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"Falhamos ao acreditar nas desculpas dele", diz mãe de jovem morta pelo ex

Raiane Miranda, de 20 anos, foi morta pelo ex-namorado, que não aceitava o fim do relacionamento Imagem: Arquivo pessoal

Abinoan Santiago

Colaboração para Universa

07/08/2020 04h00

Cinco dias antes de ser assassinada a facadas pelo ex-namorado, a estudante Raiane Miranda, de 20 anos, compartilhou com a família as ameaças de morte recebidas no celular. As mensagens enviadas por George Oliveira, 26, não geraram boletim de ocorrência. Dias após a tragédia, a família não se arrepende de não ter acionado a polícia, mas, sim, de ter confiado no pedido de desculpas do suspeito logo depois das ameaças.

Na última sexta (31), George encurralou Raiane na frente da casa dela, em Santana, região metropolitana de Macapá (AP), e desferiu quatro facadas na jovem, com quem namorou por dois anos. A vítima havia terminado o namoro com o entregador há menos de um mês porque o então companheiro não a deixava trabalhar como operadora de caixa. A defesa alega que "se trata de um crime passional, movido pelo sentimento forte da paixão". George está em prisão preventiva.

Dias antes do crime, George enviou mensagens de texto para Raiane. "Vai denunciar que eu vou te matar", escreveu às 20h02 do dia 26 de julho. Segundo a mãe da vítima, a supervisora de vendas Clene Miranda, de 36 anos, o ex-genro a procurou para se desculpar depois das ameaças enviadas à filha dela.

Alegando um momento de raiva, o suspeito também pediu perdão à ex-namorada, à avó dela e à própria mãe. Isso teria dado confiança aos familiares de que nada poderia ocorrer, sobretudo em razão de George ter cumprido a promessa de não ter mais procurado a vítima nos dias seguintes, até a noite do crime.

"Não me arrependo de não ter orientado a minha filha a registrar boletim de ocorrência porque nunca imaginávamos uma reação dessa. Ele pediu desculpas para mim, minhas irmãs, minha mãe, para a Raiane e para a mãe dele. Falou que era um momento de raiva e que estávamos certos", disse a mãe da vítima. "Falhamos ao acreditar nas desculpas dele."

Clene ainda considerou o histórico pacífico do ex-genro para não procurar a polícia.

"Foi uma surpresa porque não era essa a imagem que tínhamos dele", diz. "Isso mostra que no fundo não conhecemos ninguém."

Independente, queria dar conforto à filha

Raiane engravidou aos 16 anos. A mãe conta que a gestação motivou ainda mais a jovem a terminar os estudos e a ingressar em um curso superior. Com apoio da família, ela estava no sétimo semestre da graduação em enfermagem.

"Ela sempre quis ser muito independente. Teve a filha dela muito cedo, mas não deixou a vida e os sonhos de lado. Depois da gravidez, a Raiane colocou na cabeça que precisava dar um futuro para a filha e não parou os estudos", diz Clene.

Após uma temporada entregando currículos em vários estabelecimentos e empresas, a jovem conquistou pela primeira vez um emprego com carteira assinada, como operadora de caixa em um supermercado da cidade. O desejo dela era dar mais conforto para a filha, que completa quatro anos em outubro.

"Tudo foi interrompido por esse rapaz que a gente colocava dentro de casa e jamais imaginávamos que seria o assassino dela por não aceitar os sonhos da minha filha", diz a mãe.

Pirulitos no bolso

Mesmo sem saber o que aconteceu, a filha de Raiane chora com saudades da mãe, que sempre levava algo para a filha após o expediente.

"Ela estava com dois pirulitos no bolso no dia do crime", conta Clene. "A menina pergunta pela mãe e não vamos esconder nada. Porém, iremos trabalhar de maneira responsável. Ela pede para cantar músicas para dormir igual a mãe fazia, chora de vez em quando sozinha no quarto. É um momento difícil também para ela lidar com isso."

O feminicídio

A morte de Raiane, na frente da casa dela, foi registrada por câmeras de segurança de uma residência. As imagens mostram que o suspeito tenta tomar algo das mãos de Raiane. Ela tenta se defender e leva as facadas. George ainda dá o último golpe quando a vítima já está ao chão. Ao todo, foram quatro golpes de facas, sendo três nas costas e um no pescoço. Ele deixou a arma no local do crime e saiu correndo. A prisão ocorreu horas depois.

Segundo a PM, o suspeito queria ver o celular da vítima. O caso é tratado como feminicídio porque o suposto autor do crime não aceitava o fim do namoro, diz a Polícia Civil.

A defesa de George afirma que, no momento do crime, ele agiu sob forte emoção por causa da paixão que nutria por Raiane.

"Sem sombras de dúvidas, trata-se de um crime passional, movido pelo sentimento forte da paixão. Ele estava absolutamente apaixonado e, com o término do namoro, se descontrolou, tendo esse lapso de intensa emoção. Ressalto isso porque nunca teve uma multa de trânsito e não tem antecedentes criminais", diz o advogado Osny Brito.

Em relação às mensagens com ameaças, o advogado acredita que, apesar do conteúdo, o crime não foi premeditado. E diz que ainda busca saber o motivo de George ter levado uma faca ao encontrar Raiane na rua.

George está preso preventivamente em uma cela separada do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen), em Macapá. Ele alegou sintomas de covid-19 e aguarda o resultado do exame para saber se será levado para o pavilhão com outros detentos.

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