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Quem é Agnes Chow, a ativista de 23 anos perseguida pela China

A ativista pró-democracia Agnes Chow - May James/AFP
A ativista pró-democracia Agnes Chow Imagem: May James/AFP

Cláudia de Castro Lima

Colaboração para Universa

12/08/2020 04h00

Presa em Hong Kong na segunda-feira (10) e liberada um dia depois, a ativista Agnes Chow Ting tem, apesar de apenas 23 anos, um respeitável histórico na militância em seu país -além de certa experiência em detenções. Perseguida pelo governo comunista, Agnes é hoje uma das vozes pró-democracia mais influentes em sua cidade.

A jovem foi presa sob acusação de violar a Lei de Segurança Nacional, imposta pelo governo chinês sobre Hong Kong em 30 de junho. No mesmo dia, outra operação deteve também Jimmy Lai, proprietário do grupo Next Media, que publica o Apple Daily, principal jornal da oposição.

A nova Lei de Segurança Nacional criminaliza ações tidas como separatistas, subversivas e terroristas, assim como os atos considerados de cooperação com forças estrangeiras para intervir nos assuntos do território.

"Ainda não sabemos do que Agnes Chow será acusada", afirma Stanley Rosen, professor de ciência política especializado em política e sociedade chinesas da Universidade do Sul da Califórnia (USC), nos Estados Unidos. "Mas sua prisão pode ser um aviso a ela mesma e aos outros para encorajar a autocensura."

Mas quem é Agnes Chow e por que o governo chinês a considera uma pessoa perigosa?

Movimento dos Guarda-Chuvas

Agnes era uma jovem estudante de 17 anos quando participou e se destacou em uma série de protestos em Hong Kong conhecidos como Movimento dos Guarda-Chuvas, em 2014. O nome faz referência às "armas" usadas pelos jovens nos atos que pediam eleições livres.

Os protestos reuniram mais de 100 mil pessoas, que ocuparam o distrito financeiro de Hong Kong reivindicando a escolha do chefe executivo local nas eleições de 2017 por meio de votação direta -em vez do sistema que elegia apenas candidatos previamente aprovados por Pequim.

O movimento durou 79 dias e foi pacífico, mas, perto dos últimos dias, manifestantes e policiais entraram em confronto. Para se proteger de bombas de gás lacrimogêneo e jatos de spray de pimenta, os jovens levavam guarda-chuvas amarelos.

Embora a ocupação não tenha surtido efeito legal, já que as eleições ocorreram como antes, Agnes Chow ganhou fama e respeito. E entrou definitivamente para a lista dos considerados subversivos pelo governo chinês.

Política precoce

Quando ajudou a liderar o Movimento dos Guarda-Chuvas, Agnes já estava envolvida com política. Sua introdução ao meio aconteceu aos 15 anos, por meio de grupos organizados em redes sociais, nos quais conheceu Joshua Wong, outro proeminente ativista pró-democracia.

A luta de ambos então era contra projetos que pretendiam implementar uma educação "moral e nacional" nas escolas públicas de Hong Kong. Eles temiam uma política controlada, como na China continental. O governo de Hong Kong cedeu aos protestos.

Mais tarde, durante os movimentos estudantis de 2014, Agnes ligou-se a ativistas que se tornariam importantes figuras no combate à mão pesada da China sobre Hong Kong. Dois anos depois, eles fundaram o partido pró-democracia Demosisto.

Uma das bandeiras do partido era enfrentar Pequim e incentivar os cidadãos de Hong Kong a participar da gestão do território. Mas o Demosisto acabou anunciando sua dissolução após a implementação da lei de segurança.

Para dar continuidade à trajetória política, Agnes renunciou à cidadania britânica para concorrer ao Conselho Legislativo de Hong Kong em 2018. Sua candidatura, no entanto, foi rejeitada. Na época, ela disse em entrevistas que a proibição não era algo contra ela, e sim contra uma geração inteira de jovens que são opositores do governo.

Pior das prisões

Agnes já foi detida quatro vezes pela polícia chinesa, após incitar e participar de protestos a favor da democracia. Ao ser liberada nesta terça-feira (11), no entanto, ela afirmou em entrevista que a última prisão foi a mais assustadora.

"O motivo alegado foi que entrei em conluio com forças estrangeiras usando as redes sociais entre julho e hoje, mas as acusações foram vagas e não entendo completamente por que fui presa", disse ela, após pagar fiança em dinheiro. Ela contou ainda que seu passaporte foi confiscado e que não tem certeza se será indiciada.

"Agnes é considerada perigosa porque impõe muito respeito, tanto em Hong Kong quanto no exterior, e porque se opõe à Lei de Segurança Nacional", afirma o professor Stanley Rosen.

Fluente em japonês, uma língua que aprendeu sozinha, além de inglês e cantonês, a ativista tem uma base substancial de apoio no Japão e aprovação de vários países para sua luta.

Segundo o professor da USC, a situação política atingiu esse ponto porque a China percebeu que as autoridades de Hong Kong não tinham possibilidade de controlar os protestos. "Essa situação, portanto, continuaria indefinidamente e prejudicaria a função comercial básica de Hong Kong", diz.

Além disso, a China também sentiu que potências externas -leia-se os Estados Unidos e o Reino Unido- tornariam-se mais influentes à medida que os manifestantes buscassem apoio no exterior. "Eles sentiram que os custos de continuar essa situação estavam se tornando maiores do que os custos de implementar diretamente a Lei de Segurança Nacional e prender aqueles que são vistos como líderes do movimento pela democracia em Hong Kong."