltava para a máquina para terminar as encomendas. Em menos de um ano, ela conseguiu dinheiro suficiente para que a filha tivesse uma festa de sonho.

"A princípio, eu queria uma festa bem tradicional, mas a minha filha achava brega", lembra. No lugar do baile e da valsa, teve DJ e pista de dança, e o lucro dos artesanatos ainda rendeu uma viagem para Petrópolis (RJ) e um notebook novo para a filha. "Essa experiência despertou o meu lado empreendedora, e eu tomei gosto para o negócio", diz.

Samanta Daibert - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Ganhou experiência no artesanato

Aos poucos, ela começou a ser convidada para dar aulas de artesanato, trabalho que somou às horas na máquina de costura e no consultório médico. Foi aí que comprou uma moto, para se deslocar mais rápido e economizar tempo para o trabalho. Da mesa improvisada na cozinha, passou para um espaço montado na sala de casa, que em pouco tempo também ficou insuficiente.

"Eu tinha dois cadernos: em um eu anotava o que comprava e, em outro, tudo o que vendia. Era muito organizada, tentava não misturar com outras fontes de renda, e investia em materiais o dinheiro que entrava", diz.

Depois de dois anos, Samanta alugou uma sala em cima do consultório onde trabalhava e, depois, uma casa, onde passou a funcionar seu ateliê. Ali, mantinha ainda uma sala para os cursos e uma loja de materiais e artesanatos. Foi quando precisou abandonar o emprego na clínica.

"Nesse período, minha filha me sugeriu criar um canal no Youtube, e ela mesma filmava e editava os vídeos. Fiquei conhecida e passei a ser convidada para participar de eventos e feiras em outros estados", conta. O canal "Sam Arteira", sobre a confecção de bolsas, costura criativa e patchwork, tem hoje mais de 80 mil inscritos.

Em cada viagem, Samanta aproveitava para conhecer pessoas e comprar materiais diferentes para o que produzia. "Comecei a ver o problema: as alunas queriam os mesmos produtos, mas era impossível achar aqui", diz.

O incômodo virou oportunidade de negócio quando ela resolver montar uma franquia da rede Center Panos em Juiz de Fora (MG). No mesmo espaço, conseguiria dar aulas de artesanato, comprar itens diferenciados e vendê-los a preço competitivo para o mercado local.

Ela contratou na pandemia

A inauguração foi em dezembro de 2019, com direito a fila na porta e expectativa de crescimento. "Foi um dia muito emocionante, porque me lembrei de quando costurava panos de prato na cozinha", diz. O investimento na nova loja foi de R$ 500 mil, parte do valor foi financiada. "Eu vi muitas alunas querendo me abraçar, meu marido era o gerente, minha irmã estava no caixa e minha filha no marketing. Era uma empresa de família."

Três meses depois, no entanto, começou a pandemia e a prefeitura decidiu fechar o comércio local. Samanta lembra desse como o momento mais difícil como empreendedora. "Eu convenci o meu esposo a entrar comigo nessa franquia, que passou a ser a única renda da família. Então tinha que dar certo", diz.

No dia seguinte ao decreto da prefeitura, Samanta separou um número de telefone para atender os clientes, contratou um motoboy e anunciou na rádio local que faria delivery de materiais de artesanato. "Eu não tinha formação nem experiência no comércio, mas não me desesperei. Vi essa fase como uma oportunidade de negócio", conta.

A triagem dos pedidos era feita pela própria Samanta, que recebia os telefonemas e as mensagens via WhatsApp. O processo era artesanal, já que tudo era anotado em um caderno e encaminhado aos vendedores da loja, mas funcionou. "Não deixei de trabalhar um só dia e acabei fidelizando os clientes", diz.

Além das vendas dentro da cidade, ela começou a receber pedidos de municípios vizinhos e até de outros estados por meio das redes sociais. A maioria era de pessoas que passaram a confeccionar máscaras como uma nova fonte de renda, o que explodiu a demanda por tecidos e elástico.

Samanta teve então que contratar mais uma vendedora, uma especialista em rede social e três motoboys terceirizados, e a loja passou a faturar R$ 180 mil por mês.

"Eu nunca imaginei viver de artesanato, mas tudo foi acontecendo. O meu planejamento agora é aumentar o faturamento e, no futuro, montar mais uma loja na minha cidade", diz.