Topo

Mãe não julga: sair ou não sair com as crianças na quarentena?

Imagem: Giovana Granchi/UOL
Imagem: Imagem: Giovana Granchi/UOL

Manuela Aquino

Colaboração para Universa

21/09/2020 04h00

Depois de seis meses dentro de casa, vivenciando uma rotina puxada com home office, aulas online e cuidados com a casa, muitas mães sentiram alívio com o relaxamento do isolamento social. Restaurantes, parques e hotéis abertos pareciam o paraíso para um descanso e um relaxamento para repor as energias para um período que promete ainda ser longo. Algumas mães compartilharam nas redes sociais suas aventuras, com segurança, outras ficaram com vergonha.

Também tem aquelas que preferem estender um pouco mais o isolamento total por conta dos números de morte ainda altos, como forma de dar seu exemplo para as crianças ou por medo de espalhar o vírus para outras pessoas. Para entender como foi essa escolha de sair e como foi a opção de ficar, conversamos com estilista Luiza Pannunzio e com a administradora de empresas Ana Luisa Bartholo.

"Mãe não julga" é uma nova seção de Universa, criada para compartilhar histórias de mães que optaram por caminhos muito diferentes em determinados aspectos da criação dos filhos. Para mostrar que na maternidade não há regras, há caminhos.

Saí somente um dia com eles para dar uma volta de carro, mas não foi legal

"A gente está de quarentena desde o dia 15 de março. Desde então fomos nos organizando aos poucos para ficarmos dentro de casa. Eu, meu marido, Caetano, e meus filhos Bento, 8, e Clarice, 9. Sempre levamos uma vida offline com as crianças sem Ipad, sem celular, moramos em um casa bem longe do centro do Rio. Eu, desde que tive as crianças, passei a trabalhar em casa - trabalho com administração das lojas online para poder ficar mais com eles. Então, essa questão de trabalhar com filhos não mudou para mim.

A maior adaptação foi com a escola, que no começo exigia muitas horas dele e exigiu uma adaptação muito grande dos professores. A gente resolveu mudar de escola e eles ficaram alguns meses sem aula. Nesta fase, eles puderam brincar o dia todo e não ficaram nem um pouco entediados com a quarentena. A gente mora em um lugar que ajuda: com quintal, com duas cachorro e gato. Uma casa em que é difícil ter tédio: fazemos de tudo desde dar banho nos bichos a estender uma lona no quintal para brincar de piscina. Também cozinhamos juntos, fazemos bolos. E eles se dão muito bem juntos, são muito amigos um do outro.

Acabamos dando um celular para cada um, eu não queria, mas como trabalho com meu telefone, não dava para dividir e eles querem conversar com os amigos nos horários permitidos, assim como jogar. Eu saí somente um dia com eles para dar uma volta de carro, mas não foi legal. No farol, vi uma pessoa com uma placa 'troco máscara por comida' e comecei a chorar. Não estamos saindo para nada e fazendo as compras online.

No meio do ano, o Bento, que tem fissura labiopalatina teria uma cirurgia, mas decidimos adiar por achar arriscado o ambiente hospitalar. É uma questão que me deixa chateada, não sei se estou certa ou errada, mas é o que posso fazer no momento. Queria muito ver meus pais e meus irmãos, mas a gente fez um pacto de que nos veremos pós-vacina. Eu acredito que nós, as pessoas com quem eu convivo, nós que ganhamos esse dinheiro que temos acesso à saúde, à educação, podemos fazer o isolamento social da forma como a OMS recomenda. Eu fiz esse pacto social, talvez com uma sociedade que nem exista, de que não vou me colocar em risco e que não vou colocar os outros em risco. Eu posso fazer isso e vejo que as pessoas que conviviam comigo não seguem isso e eu sinto muito, nem sei mais o que dizer." Luiza Pannunzio, 41, empresária, Rio de Janeiro

Logo na terceira semana, começamos a flexibilizar um pouco

"No começo da quarentena, eu e meu marido, Renato e as meninas, Gabriela, 5, e Beatriz, 3, passamos a ficar em casa. No home office, a gente fez uma divisão, a gente trabalhava em períodos diferentes para que pudéssemos ficar com elas da melhor maneira. Como elas estavam acostumadas com rotina na escola, pois ficavam período integral, seguimos uma agenda com horário certo para atividades, almoço, soneca e foi muito legal. A escola entrou em férias no começo. Adaptamos algumas coisas nesse comecinho. Percebemos que o sono, por exemplo, não estava legal por conta de muito tempo em casa e incluímos atividades físicas, como balé, na rotina.

Logo na terceira semana, começamos a flexibilizar um pouco pois sentimos que estava fazendo falta para elas sair, principalmente tomar um sol. E aí, passamos a levar em uma pracinha aqui perto de casa, de carro. No início, não deixava colocar a mão em nada, nem usar os brinquedos. Como moramos em apartamento, fazia muita diferença elas poderem correr um pouco. E tem a questão da falta que elas estavam sentindo de outras crianças, principalmente a caçula. Durante uns dois meses ficamos completamente sem ver os avós, mas depois meu pai e minha madrasta nos convidaram para ir no sítio deles e como eles haviam voltado da Europa e tiveram os sintomas, achamos que não tinha problema. Ali, elas podiam correr, brincar sem máscara.

A minha mãe sofreu mais, pois mora sozinha, minha sobrinha nasceu e ela não pode conhecer. A primeira vez que a vimos foi no dia das mães, almoçamos e ficamos um pouquinho com ela, sem abraço na vovó. Com os sogros o afastamento foi mais radical, pois eles estavam mais receosos. Mas de um mês para cá, passamos a ir no prédio deles, no play para eles se verem de novo. A decisão da viagem foi muito conversada e pesquisada. Com a rotina puxada, eu pedi férias.

Aí para tirar férias e ficar indo na mesma pracinha, tudo fechado, decidimos ir à um hotel fazenda. Foi muito legal. Tiveram momentos de medo em saber que a decisão certa de estar ali, mas tomamos todos cuidados. Não tem experiência plena. Para o fim do ano, estamos pensando em viajar para uma praia, pois vai fazer bem, como fez a outra saída. Achamos desde o começo, que, aos poucos, precisaríamos voltar a viver. O não viver ia ser mais prejudicial para nós." Ana Luisa Bartholo, 43, administradora de empresas, São Paulo.