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Mulheres dizem ter sido agredidas e ameaçadas por advogado de Cuiabá

A influencer Mariana Vidotto quer ajudar outras vítimas de violência doméstica - Reprodução/Instagram
A influencer Mariana Vidotto quer ajudar outras vítimas de violência doméstica Imagem: Reprodução/Instagram

Vinícius Rangel

Colaboração para Universa

09/09/2020 18h24

Duas mulheres —uma médica e uma influencer— usaram suas redes sociais nos últimos dias para expor agressões, ameaças e estupros sofridos por um mesmo advogado de Cuiabá (MT) com quem as duas se relacionaram em épocas diferentes. Segundo elas, há outras mulheres vítimas do mesmo agressor. A reportagem de Universa conversou com as mulheres que revelaram a violência. O advogado nega as acusações.

Na manhã de domingo (6), a médica Laryssa Moraes usou o Instagram para denunciar o sofrimento que passou, durante pouco mais de nove meses, na relação com Cleverson Contó.

"Esse senhor me espancou brutalmente. Ele quebrou o meu nariz, ele que descolou as minhas retinas, ele que pegou um pendrive e quis me estuprar com ele. Foi ele que fez tudo isso comigo", contou Laryssa. "Estou tendo coragem de falar o nome dessa pessoa mesmo com medo de morrer porque sim, eu estou sendo ameaçada."

A médica registrou boletins de ocorrência contra o então parceiro em 2017. Ela alega que foi agredida várias vezes pelo advogado e que chegou a ter o rosto desfigurado. Por medo e por conhecer os médicos que trabalhavam no Departamento Médico Legal (DML), evitou fazer exames de corpo de delito. "Recebi soco na cara, puxão de cabelo. Batia minha cabeça na quina. Eu apanhei porque não quis fazer uma salada", diz Laryssa.

Já a empresária e influencer Mariana de Mello Vidotto teria sido um dos últimos relacionamentos de Cleverson. O término aconteceu em fevereiro desse ano, quando ela fugiu do apartamento onde moravam. A relação dos dois, ela diz, era baseada em agressões físicas e psicológicas por parte dele, além de sexo forçado durante vários dias.

"Começamos a namorar em setembro do ano passado. No início, tudo era lindo. Ele se dizia um cara de Deus, sabia a Bíblia toda. Faz a gente ser dependente dele. Ele me xingava, me agredia e ainda era obrigada a ter relação sexual com ele. Gravava a gente tendo relações. Depois, quando terminamos, ele ameaçava divulgar os vídeos se eu falasse o que sofria com ele", diz Mariana.


Ocorrências envolvem advogado desde 2015

A Polícia Civil de Mato Grosso confirmou, por meio de uma nota, que há boletins de ocorrência contra o advogado de naturezas diversas (ameaça, injúria, invasão de domicílio, perturbação) e registrados por diferentes vítimas entre os anos de 2015 e 2018.

"Por se tratar de registros antigos é possível que os procedimentos já tenham sido concluídos por parte da Polícia Civil. Mais detalhes sobre os casos não serão passados por se tratar de situações de natureza privada e para preservação das partes envolvidas", informa a nota.

Já sobre os novos casos, a Polícia Civil declarou que estão sendo apurados pelo órgão e um inquérito será instaurado para a investigação.


"Somos mais de dez vítimas"

Na última sexta-feira (4), a defesa da empresária Mariana Vidotto entrou com uma representação na Promotoria Especializada da Violência Doméstica. O pedido é para a abertura de um inquérito policial ou procedimento investigativo, além da prisão do advogado.

No documento, a defesa afirma que o advogado tem mantido contato com as vítimas e que teria ameaçado as mulheres para impedir o testemunho delas. Foi solicitada ainda a busca e apreensão de aparelhos eletrônicos na residência do suspeito, onde estariam conteúdos sexuais com os quais ele chantagearia as vítimas.

"Hoje somos mais de dez mulheres vítimas dele. Aos poucos, elas vão tomando coragem para denunciá-lo. Mas estamos com medo. Eu não saio de casa, ligo para o meu pai para pedir ajuda para resolver as minhas coisas" diz Mariana.

A médica Laryssa, também diz que se tornou refém da situação. "Hoje eu sou casada, tenho três filhos, mas meu marido não me deixa ir ao supermercado. Tenho medo de sair de casa. Tenho medo de morrer."

O Ministério Público informou, por meio de nota, que existe um processo em trâmite na 2ª Vara de Violência Doméstica em nome da Laryssa. "No que se refere à vítima Mariana Vidotto, foi protocolada na sexta-feira (4), na Coordenadoria das Promotorias de Combate à Violência Doméstica, uma Representação Criminal que está sendo analisada para as providências aplicáveis ao caso."

Advogado nega agressões

O advogado de defesa, Eduardo Mahon, nega as acusações e diz que Cleverson Contó é vítima de extorsão e denunciação caluniosa pelas ex-companheiras.

Em entrevista coletiva à imprensa na manhã desta quarta-feira (9), Mahon explicou que Cleverson possui provas que apontam a tentativa de extorsão e uma campanha de difamação contra ele.

Os argumentos estão especificados em representação criminal protocolada nesta terça-feira (8) junto à Delegacia Especializada de Violência Doméstica de Cuiabá em favor do advogado Cleverson Campos Contó. Cleverson também se colocou à disposição para ser ouvido pelas autoridades e contrapor as acusações feitas pelas duas mulheres.

OAB vai apurar denúncias

Após a divulgação das denúncias, a Comissão de Direito da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT) informou que irá instaurar processo administrativo no âmbito do Tribunal de Ética e Disciplina (TED) e acompanhará o caso.

A comissão já contatou uma das vítimas e se colocou à disposição para o acompanhamento do caso. E também vai acompanhar o inquérito policial dando apoio às vítimas envolvidas.