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Ativistas são presos e ameaçados no Egito após campanha contra estupradores

Ativistas pelos direitos da mulher são presos e ameaçados após campanha online contra estupradores - Getty Images/iStockphoto
Ativistas pelos direitos da mulher são presos e ameaçados após campanha online contra estupradores Imagem: Getty Images/iStockphoto

De Universa, em São Paulo

04/09/2020 11h15

Ativistas dos direitos das mulheres estão enfrentando uma nova ameaça no Egito após a prisão de testemunhas e pessoas que fizeram campanha em redes sociais cobrando o julgamento de vários estupradores já acusados, de acordo com o site do Wall Street Journal.

Seis pessoas foram presas recentemente, incluindo algumas que apresentaram provas em um caso de estupro coletivo envolvendo um grupo de jovens ricos, em 2014, em um hotel no Cairo. As pessoas detidas foram ameaçadas com acusações desde uso de drogas ao incitamento à libertinagem, uma alegação comumente usada como parte da repressão do governo à comunidade LGBTQ do Egito e para desacreditar testemunhas.

Defensores dos direitos humanos dizem que as prisões provavelmente produzirão um efeito negativo na crescente campanha online contra a agressão sexual no país.

Depois que as seis pessoas foram detidas — três já foram liberadas com pagamento de fiança —, seus telefones foram confiscados e promotores reconheceram que os aparelhos foram revistados.

Fotos e vídeos privados foram vazados online, no que os ativistas disseram ser uma tentativa de manchar sua reputação.

"Eles acham que ficamos um pouco poderosos e confiantes demais", diz um apoiador da campanha. "Eles estão tentando dizer: 'Estas são suas testemunhas? São um bando de vadias e gays'."

As detenções ocorrem contra uma onda de ativismo online no Egito. Um dos elementos mais significativos nesse movimento é o aumento do número de mulheres que usam as mídias sociais para se expressar em um momento em que o governo já tenta restringir a liberdade de expressão, incluindo proibições em protestos de rua e criminalização da dissidência online.

Em 2018, duas mulheres foram presas e processadas depois de falarem contra o assédio sexual online. Suas prisões foram vistas como parte da repressão às críticas percebidas ao Estado e à sociedade egípcia quanto a uma lei de segurança abrangente que o governo usou para reprimir aqueles que acusa de prejudicar a imagem do Egito. Uma das mulheres continua presa, enquanto a outra, de nacionalidade libanesa, foi deportada.

Em julho de 2020, duas outras mulheres foram condenadas à prisão por "violar os valores familiares", como disseram os promotores, depois de postar vídeos cantando e dançando na plataforma de mídia social TikTok.

Onda começou no Instagram

A campanha online contra agressões sexuais começou com uma série de páginas do Instagram que ajudaram a pressionar as autoridades egípcias a investigarem o caso de estupro coletivo no hotel do Cairo, há seis anos, ganhando centenas de milhares de seguidores.

A repercussão obrigou os promotores egípcios a emitir mandados de prisão no mês passado para nove homens em dois casos de estupro separados. Eles incluíam vários descendentes de um conjunto de famílias egípcias de elite, que foram acusados de drogar e estuprar uma mulher no hotel Fairmont Nile City.

Dois dos suspeitos foram presos no Egito, enquanto outros três foram presos no Líbano após a Interpol ser notificada, disseram autoridades libanesas. Os outros fugiram do Egito e seu paradeiro é desconhecido, afirmaram os promotores.