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Mãe não julga: filho único ou casa cheia. Existe tamanho ideal de família?

Imagem: Giovana Granchi/UOL
Imagem: Imagem: Giovana Granchi/UOL

Manuela Aquino

Colaboração para Universa

07/09/2020 04h00

A decisão sobre o número de filhos é particular mas mesmo assim as mães sempre estão expostas a comentários. "Só um, vai ser mimado e não vai ter companhia na velhice" ou "nossa, que coragem, não vai conseguir dar atenção e boas condições a todos". Traduzindo: sendo único ou três, quatro, cinco, seis sempre tem alguém para palpitar.

Espera, mas seis? Sim, nesta seção de "Mãe não Julga" você vai conhecer a escritora Mônica Men que embarcou na aventura da família grande e não se arrepende, gosta de casa cheia. E também como foi para a assessora de imprensa Vanessa Kopersz a decisão de parar na primeira filha. As duas puderam fazer planejamento familiar e isso fez toda diferença, pois puderam decidir.

"Mãe não julga" é uma seção criada para compartilhar histórias de mães que optaram por caminhos muito diferentes em determinados aspectos da criação dos filhos. Para mostrar que na maternidade não há regras, há caminhos.

"Seria muito difícil conciliar a logística com dois filhos. Criança precisa da presença"

"Logo depois que casei com meu marido, Felipe, hoje com 50 anos, passamos a tentar ter filho para valer. Depois de uns três meses, eu engravidei a minha filha Luisa, de 12 anos. Minha gravidez não foi tão deliciosa pois tive enxaqueca, enjoos, dores nas costas. Não foi aquela coisa de 'nossa como amei estar grávida, nunca me senti tão plena'. O pós-parto foi um pouco pior pois tenho um quadro de Síndrome do Pânico e ansiedade. Precisei tomar remédio, mas isso não me impediu de amamentar minha filha até dois anos e três meses.

Eu tinha certo para mim e era segura de que não ficaria grávida de novo por ter tido uma gestação complicada. Depois, no puerpério, descartei qualquer possibilidade de dar um irmão para minha filha. Em termos emocionais o custo do pós-parto foi alto.

Uma questão que pesou também foi minha rotina, puxada. Sou jornalista, ficava muito tempo trabalhando, na redação. Saía cedo e chegava cedo e chegava em casa às 9 da noite. Percebi que com filho pequeno não dava, perdia muito do desenvolvimento da Luisa e não queria delegar para ninguém a criação. Quando ela tinha quatro anos, decidi abrir minha assessoria de imprensa e passei a fazer home office. Consigo levar para o esporte, o clube, a psicóloga. Não tinha muito tempo para mim, mas trabalhando de casa mesmo sem uma renda fixa, eu estava mais presente. Não sei como seria essa logística com dois filhos. Iria ser muito difícil conciliar, a criança precisa da presença.

Quando a Luísa começou a ir para a escola, tem essa questão da grana também. Que, para mim, contribuiu bastante com a decisão de ter só um filho. Minha filha estuda em uma escola particular muito boa de São Paulo. A mensalidade é muito alta. Não tem sobrado dinheiro para viajar, por exemplo. Se a gente juntasse esse dinheiro no ano, daria para fazer uma viagem bem legal internacional e sobraria ainda. Mas acho que educação não dá para economizar. Como temos só temos um filho, posso investir. Com dois essa conta não iria fechar.

Claro que tem seu lado negativo: eu pensava que a história do filho único ficar mimado era lenda, mas hoje acho que não. Acontece. É natural, pois não tem ninguém para dividir a atenção, os pais adaptam tudo em torno da criança. Eu vejo essa diferença quando comparo com meu irmão, que tem dois filhos e é bem mais fácil não mimar. Tenho tem que fazer um trabalho de educação forte para não isso acontecer.

Mas considerando todos os aspectos, penso que fiz a decisão certa. Luísa vai fazer 13 anos em breve, está virando adolescente. Foi bom estar presente durante a infância dela. Não me vejo com mais do que um filho. Não tenho nenhum arrependimento." Vanessa Kopersz, 46 anos, assessora de imprensa, São Paulo, SP

"Tenho seis filhos. É uma delícia mesa cheia"

"Sempre amei criança e quis uma família grande. Meu marido, Manoel, hoje com 45 anos, sempre brincou que se ele ganhasse na loteria, teria dez filhos e se não ganhasse, teria seis. Parece que ele já sabia. Começamos a namorar em 94 e foi ficando sério. Fizemos um planejamento para nos casarmos em cinco anos. Aí, fizemos uma poupança, compramos um apartamento e casamos. Quando veio o primeiro filho, Manoel, de 20 anos a gente já tinha uma estrutura.

A única coisa que me impediria de não ter muitos filhos era o parto. Eu coloquei na minha cabeça que se fosse cesárea eu pararia ali. No fim consegui ter os seis com parto normal. Minha experiência com todas as gestações foi bem tranquila. Trabalhei sempre até o último minuto, em um dos partos, do terceiro filho, eu comecei a sentir as contrações durante um jogo do São Paulo. Também consegui amamentar bem, todos até um ano e meio, mas minha última filha foi até os três.

Bem, eu tenho hoje seis filhos, no esquema escadinha. Depois do Manoel vieram Maurício, 19 anos, Maristela, 17, Marco Antônio, 15, Maria Luysa, 9, e Maryana,5. Para conciliar criação, como nós somos autônomos, a gente consegue dividir o tempo. Sempre trabalhamos com um carrinho de bebê ao lado, sem problemas. A gente sempre dividiu os cuidados e também tivemos ajuda das avós. O dinheiro é importante mas não é tudo, viemos de famílias cujos valores sempre foram outros, de criar bem. Mas somos bem regrados com dinheiro. Com relação às escolas, por exemplo, os quatro primeiros estudaram em particular. A gente pagava o ano inteiro para ter desconto. Depois percebemos que não fazia tanta diferença e colocamos as mais novas na escola pública.

Quando são muitos, eles acabam ficando independentes e eu estimulei todos a arrumar o quarto, tomar banho sozinho e conforme vão crescendo, cada um se vira nas coisas do dia a dia. Regras são fundamentais e a gente foi ensinando as tarefas de maneira lúdica, hoje todo mundo ajuda em casa de maneira natural. A gente adora ficar junto, tomar um lanche com todos reunidos e ficar conversando. É uma delícia mesa cheia. Eu amo e dou atenção de maneira igual para eles, consigo ter momentos de conversa a sós com cada um deles. Nos aniversários, por exemplo, os presentes individuais são trocados por uma viagem para que a gente possa curtir a vida em família. Muita gente fala 'nossa como você aguenta, tenho um e não aguento', mas eu estava preparada para ter vários filhos. Sou uma mãe muito feliz com uma família grande e extremamente realizada." - Mônica Men, 44 anos, escritora, São Paulo, SP