Topo

Cacau Protásio reza com fãs, vende roupas e combate racismo nas redes

Cacau Protásio - Janderson Pires/Divulgação
Cacau Protásio Imagem: Janderson Pires/Divulgação

Luciana Ackermann

Colaboração para Universa

11/08/2020 04h00

Há quase três meses, todos os dias, religiosamente às 15h, a atriz Cacau Protásio faz lives do Terço da Misericórdia, em seu perfil no Instagram. Cerca de 500 fiéis acompanham as orações online e participam com comentários. Padres e freis entram na reza, levando palavras de conforto, fé e esperança. Pela rede, os religiosos ainda benzem os presentes e a água na casa dos seguidores mais prevenidos. Os vídeos, que permanecem na página da humorista, chegam a atingir 50 mil visualizações.

A cura da covid-19 está entre os principais pedidos feitos pelos fiéis. Mas muita gente pede por outras curas, como da depressão, das fobias, do pânico, do câncer e dos vícios. Outros rezam pelo fim do racismo, do preconceito e da violência doméstica. Não faltam mulheres querendo engravidar e muitos oram por um emprego. Nos últimos dias 4 e 5, por exemplo, as orações foram para as vítimas das explosões no Líbano.

Católica fervorosa, com o hábito de agradecer tudo o que lhe acontece na vida, inclusive as situações desagradáveis, Cacau conta que a reza virtual começou com 50 pessoas, depois, 100, 150 e foi crescendo. "Todas as intenções mexem comigo e me tocam. Tenho muita fé de que as pessoas que estão rezando todos os dias vão alcançar suas graças."

Mesmo voltando ao trabalho, aos poucos, Cacau tem conseguindo manter a prática. Já precisou fazer a live do terço em um carro de Uber. "Às vezes, estou em alguma reunião de trabalho, no Zoom, peço dez minutinhos para rezar e volto", diz a atriz que não definiu até quando seguirá com as orações.

No começo da pandemia, Cacau saiu às ruas, munida com alto-falante, para coletar alimentos não perecíveis, montar e doar cestas básicas. Batizada de Despensa Solidária, a atriz e a família circulavam pelos condomínios e ruas da Barra da Tijuca e do Recreio, na zona oeste do Rio.

"Começávamos a nos organizar às 7h e só voltávamos às 22h. Todos os dias. Não tenho ideia de quantas pessoas ajudamos. Sei que coletamos muita comida, roupas, fraldas descartáveis. Depois, passamos a ir três vezes por semana e tivemos de parar por causa dos riscos [de pegar o coronavírus]. Pedi a Deus uma forma de ajudar as pessoas e comecei a fazer a live do terço", explica a atriz.

Investigação parada

Com uma legião de fãs e apoiadores, Cacau diz estar melhor das crises de ansiedade e pânico desencadeadas depois dos ataques de racismo e gordofobia, que sofreu por parte de alguns integrantes do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, no final de 2019. Após gravações de cenas do longa-metragem "Juntos e Enrolados", no quartel central, nas quais Cacau vestia uma farda, circularam áudios pra lá de agressivos.

"Graças a Deus estou bem, o único medicamento que tomo é Jesus. A terapia acho que vou continuar para o resto da vida. É bom pra depressão, ansiedade, pra tudo. Todo ser humano deveria fazer terapia", afirma a atriz, que está "à espera" do desenrolar das investigações do inquérito sobre o criminoso episódio que viveu. "Com a pandemia, tá tudo parado."

Já em seu Instagram, Cacau segue firme e solidária na luta por respeito, justiça e contra o racismo. No dia 3 de agosto, por exemplo, compartilhou um post em defesa do bailarino Allan Bastos, que também viveu ataques racistas, dessa vez, pelo Twitter.

No mesmo dia, ela engrossou o caldo do movimento na rede, que enaltece a beleza e o poder das mulheres negras, ao postar uma foto em preto e branco e escrever sobre a atriz Cris Vianna. Cacau já havia sido a homenageada da vez, com a publicação da atriz Mariana Nunes.

Três mulheres pretas e gordas

Em meio à pandemia, Cacau estreou ao lado de Tia Má e Luana Xavier a websérie "Redondamente Enganadas", no IGTV e no Tik Tok, em que "três mulheres pretas e gordas falam de amor". Os episódios, curtinhos e bem montados, são exibidos todas as quartas-feiras, às 12h.

Na trama, que seria uma montagem de teatro, Maria Bia, Maria Francisca e Maria Helena descobrem que são traídas pelo mesmo homem e unem-se para planejar uma vingança. Uma narrativa moderna e divertida, que faz uso da troca de mensagens e de memes.

Já a estreia da peça "100% Cacau", agendada para o dia 14 de março passado, no Rio, teve de ser adiada. Não há previsão de quando poderá subir ao palco. O mesmo ocorreu com os longas previstos para entrar em cartaz e para serem rodados em 2020. "Agora é esperar. A agenda do mundo mudou. Acho que a única coisa que deverá voltar é o 'Vai que Cola', se tudo der certo", diz.

A atriz e empreendedora ainda tem sacudido as vendas da sua loja de roupas, Ms.Cacau, voltada ao público plus size, com a chamada Arara Amiga, na qual faz promoções das peças pelo Instagram.

Sobre os últimos cinco meses, ela resume: "Aprendi que a gente tem que ser solidário, ter amor ao próximo, olhar para o vizinho e não pensar só no nosso umbigo. Nessa pandemia, imaginei que as coisas fossem mudar, mas as pessoas estão mostrando o que realmente são. Mesmo assim, eu não perco a esperança da melhora do mundo e das pessoas. Aprendi a ter mais compaixão".