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Após diagnóstico de psoríase, ela decidiu criar sua marca de maquiagem

Arielle Morimoto - Divulgação
Arielle Morimoto Imagem: Divulgação

Marcelle Souza

Colaboração para Universa

28/10/2020 04h00

A relação de Arielle Morimoto, 28, com a maquiagem começou quando ela era bem pequena e ainda usava os produtos da mãe para se transformar nas princesas da Disney. "Eu sempre gostei muito de base, batom, delineador, mas comecei a usar mais quando entre na faculdade, porque era um espaço que me gerava muita insegurança, e a maquiagem funcionou como uma válvula de escape", conta.

Apesar de apaixonada por make, desde a adolescência essa era uma relação complicada para Arielle por conta de acne e dermatite. Aos 15, ela foi diagnosticada com psoríase, uma doença inflamatória autoimune, que causa lesões avermelhadas na pele, que começaram a piorar com o estresse da faculdade.

"Quando você tem psoríase, a pele sofre uma descamação e alguns produtos convencionais pioram muito esse quadro. Às vezes, eles deixavam o meu rosto sangrando, em carne viva", explica.

Foi aí que ela começou a pesquisar ingredientes, testar marcas e descobrir quais formulações não agrediam a sua pele. "Encontrei alguns produtos que não pioravam meu quadro, mas nem todas tinham a performance que eu queria e nenhuma marca era brasileira", conta.

Nessa época, ela já tinha terminado o bacharelado em ciência e tecnologia na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), cursava engenharia de materiais, e a maquiagem era apenas um hobby. Vez ou outra fazia disciplinas no curso de engenharia biomédica, para aprender mais sobre formulações, biodisponibilidade de materiais e alternativas aos testes em animais.

Só que um dia ela decidiu jogar tudo para o alto, largar o curso de engenharia e se mudar de São José dos Campos para São Paulo para trabalhar como maquiadora. "Eu gosto muito de maquiar outras pessoas, transformá-las, desmistificar o uso dos produtos. Trabalhei com isso por dois anos, mas ainda não era exatamente o que queria", diz Arielle, que na infância sonhava em ser engenheira aeronáutica.

Arielle - Divulgação - Divulgação
Arielle Morimoto na feira vegana em Victoria, no Canadá, em 2019
Imagem: Divulgação

Produtos sob medida

A nova virada aconteceu em 2016, quando Arielle foi pesquisar a fundo o mercado de cosméticos naturais e veganos no Brasil. Estava prestes a embarcar para o Canadá, onde faria um curso de maquiagem, mas decidiu ficar no Brasil e, com o apoio da mãe, fundar a sua própria marca, a Arielle Morimoto Cosmetics.

A primeira linha foi lançada em 2018 na Bio Brazil Fair, uma feira de produtos orgânicos. A marca oferece hoje itens como batons, pós compactos e lápis de olhos feitos com ingredientes orgânicos, naturais e com o uso de biotecnologia, e que não são testados em em animais.

"Consegui aliar a minha formação em ciência com a maquiagem, e descobri uma paixão pela formulação de produtos. Eu assino a fórmula de alguns, e outras desenvolvi com os laboratórios parceiros", conta.

Além dela, responsável pelo desenvolvimento de produtos, colaboram hoje na empresa a mãe de Arielle, no financeiro; o namorado, que fica na logística e expedição; e a prima, com vendas e criação de novos itens. Nos primeiros 18 meses, foram investidos R$ 850 mil em embalagens, viagens para pesquisa, livros, construção do e-commerce, design do logo, laboratório e serviços de logística. O montante ainda não foi recuperado integralmente.

"Desde que começamos, vi muitas marcas abrirem e fecharem. Isso é muito chato, ninguém abre um negócio pensando que vai dar errado", diz. "Eu percebi que estávamos em um bom caminho quando, no meio do ano passado, começou a ter muita procura de lojistas pelos nossos produtos, e até então era o contrário."

Nesse processo, Arielle diz que aprendeu duas coisas: a receber críticas e a entender que os produtos e cores que ela gosta nem sempre são os que os clientes precisam. "No começo, eu não sabia lidar com feedback negativo, porque ninguém te ensina isso. Eu ficava chateada, achava que era pessoal. Hoje a minha relação é mais profissional, tento entender, ver o lado positivo, respondo de forma amigável", diz.

"Eu gosto muito de make colorida, mas tenho que pensar no dia a dia, no ambiente de trabalho, unir o que me agrada com o que os outros gostam também. Tenho bastante diálogo, aprendo muito com as sugestões e tem produto que só falta batizar o nome do cliente."