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Sabrina Parlatore em live sobre câncer de mama: É importante dividir a dor

De Universa, em São Paulo

27/10/2020 21h17

Universa e o Instituto Avon transmitiram na noite de terça (27) o evento Giro Pela Vida, um bate-papo com personalidades como a apresentadora Sabrina Parlatore, a ex-modelo e empresária Luiza Brunet, a jornalista Mariana Ferrão e o médico Drauzio Varella sobre câncer de mama, marcando o fim do Outubro Rosa, movimento de conscientização para o controle do câncer de mama.

A live trouxe, também, outros médicos e mulheres que foram diagnosticadas com a doença e promoveu dois debates: "Vamos falar abertamente sobre o câncer de mama" e "A jornada da paciente com câncer de mama".

Sabrina Parlatore, que apresentou o evento e também enfrentou a doença, falou sobre a importância de dividir as dores e as dúvidas com outras mulheres com o mesmo diagnóstico:

"Não foi fácil passar pela doença, pelo tratamento, e naquele momento, me sentindo muito frágil, eu achava que eu não precisava dividir minha experiência com o público. Primeiramente, porque eu achava que era algo muito particular, e também porque eu não tinha condições de falar".

"Mas eu comecei a sentir necessidade de dividir a minha história com outras mulheres, conhecer outras histórias, trocar experiências. Comecei a me corresponder com essas outras mulheres no Brasil e em outros países, e percebi a importância daquela troca de experiências, porque não me sentia mais sozinha".

Luiza Brunet conversou com consultoras de venda da Avon e a cantora Elba Ramalho, que também enfrentou e se curou do câncer de mama, encerrou o Giro Pela Vida cantando para quem acompanhou a live.

"Vamos falar abertamente o câncer de mama"

A jornalista Mariana Ferrão, que mediou a primeira conversa, lembrou que o câncer de mama atinge especialmente mulheres acima de 50 anos, mas que as jovens também estão sujeitas ao diagnóstico. E que, quanto antes esse diagnóstico for feito, maiores são as chances de cura.

A oncologista e mastologista Rita Dardes, a advogada Maria Paula Bandeira e a jornalista Mariana Ferrão - Reprodução - Reprodução
A oncologista e mastologista Rita Dardes, a advogada Maria Paula Bandeira e a jornalista Mariana Ferrão
Imagem: Reprodução

É o caso da advogada Maria Paula Bandeira, que descobriu a doença aos 24 anos, seis meses depois de se casar: "Eu fazia os exames religiosamente. Em abril de 2011, minha irmã, que é fisioterapeuta, percebeu o nódulo em mim", lembra.

"Como eu descobri precocemente, o nódulo era bem pequeno ainda, tinha nove milímetros. Fiz a cirurgia, a quimioterapia, a radioterapia, mas anos depois, em 2016, recebi o diagnóstico de câncer de mama metastático", lembra.

A jovem compara as duas experiências com a doença:

"Em 2011 eu contava 'menos uma quimio', agora eu conto 'mais uma quimio'. É uma alegria para mim quando chega o dia de fazer quimioterapia. Aos 24 anos, eu tinha muita pressa, sentia que a vida das pessoas estava passando e a minha estava parada. Hoje eu percebo que não é uma pausa, eu preciso viver da melhor maneira possível".

"O câncer de mama é o câncer mais temido entre as mulheres brasileiras, é o que mais causa mortalidade e afeta a feminilidade, porque afeta um símbolo sexual, que é o seio, e também a autoestima da mulher", destacou a oncologista e mastologista Rita Dardes.

Maria Paula lembrou que, quando recebeu o segundo diagnóstico, aos 29, via amigas se casando, tendo filhos, sendo promovidas no trabalho, e por isso se sentia sozinha ao longo do tratamento. Ela encontrou em outras pacientes com câncer de mama força e segurança.

"A gente precisa ser generosa com a gente, adaptar os sonhos para realidade que se apresenta. Muita coisa saiu diferente do que eu tinha planejado, mas não menos especial, não menos bonito, só diferente".

Rita Dardes lembrou: "O câncer de mama é uma doença crônica, mas a gente tem ferramentas de imunoterapia, hormonoterapia, quimioterapia, radioterapia... Temos diversidade de tratamentos e, por isso, o câncer não é uma sentença de morte, a gente consegue conviver com o câncer de mama com qualidade de vida".

Tanto médica quanto paciente defenderam que a informação pode salvar a vida de muitas mulheres.

"É necessário que o paciente se sinta parte do seu próprio tratamento, entenda os efeitos dos remédios, entenda o que fazem os tratamentos. Os profissionais de saúde não têm bola de cristal pra adivinhar o que a gente está sentindo, então a gente tem que falar com o médico, perguntar tudo", aconselhou Maria Paula.

"Toda mulher deveria ser um pouco jornalista e investigar a si mesma"

Tatiana Schibuola, gerente geral de marcas editoriais do UOL, à frente dos canais Universa e VivaBem, defendeu que todas as mulheres tenham um "olhar de jornalista" sobre si mesmas.

Tatiana Schibuola no evento da Avon - Reprodução - Reprodução
Tatiana Schibuola, gerente geral de conteúdos editoriais do UOL, no Giro Pela Vida
Imagem: Reprodução

"As técnicas do jornalismo servem para todo mundo. Se você quiser fazer jornalismo de si mesma, você primeiro identifica um fato, depois corre para a apuração: qual é a sua história, qual é a história da sua família, o que te trouxe até aqui? Quais são os principais fatos envolvidos? E aí você se pergunta: qual é a manifestação que está acontecendo dentro de você?

