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Na pandemia, casal de lésbicas fez da cozinha de casa a Sapadaria; conheça

Catharina Fisher e Gabriela Ribas Imagem: Arquivo pessoal

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

14/10/2020 04h00

O que pão e sexualidade têm a ver? Tudo. Pelo menos na vida do casal formado pela chef de cozinha Catharina Fisher, 30, e pela confeiteira Gabriela Ribas, 25. Vivendo ainda mais juntas durante a quarentena, elas não escaparam do clichê pandêmico e passaram a gastar mais horas na cozinha. Só que a experiência foi um pouco além.

Catharina, que é neta de padeira, colocou em prática uma receita típica de família. A primeira fornada deu errado, mas as outras ficaram uma delícia. As duas, então, tomaram tanto gosto que acabaram criando um negócio: a Sapadaria - um nome que mistura as palavras "sapatão" e "padaria".

"Sempre fizemos muita questão de colocar a nossa sexualidade nos espaços que ocupamos. Acreditamos que é muito importante se posicionar, pois isso nos fortalece e fortalece outras pessoas, ainda mais em tempos tão incertos. Nada mais natural, então, que o nosso negócio tenha essa representação explícita", afirma Gabriela.

Hoje, três meses depois de nascer, a Sapadaria vende em média 50 pães de fermentação natural por semana, além de bolos, doces, patês e caponata. Tudo é produzido na cozinha do apartamento do casal em São Paulo, a quatro mãos e em forno doméstico. Para dar conta da produção, elas acordam entre 4h e 6h, assam os pães, fazem as entregas de moto no mesmo dia, durante a tarde, e sovam as encomendas programadas para o dia seguinte.

Imagem: Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

A alta demanda e a rotina apertada fizeram Catharina deixar o cargo de subchef em um restaurante, do qual estava afastada por conta da pandemia, para se dedicar apenas ao próprio negócio.

"Sinto que esse é o momento para ter um negócio nosso. Por mais que essa seja uma época tão incerta, para uma padaria artesanal, é um bom momento. Na quarentena, todo mundo começou a entender o que é comer bem, passou a perceber que a gente acaba comendo muita porcaria numa rotina normal. Também rolou um movimento de valorizar pequenos negócios, comprar de quem faz, então por que não fortalecer a nossa comunidade [LGBTQIA+]?", diz Catharina.

O pão da Sapadaria, Gabriela conta, acaba ganhando outra função além de alimentar: o casal recebe com frequência relatos de mulheres que querem mandar um presente pra crush que está longe.

"Eu acredito que as meninas encontram na Sapadaria uma segurança que elas não encontrariam numa padaria tradicional. Geralmente elas querem incluir um bilhetinho, o trecho de uma música, algum afeto, e precisam se sentir confortáveis, seguras de que não vai haver nenhum tipo de assédio nem na hora do pedido, nem na hora da entrega".

O Pão Que o Viado Amassou

Gabriel Castro é um multiartista: ator, DJ, professor de teatro e de circo. A pandemia, no entanto, paralisou todas as quatro atividades. Foi, então, que ele viu na produção de pães uma saída para se manter. E, por motivos semelhantes aos de Catharina e Gabriela, batizou seu negócio de O Pão Que O Viado Amassou.

"Por que não distribuir pães, ajustar minhas contas e fazer com que esse alimento entre na casa das pessoas como um veículo para uma reflexão? Por que não deixar as pessoas saberem que estão comendo um pão feito por um gay? O nome escancara a visibilidade para a comunidade LGBTQ+, desperta um olhar mais carinhoso para quem está aí querendo ser quem é, querendo amor e respeito. Sei que não vou curar a homofobia, mas é bonito ver que a discussão de fato acontece. E ter o pão como instrumento disso é uma delícia", diz.

Imagem: Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

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