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Ela já capacitou mais de 5 mil mulheres para trabalhar na construção civil

Maria Beatriz Kern: vontade de melhorar a vida de outras mulheres - Divulgação
Maria Beatriz Kern: vontade de melhorar a vida de outras mulheres Imagem: Divulgação

Hygino Vasconcellos

Colaboração para Universa, de Porto Alegre

16/10/2020 04h00Atualizada em 21/10/2020 12h10

O gosto pela construção civil ela herdou da mãe, que vivia reformando a casa com trabalho próprio. Já a vontade de melhorar as vidas alheias surgiu durante os anos de trabalho no serviço público. Unindo as duas características, a gaúcha Maria Beatriz Kern, 62, arregaçou as mangas e criou a ONG Mulher em Construção, iniciativa que oferece cursos ao público feminino para trabalhar na construção civil e já capacitou mais de 5 mil alunas.

Para começar o projeto, em 2006, ela fez uma aposta alta: vendeu a casa onde vivia em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre. Com o dinheiro em mãos, chamou arquitetos, engenheiros e pedreiros para elaborar uma metodologia específica para os cursos: aulas práticas de curta duração diária e voltadas a quem está em vulnerabilidade social. "A ideia é que elas aprofundem e ampliem os conhecimentos que trazem de casa", diz Maria Beatriz.

Alunas da ONG Mulher em Construção em ação - Divulgação - Divulgação
Alunas da ONG Mulher em Construção em ação
Imagem: Divulgação

Após dois anos aperfeiçoando o projeto, foram abertas as inscrições para a primeira turma: de pintura de paredes. Nada menos que 300 mulheres apareceram para preencher as 25 vagas. "Isso fez brilhar os meus olhos", afirma ela, que prefere ser chamada de Bia. Elas se tornaram pedreiras, mestres de obras, azulejistas, entre outras profissões do ramo. Muitas acabaram sendo contratadas ainda durante o curso por "olheiros" de construtoras, interessados no trabalho meticuloso e cuidadoso das mulheres. "Hoje a gente não dá conta da demanda por profissionais", conta.

Já no primeiro curso, a gaúcha percebeu ensinar a prática do trabalho era importante, mas suas alunas tinham carências que iam além desse tipo de capacitação. "Muitas não sabiam como chegar ao mercado de trabalho. Elas tinham diversas dificuldades, desde conduta pessoal até a definição do preço dos serviços que ofereceriam". Assim, o Mulher em Construção foi se expandindo e criando cursos específicos para esse tipo de finalidade também, além de oferecer outros tipos de ajuda às alunas.

Bia fez contatos com celebridades e grandes empresárias, como Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, que conheceu em um evento em São Paulo em 2012, e conseguiu mais apoio. Com isso, criou também o projeto Cimento e Batom, que oferece até suporte financeiro e passagens de ônibus para elas não desistam do curso.

Em 2015, ela foi para os Estados Unidos a convite da Brazil Foundation para dar uma palestra sobre o negócio. "A viagem reafirmou minha crença de que cada vez mais temos que acreditar e apoiar as mulheres, que uma pode ajudar a outra. Temos muito a contribuir", diz.

Auxílio financeiro durante a pandemia ? até Gisele Bünchen apoiou

A pandemia, é claro, mudou um pouco o rumo das coisas. Mas não tirou o ânimo de Bia. Com as aulas presenciais suspensas e com alunas com dificuldades financeiras, a gestora pública decidiu correr atrás de recursos para distribuir vouchers (uma espécie de ajuda de custo) para elas. Criou, então, uma campanha on-line e entrou em contato com as empresas que antes a auxiliavam a custear os cursos. Até Gisele Bünchen contribuiu. "Fiquei tão feliz quando vi que até ela estava nos ajudando!"

De 1,5 mil mulheres cadastradas, Bia identificou 250 que estavam em uma situação mais crítica. Elas foram atendidas com prioridade, mas, no total, 400 receberam e continuam recebendo ajuda mensal que varia entre 120 e 200 reais. Também foram distribuídas cestas básicas com o apoio de voluntários.

Passada à pandemia, a ideia é levar o projeto para São Paulo e lançar uma nova modalidade de curso, chamado de Divas da Construção Civil. Serão aulas gratuitas em comunidades periféricas restritas a grupos pequenos, de, no máximo, seis mulheres, para evitar aglomerações. Segundo Bia, a ideia é motivar donas de casas dispostas a reformar a própria residência e incentivá-las a entrar no mercado de trabalho da construção civil. Para o projeto sair do papel, a gestora pública agora corre atrás de empresas interessadas em financiar a iniciativa.