Khloé Kardashian é criticada por suposto blackfishing em campanha de beleza
Khloé Kardashian acaba de estrear a campanha de um serviço mensal de assinatura de beleza. A divulgação da estreia da influenciadora americana como a nova embaixadora da Ipsy aconteceu nas redes sociais, ao lado da estrela do TikTok Addison Rae. No entanto, o que mais chamou a atenção do público não foram as novidades de maquiagens e cosméticos e nem o vídeo do anúncio, e sim como as fotos de Khloé estavam manipuladas, deixando sua pele especialmente mais escura.
A polêmica foi parar entre os assuntos mais comentados do Twitter, onde a maioria das pessoas comparou as fotos de Khloé para a recente campanha com Beyoncé.
As críticas, em sua maioria, giram em torno do fato de Khloé estar supostamente fazendo "blackfishing", termo que se refere ao ato de simular a estética negra para conquistar marcas ou seguidores, por exemplo. O termo é derivado do "catfishing", quando uma pessoa cria uma identidade falsa para enganar os outros.
Além do escurecimento da pele por meio de maquiagem ou procedimentos estéticos, o "blackfishing" pode incluir também tranças afro ou cabelos artificialmente crespos, por exemplo, além de lábios engrossados.
Esta não é a primeira vez que a família Kardashian é acusada de se apropriar da cultura negra. Em dezembro de 2019, Kim Kardashian surgiu com a pele mais escura e com os cabelos enrolados e penteados para cima em uma capa da revista americana 7 Hollywood. Em 2017, ela sofreu diversas críticas ao lançar uma campanha para os kits de contorno da KKW Beauty, sua marca de beleza, pelo mesmo motivo.
Além disso, ela sempre aparece usando tranças, o que também esbarra na discussão de blackfishing/apropriação cultural. Kylie Jenner, por sua vez, investe em preenchimento labial há anos. O chamado "efeito Kardashian", inclusive, é comumente ligado ao crescimento do número de jovens que buscam cirurgias plásticas e procedimentos estéticos a fim de aumentar os lábios ou os glúteos, por exemplo.
No início do ano, em entrevista a Universa, a arquiteta, escritora e militante negra Stephanie Ribeiro, 25, de Araraquara (SP), comentou a questão: "É muito simbólico sobre como elas não são mulheres negras, mas estão sempre trabalhando em procedimentos estéticos para engrossar os lábios e aumentar os glúteos e em bronzeamento artificial para escurecerem".
No Brasil, o termo "blackfishing" tem ganhado destaque. Em 2017, as buscas no Google por cabelo cacheado superaram, pela primeira vez, as pesquisas por cabelos lisos no Brasil, enquanto o interesse por cabelo afro havia crescido mais de 300% desde 2015. Segundo Stephanie, este aumento de popularidade, não limitada ao Brasil, por uma estética muito ligada à população negra e que, por muito tempo, foi marginalizada, teria chamado a atenção de pessoas que não são necessariamente negras, mas que gostariam de explorar a popularização deste nicho —como as Kardashian podem estar fazendo.
O grande problema é que, neste movimento, essas influenciadoras acabam roubando potenciais contratos de patrocínio e parcerias com marcas das mulheres negras, tirando proveito pessoal do crescimento que a representatividade negra tem tido nos debates raciais.
Para a relações-públicas Vitória Costa, 23, outra questão que deve ser levada em conta é o fato de as Kardashians terem um alto poder de influência no mundo inteiro. Por isso, conforme elas vão se apropriando de traços negros, vão influenciando outras pessoas a fazerem isso também. "Vira uma referência", diz Vitória.
Ela continua: "Apropriação cultural e 'blackfishing' são discussões que se complementam e vão muito longe. Mas o ponto principal é: as pessoas não entendem que não é só uma questão estética. Estamos falando de princípios culturais e de traços físicos reais dos negros. Não acho que esse movimento vá gerar consciência, pelo contrário. Ele viralizou de forma a apagar os traços das pessoas negras —porque na gente eles eram motivo de chacota, mas nas brancas é válido. Depois que passou pelo branco, virou bonito".
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