Topo

Menina de 10 anos: religiosos citaram Damares ao tentar persuadir família

De Universa, em São Paulo

23/08/2020 22h52

Há uma semana, a menina de 10 anos que realizou um aborto autorizado pela Justiça após ser estuprada pelo tio, no Espírito Santo, foi alvo de ataques e ofensas de grupos religiosos e de extrema-direita na porta do hospital onde estava internada, no Recife.

Um áudio exibido hoje pelo "Fantástico" mostra que religiosos foram até a casa da família, na cidade de São Mateus (ES), tentar impedir que ela interrompesse a gestação. Nele, um homem diz à avó da criança que está "tentando salvar o bisneto" dela, referindo-se ao feto, e que tem influência entre juízes, médicos e até com a ministra Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos, para impedir que o procedimento acontecesse.

"A gente está tentando evitar que isso aconteça, a gente está tentando salvar o bisneto da senhora [se referindo ao feto]. Eu tenho aqui juízes que são cristãos, que são do bem. Que estão do nosso lado. Eu tenho um corpo inteiro de médicos em São Paulo, Brasília", diz a voz masculina. "Inclusive, eu conversei ontem com uma assessora da ministra Damares".

A criança teve dados pessoais como nome e hospital onde ela faria o procedimento divulgados ilegalmente, no último domingo (16), pela extremista Sara Winter, que incitou os ataques. Agora, autoridades investigam como ela teve acesso a essas informações, mantidas em sigilo por se tratar de uma menor.

Na semana passada, a ministra Damares Alves negou que tenha vazado as informações, embora Sara tenha sido assessora de seu Ministério. A ministra pediu, na última quinta-feira, que o MJSP (Ministério da Justiça e Segurança Pública) investigue o caso.

Ainda assim, deputados do PSOL protocolaram um pedido para que Damares Alves preste esclarecimentos na Câmara.

'A gente expulsa e eles não vão embora'

Um segundo áudio divulgado pelo "Fantástico" mostra uma pessoa da família da criança contando que tentou expulsar os religiosos de casa e que o grupo tentou culpar a avó da menina caso algo de errado ocorresse durante a interrupção da gravidez.

"Tô desesperada aqui, eles tão fazendo uma coisa muito injusta aqui. A gente expulsa e eles não vão embora. Tão falando que se a criança morrer nós somos culpados", diz a voz.