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Instituto vai promover saúde mental para mulheres vítimas de violência

Claudia Sales, psicóloga do Instituto Casa Lilás - Divulgação
Claudia Sales, psicóloga do Instituto Casa Lilás Imagem: Divulgação

Roseane Santos

Colaboração para Universa

29/10/2020 04h00

A psicóloga Claudia Sales, 27 anos, enfrentou na pele um problema que é levado por muitas mulheres nas sessões de terapia: o relacionamento abusivo. "Ele falava mal dos meus amigos e familiares para que eu deixasse de estar com eles. Me chamava de gorda, sonsa, falava que eu não sabia fazer nada. Cheguei a ser agredida com socos, beliscões, empurrões. Eu não tinha voz nem nenhum poder de escolha", conta sobre o ex.

Baseada na própria experiência, Claudia resolveu focar os seus estudos em problemas relacionados a questões como o machismo. E será uma das voluntárias da organização Instituto Casa Lilás, que será inaugurada no dia 3 de dezembro, em Vitória (ES), com o objetivo de oferecer um serviço gratuito voltado à saúde mental das mulheres que sofrem violências diversas.

O grupo interdisciplinar é formado por 12 ativistas e voluntárias, entre profissionais das áreas de saúde mental, cultura criativa, serviço social, comunicação e educação. Apesar de se intitular como "casa", à princípio, o projeto não fará atendimentos em uma sede, e sim nas comunidades do Espírito Santo onde existem vítimas mais vulneráveis.

"O instituto entende que precisa ir até essas mulheres, com atendimentos gratuitos nas comunidades e portas de fábricas, já que elas não teriam condições financeiras e logísticas para se deslocarem até a sede do instituto para receber os atendimentos e participar das dinâmicas terapêuticas. Pensando nisso, estamos realizando parcerias com instituições e fundos privados e públicos na área de direitos humanos", diz Déborah Sathler, idealizadora do projeto.

A ideia surgiu em 2016, quando Déborah, jornalista, escritora e pesquisadora de identidade, gênero e etnia, finalizou seu mestrado no Rio e voltou ao estado, onde passou a atuar em fóruns de violência contra a mulher e apresentar sua pesquisa sobre a história das mulheres capixabas e o machismo que mata.

Em pesquisas com mulheres do congo capixaba e operárias para escrever dois livros, Déborah colheu histórias de sexismo, assédio sexual, violência verbal, física, doméstica e no ambiente de trabalho. E detectou a necessidade de criar um projeto voltado para essas mulheres. Decidiu, então, reunir um grupo de ativistas de direitos humanos junto com sua mãe, Helenice Nicchio, que atua há mais de 30 anos na área dos direitos das mulheres e que cedeu a casa que sedia a instituição.

Terapia cognitiva e arteterapia

O objetivo do Instituto Casa Lilás é trabalhar as emoções das mulheres afetadas por violência e melhorar a condição de saúde mental delas, promovendo ações para prevenir a violência e também o abuso de álcool e outras substâncias, por meio da terapia cognitiva e da arteterapia.

Estudo das psicólogas Mariana Pedrosa de Medeiros e Valeska Zanello, da Universidade de Brasília (UNB), relata que a violência de gênero tem sido fortemente associada a prejuízos na saúde mental das mulheres, como quadros de depressão, ansiedade, fobias, transtorno pós-traumático, suicídio e problemas alimentares.

As representantes do instituto frisam que a saúde mental, historicamente, é envolta de tabus e de difícil acesso e que há um mito de que é para ricos, como se a mulher comum, trabalhadora, que enfrenta os males causados pelo machismo todo dia, em ambientes públicos e privados, não precisasse de terapia. "O machismo adoece, gera raiva, sofrimento e dor emocional", diz Déborah.

"As terapias cognitivas e a arteterapia [que vamos oferecer] vêm no intuito de oferecer bálsamos, acolhimento, tratamento aos danos mentais e uma rede de suporte para quem sofre violências de gênero."