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Modelo trans viraliza ao celebrar contratação por uma marca de biquínis

Lua Alice foi contratada como embaixadora de uma marca de biquínis - Reprodução / Instagram
Lua Alice foi contratada como embaixadora de uma marca de biquínis Imagem: Reprodução / Instagram

Ana Bardella

De Universa

05/10/2020 17h42

A modelo Lua Alice Falcão tem 26 anos e usou sua conta no Twitter para celebrar, no início do mês, duas de suas conquistas recentes: se tornar embaixadora de uma marca de biquínis e ser um contratada como assistente de atendimento por uma escola de inglês. "Prosperidade travesti é isso, emprego, visibilidade e dignidade!", escreveu.

Em entrevista à Universa, Lua explica por que estas conquistas têm tanta importância na sua trajetória. "Eu me reconheço enquanto pessoa trans desde os 15 anos. Só que nesta fase tentei me abrir com algumas pessoas que eram próximas e elas me desencorajavam a passar pelo processo de transição. Argumentavam que, se levasse a ideia adiante, acabaria marginalizada e minha única alternativa de vida seria a prostituição. Diziam que eu iria perder parentes e amigos. Tive muito medo, então adiei a decisão o máximo que pude".

O adiamento, no entanto, não foi benéfico para Lua. Com o passar dos anos, ela desenvolveu um quadro depressivo e passou a sentir aversão ao toque. "Não me sentia confortável com meu corpo, então não me relacionava. Aos 18 anos, mudei de cidade e comecei a trabalhar em uma loja no shopping. Ali iniciei o processo timidamente, tomando apenas alguns hormônios. Eu sabia que, antes de completar a transição, precisava ter um pouco de dinheiro guardado, porque a empregabilidade seria quase zero", conta.

Quando finalmente tomou coragem para se tornar Lua, ela se mudou mais uma vez de cidade, pois não queria estar perto de pessoas conhecidas. Passou um ano e meio no Rio de Janeiro e, quando retornou para o Espírito Santo, voltou a morar com a mãe e passou a viver de bicos como modelo. "Muitas das marcas não queriam me empregar, mesmo que meu perfil se encaixasse exatamente na descrição daquilo que estavam procurando. Quando aceitavam, diziam que iriam fazer pela minha visibilidade, mas sem oferecer nenhum tipo de cachê", relembra.

A situação se estendeu por algum tempo. "Comecei 2020 triste porque já estava tentando desenvolver uma carreira como influenciadora há algum tempo, mas sempre me deparava com este tipo de situação. Até que um dia criei coragem para conversar com uma marca que já acompanhava. Entrei em contato com eles e expliquei minha trajetória de vida, enfatizando o quanto vinha lutando para me desenvolver na profissão", diz.

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Ela se surpreendeu ao receber uma resposta positiva da empresa, dizendo que tinha interesse em conhecer melhor o seu trabalho. Após alguns testes, se tornou embaixadora da marca. "Para mim, foi chocante e maravilhoso. A gente entende que muitas delas não querem ser associadas aos nossos corpos por medo de perder vendas, mas esta se mostrou inclusiva. Enxergou que, se a ideia é conversar com mulheres, então o correto é dialogar com todos os tipos de mulher".

Paralelamente, Lua conversou com uma amiga, que também é trans, sobre suas dificuldades e lhe enviou um currículo. "Meu CV foi encaminhado a uma escola de inglês que está montando uma equipe com travestis. Passei por um processo seletivo e no mesmo dia descobri que seria contratada", diz.

"Sendo uma travesti negra, conseguindo abrir novos espaços, sinto que estou fazendo algo revolucionário e maravilhoso, embora ainda tenha consciência de que é pouco. Nos é tirado o direito ao afeto, ao estudo, ao respeito e a ter uma dignidade. Precisamos que mais marcas nos contratem, pagando cachês. Queremos ser vistas enquanto seres pensantes, com capacidade para atuar em qualquer área, seja como modelo, seja em escritório. Precisamos normalizar nossos corpos para sermos vistas de dia, trabalhando, e não somente como fetiches à noite. Queremos amar, ser amadas e respeitadas. Isso é prosperidade travesti. Desejo ver mais mulheres como eu ocupando cargos altos, se formando na faculdade e tendo trabalhos incríveis. Não sendo espancadas e mortas".