E prepara um roteiro de cobertura: tenta observar o que está acontecendo com você com algum distanciamento, tem que ser objetiva para observar sem julgar ou se sentir culpada, encara o espelho como se fosse outra pessoa, e pergunta a si mesma, como se fosse uma fonte: o que você está sentindo? Por que está reagindo desta maneira? Aí você volta e tenta organizar as informações. Será que esse problema é só seu ou pode ser de outras mulheres?

Por fim, eu sugiro que você escreva e guarde um registro do que você está sentindo. Toda vez que a gente escreve uma reportagem, a gente volta para tudo aquilo que a gente já escreveu sobre o tema: o que a gente já sabe? O que de novo a gente pode aprender? E você pode fazer a mesma coisa quando algo novo te afligir. No final, o relato que você construir é a sua verdade, um retrato de si mesma".

Para Tatiana, mulheres que encaram o câncer de mama e compartilham suas histórias "fazem jornalismo de si mesmas". Mas ela lembra: "A gente não precisa esperar uma coisa dessas acontecer para olhar para dentro".

"A jornada da paciente com câncer de mama"

Drauzio Varella, oncologista e escritor que participou da mesa ao lado da comunicadora Charô Nunes, autora do Blogueiras Negras, e de Luciana Holtz, psico-oncologista e presidente do Instituto Oncoguia, destacou a diferença entre a jornada das mulheres que se tratam pelo SUS e pelo sistema particular de saúde.

"Se a paciente tem um bom convênio, marca a mamografia às vezes até pro mesmo dia da consulta, dois ou três dias depois no máximo. A gente [médico] vê e fala o que tem que fazer, recomenda a biópsia, que acontece em mais dois ou três dias. E você, em no máximo duas semanas, tem o diagnóstico e a cirurgia marcada", disse.

"Como acontece no SUS? Quando percebe o nódulo, a mulher vai até uma UBS [Unidade Básica de Saúde], e lá vai seguir a mesma rotina. A mamografia vai acontecer em duas ou três semanas, depois ela tem que remarcar para levar o resultado ao médico da UBS, e o médico que vai encaminhar para a biópsia. Não é fácil marcar, vai levar mais algum tempo. O resultado demora, o que não só retarda o diagnóstico como deixa essa mulher na angústia, à espera do resultado", comparou Drauzio.

"Em cada etapa, há espera, demora, retardo no diagnóstico. Isso explica porque mais da metade das mulheres levam acima de dois meses para começar a receber o tratamento".

O oncologista Dráuzio Varella, a comunicadora Charô Nunes e a oncologista Luciana Holtz - Reprodução - Reprodução
O oncologista Dráuzio Varella, a comunicadora Charô Nunes e a oncologista Luciana Holtz
Imagem: Reprodução

Charô Nunes, comunicadora, fez um relato pessoal de como o racismo pode se tornar mais um obstáculo nesta trajetória entre o diagnóstico do câncer de mama e a cura da doença.

"Eu não consigo contar minha história sem falar de racismo estrutural. Eu comecei a sentir dores e a notícia que eu tive dos médicos foi de que aquilo era uma crise nervosa. Passei um ano inteiro buscando o diagnóstico e ouvindo dos médicos: 'Câncer não dói'".

Ela continua: "Tive que brigar muito, até que o médico, que estava tão cansado de ver meu corpo na frente dele, me passou a guia para uma mamografia digital. Eu fiz o exame na rede particular, que nem sempre acolhe os corpos negros, muito pelo contrário. E aí eu tive o diagnóstico. Eu digo que não recebi o diagnóstico, eu lutei por ele".

Àquela altura, Charô já estava com a doença em estágio mais avançado e ouviu, como recomendação médica, que deveria "correr com o tratamento", porque o nódulo era agressivo.

"Como a gente vai falar de atividade física e dieta equilibrada quando o preço do arroz está do jeito que está?", questionou a ex-paciente oncológica. "Como vamos falar de direito à saúde se o médico sequer toca o nosso corpo na consulta?"

Drauzio Varella deu um conselho para mulheres que enfrentam ou enfrentaram o câncer de mama: "O medo não pode ser um companheiro para o resto da vida".

"As mulheres que têm câncer de mama e estão passando por tratamentos agressivos levam muito tempo para criar confiança em seu próprio corpo. Há necessidade de passar anos, décadas, até ela se convencer que está definitivamente curada", fala. "Você foi operada, fez o tratamento direitinho, então aqui nesse momento você tem que se considerar curada. Não pode ficar com o pensamento lá na frente, tem que aproveitar bons momentos com a família, namorado, marido, pessoas que você gosta".

O médico contou, ainda, que é comum que mulheres diagnosticadas se culpem pelo câncer, acreditando em teorias de que excesso de tristeza ou de mágoas causa o tumor. Ele nega que exista alguma relação:

"Se passa pela sua cabeça um pensamento desses, joga no lixo. Você não tem culpa nenhuma do que aconteceu com você".

O Giro Pela Vida é uma plataforma criada pelo Instituto Avon para informar e ajudar a prevenir o câncer de mama. Esta foi a 8ª edição do evento, que aconteceu pela primeira vez de forma totalmente digital.

Cada pessoa que acessou a live ao vivo gerou uma doação do Instituto Avon para uma organização que apoia a causa do câncer de mama.