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Projeto oferece atendimento psicológico a candidatas LGBTQ+ e negras

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

16/10/2020 04h00

A violência política é um percalço na trajetória de mulheres que entram para a vida pública. A situação é ainda pior quando se trata de candidatas negras, lésbicas e transexuais, grupo que, mesmo fora da vida pública, já é alvo constante de todo tipo de violência. Boa parte delas já sofreu ameaças de morte ou estupro e até mesmo agressões físicas.

Pensando em diminuir as dificuldades delas durante o período de campanha, surgiu o Escuta Candidata. Trata-se de um serviço de atendimento psicológico gratuito para mulheres lésbicas e bissexuais, heterossexuais negras, pessoas trans e não binárias de todo o país. Brancas heterossexuais não serão atendidas.

"Com o aumento da violência e da polarização, sobretudo a partir das eleições de 2018, candidaturas de grupos minorizados vêm sofrendo ataques e ameaças físicos e virtuais que trazem complicações ao exercício livre da cidadania e da concretização de projetos políticos baseados na defesa dos direitos humanos e da diversidade", diz a psicanalista Lívia Lourenço Dias, coordenadora clínica deste e de outros projetos da Casa 1, primeira casa de acolhimento do país para pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade. Fundada em 2017, ela já esteve sob risco de fechar as portas por dificuldades financeiras e hoje funciona também como centro cultural.

Para mostrar a gravidade do assunto, Lívia cita os dados de um levantamento realizado pela União Parlamentar Internacional (IPU), em 2018. Na ocasião, os pesquisadores entrevistaram 55 parlamentares em 39 países, incluindo o Brasil. Delas, 82% declararam ter vivido algum tipo de violência psicológica; 44% receberam ameaças de morte, estupro, espancamento ou sequestro; 26% sofreram violência física dentro das casas legislativas; e 39% disseram que a violência política dificultou ou impediu a implementação de seus mandatos e sua liberdade de expressão.

O Escuta Candidata funciona conta com dez psicólogas (só mulheres) treinadas para realizar atendimento emergencial, por vídeo, uma vez por semana. A expectativa é receber 30 mulheres por semana até o fim das eleições. Além da terapia emergencial, o serviço está pronto para oferecer também suporte jurídico e pacote de dados de internet para ajudar nas campanhas.

Livia Lourenço - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Lívia Lourenço Dias, coordenadora da Clínica Social Casa 1 e do Centro de Acolhida e Cultura Casa 1
Imagem: Arquivo pessoal

Para garantir o suporte às candidatas e o pagamento das profissionais envolvidas — além das dez psicólogas, duas supervisoras e três coordenadoras —, a Casa 1 está organizando um financiamento virtual que encerra hoje. Até o fim do dia, a expectativa é de arrecadar R$ 88,8 mil. Até o momento, 84% da meta foi atingida.

"A representação de mulheres na política é muito pequena, especialmente se pensamos que as mulheres são maioria na população e no eleitorado. Quando falamos de mulheres negras, lésbicas, bissexuais e transexuais, por exemplo, os números são ainda menores", lembra Lívia Lourenço.

Aumentar essa representatividade é fundamental para a garantia de direitos femininos e de igualdade de gênero. "Dados [da plataforma #MeRepresenta, sobre as eleições de 2018] apontam que mulheres são muito mais favoráveis a pautas relacionadas a mulheres, como por exemplo, o aborto e o apoio a financiamentos públicos de campanha de mulheres negras".