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Após sofrer assédios em Uber, ela criou vídeo para ajudar passageiras

Após sofrer assédio em Uber, Paula Albaro faz vídeo para ajudar outras mulheres - Instagram/@albaropaula
Após sofrer assédio em Uber, Paula Albaro faz vídeo para ajudar outras mulheres Imagem: Instagram/@albaropaula

Luiza Souto

De Universa

19/09/2020 16h37

Natural de Lorena, a 182 quilômetros de São Paulo, a estudante Paula Albaro, 23, conta que os dois piores assédios que sofreu foram dentro de um Uber: um em São Paulo e outro em Houston (EUA), onde mora. Para tentar ajudar outras mulheres a sair de situações parecidas, fez um vídeo em que simula uma conversa com uma amiga, para que o motorista pense que a passageira está, de fato, sendo acompanhada por alguém. O post, publicado no seu Instagram para seus mais de 19,3 mil seguidores, já tem mais de 434 mil curtidas.

Em conversa com Universa, Paula diz que onde mora não tem transporte público, e a única maneira para se deslocar é chamando um carro por aplicativo. Recentemente, sua mãe, que mora no Brasil, insistiu ao telefone que a estudante redobrasse sua atenção nesses transportes, com medo de assédio, e foi quando Paula resolveu fazer o vídeo. "Pensei em achar um meio de ao menos tentar ficar um pouco mais segura", ela explica.

A estudante relembra os momentos de tensão que viveu dentro desses transportes.

"Estava na Zona Leste de São Paulo quando fui encontrar amigas para ir a uma festa. Era quase meia-noite e chamei o Uber. Apesar de o caminho ser uma linha reta, o motorista começou a entrar em ruas desertas, e ficava perguntando se eu tinha namorado, para onde eu ia, com uma voz que me chamou atenção. Então fiquei conversando com uma amiga pelo celular e pedi que ele mantivesse o caminho que apontava pelo GPS".

"Em outro momento, já aqui nos EUA, o motorista do Uber em que entrei colocou a mão atrás do banco para tentar passar a mão na minha perna. Então pedi para ele parar o carro porque estava passando mal e que ia vomitar. Fora isso, tive vários casos de motorista falando que eu era uma preta muito bonita, que não deveria estar solteira".

Paula conta que chegou a denunciar os casos para a empresa, mas nunca teve retorno.

Vídeos para inspirar outras mulheres

Filha de uma professora e um Guarda Civil, Paula começou a trabalhar como trancista aos 15 anos, para ajudar na renda de casa. Aos 19, enquanto cursava a faculdade de Administração e trabalhava como atendente de telemarketing, passou por um processo seletivo com mais de 20 candidatos para estagiar em uma agência bancária, onde trabalhou até os 22 anos.

"Foi minha primeira e maior conquista. E depois disso, muitas pessoas perguntavam como uma mulher simples e negra se torna bancária aos 19 anos", ela fala.

Na ânsia de colecionar mais conquistas, Paula começou a juntar dinheiro para sair do país para estudar outras línguas e conhecer mais lugares. A jovem, que já morou em Washington DC e Virgínia, já se formou em inglês e hoje estuda francês.

"De novo, as pessoas me questionavam como eu consegui isso, e passei a compartilhar no Youtube minha vida como intercambista, principalmente porque não via muitas meninas negras e da minha idade fazendo isso. Eu sabia que era uma representatividade enorme", explica Paula. Seu canal tem hoje 40,7 mil inscritos.

O que a Uber diz

Em nota, a Uber diz repudiar qualquer ato de violência contra mulheres. "A empresa acredita na importância de combater, coibir e denunciar casos dessa natureza às autoridades competentes", informa.

No texto, a empresa informa que não foi possível verificar se as ocorrências mencionadas por Paula se deram em viagens com o aplicativo da .Uber, porque não possuía qualquer informação sobre a usuária ou os veículos e motoristas parceiros que permitissem identificar os casos. Foi escolha de Paula não passar os dados, mas ela reafirma que os casos aconteceram com motoristas do Uber, não de outra empresa por aplicativo.

E segue a nota.

"A empresa defende que as mulheres têm o direito de ir e vir da maneira que quiserem e têm o direito de fazer isso em um ambiente seguro. Todas as viagens com a plataforma são registradas por GPS. Isso permite que em caso de incidentes nossa equipe especializada possa dar o suporte necessário, sabendo quem foi o motorista parceiro , seus históricos e qual o trajeto realizado.

Desde 2018 a Uber tem um compromisso público para enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil, materializado no investimento em projetos elaborados em parceria com entidades que são referência no assunto, que inclui campanhas contra o assédio e podcast para motoristas parceiros sobre violência contra a mulher, entre outras ações.

Além disso, a empresa está sempre buscando aprimorar sua tecnologia para ajudar na segurança, de uma forma escalável, de seus motoristas parceiros e usuários e já possui ferramentas de segurança importantes antes, durante, e depois de cada viagem realizada por meio do aplicativo."

Na nota, a Uber informa ainda que todos os motoristas passam por uma checagem de antecedentes criminais, que os usuários do aplicativo sempre recebem notificações para conferir se as informações sobre o modelo do veículo, a placa do carro, o nome e a foto do motorista parceiro que chega ao local de embarque são as mesmas que estão no app, lembra ainda que os usuários podem compartilhar a sua localização e o tempo de chegada em tempo real com quem desejarem, além de ligar para a polícia em situações de risco ou emergência diretamente do app.

Informa ainda que conta com um processo de detecção automática de linguagem imprópria nas mensagens que são enviados no bate-papo do aplicativo, e que o usuário pode informar um problema por arquivo de áudio para a Uber.

Por fim, lembra que caso o usuário ou motorista precise reportar algum incidente, a Uber conta com uma equipe de suporte disponível a todo momento, e que a denúncia pode ser feita pelo menu de ajuda do próprio app ou pelo site uber.com/ajuda.