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Ioga na praia: Ambulante diz que foi provocado a fazer gesto obsceno

A advogada e professora Mariana Maduro foi alvo de assédio ao praticar ioga na Lagoa Rodrigo de Freitas Imagem: Reprodução/Instagram

Pauline Almeida

Colaboração para Universa, no Rio

07/08/2020 14h07

O ambulante Celso Lins Bastos, filmado fazendo um gesto obsceno enquanto vê a advogada Mariana Maduro e uma amiga praticando ioga na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio de Janeiro, disse estar arrependido e que foi provocado pelo empresário Ricardo Roriz, responsável pelo vídeo postado nas redes sociais no último sábado.

Bastos prestou depoimento à Polícia Civil ontem. "Ele afirmou que foi, na verdade, provocado pelo cliente Ricardo Roriz, que está sempre ali fazendo filmagens ou fotografias e o provoca para que ele faça também comentários, numa adesão de vontade do autor Ricardo Roriz", informou a delegada Valéria Aragão, que conduz o inquérito.

O advogado do ambulante, Valdo Tavares, afirma que o cliente não sabia estar sendo filmado por Roriz, de quem também faz a defesa. "O ato obsceno que ele fez não foi direcionado a ninguém, a nenhuma mulher, foi direcionado ao Ricardo Roriz. Quando ele se aproxima das meninas, ela vai oferecer água a elas como ele oferece a todo mundo ali", disse.

"Brincadeira de mau gosto"

Segundo a delegada, Bastos contou que alugava bicicletas na Lagoa Rodrigo de Freitas, mas precisou mudar de negócio devido à pandemia de coronavírus e montou um ponto de venda de bebidas. No depoimento, disse que Roriz é um cliente assíduo e que já foi personagem de outros vídeos dele.

"Nas redes sociais, seria comum os seguidores de Ricardo Roriz o atiçarem para que provocasse Celso e ele fizesse comentários também. Seria uma espécie de brincadeira de mau gosto de que Celso se diz vítima. Ele também se disse arrependido e assustado com a repercussão negativa de todos esses fatos", disse a delegada Valéria Aragão.

O vídeo do assédio

Na postagem do último sábado, o Bastos e Roriz observam a advogada Mariana Maduro fazendo um movimento de ioga. Na gravação, o empresário fala "Ó lá que que é um velho tarado". Ele ainda aproxima a imagem com um zoom. "Celsão, tu é o maior doente sexual, hein Celsão. Tu fica só de voyeur." O ambulante responde com um gesto de masturbação: "eu gosto é pra blau blau".

Antes disso, Roriz gravou Bastos oferecendo água para Mariana e a amiga. Nas imagens, ele diz "tu vê o que que é cara, velho ridículo, né?"! Um homem ao lado responde: "velho no cio". O empresário rebate: "velho no cio, ó lá, foi lá dar suquinho".

Outras vítimas de assédio

A advogada Mariana Maduro descobriu que não foi primeira vez que Ricardo Roriz filmou o grupo em que ela pratica ioga e expôs mulheres na internet, inclusive as chamando de "alcatra". No dia 5 de julho ele fez outra postagem, o que levou a Polícia Civil a instaurar um novo inquérito contra o comerciante, que tem uma loja de produtos militares.

Na última quarta-feira, a delegada Valéria Aragão ouviu uma nova vítima, a terceira que apresentou queixa contra Roriz, além de Mariana e a amiga filmadas no último fim de semana. Ele vai ser investigado pelos crimes de injúria qualificada e perturbação de tranquilidade.

"O autor, de igual modo, filma diversas cenas na Lagoa, naquele mesmo trecho. Em determinados momentos, confere um zoom a partes do corpo da jovem, fazendo comentários desagradáveis e ofensivos", informou a delegada.

Ricardo Roriz vai ter que comparecer novamente à delegacia para prestar esclarecimentos. O advogado Valdo Tavares, que defende o empresário, afirma que ainda aguarda o teor do vídeo para se manifestar.

"Tudo que aconteceu é reprovável, nós nos solidarizamos com o sofrimento das moças e tudo, mas se deu um vulto muito grande a essa situação como se fosse estupro. Tem que haver a reprimenda judicial, o Direito protege sim, mas a gente não pode acabar com a reputação das pessoas", defendeu.

O que diz a vítima

Mariana Maduro ainda sofre as repercussões do fato e por ter feito a denúncia. "Sofrer essa violência é muito triste e eu tô sendo mais violentada ainda porque eu me expus. As pessoas estão vindo me atacar, eu leio todo tipo de coisa: 'também quer o quê? Você tava com essa roupa, você tava pelada, tava abrindo a perna, você fica provocando. Por mais que eu seja uma mulher muito segura, isso afeta, óbvio", afirmou.

A advogada também se sente temerosa em relação a postagens feitas por Ricardo Roriz. Apesar de ter publicado uma nota em que externou "solidariedade a quem se sentiu ofendido ou depreciado" e defendendo que só manteve o vídeo ativo por 50 minutos, no domingo o empresário gravou um vídeo sobre "a culpa é de quem sofre" e mostrando tatuagens do presidente Jair Bolsonaro e da Polícia Militar, o que a advogada entendeu como uma ameaça.

O empresário também deu um print na denúncia feita por Mariana pelas redes sociais e escreveu um post com a frase: "Estou sendo crucificado pela esquerda, é a hora de cada um tomar uma posição, vamos unir forças, o bem contra o mal, quem sobreviver provou que é o escolhido!"

Defensor de Ricardo Roriz, o advogado Valdo Tavares nega qualquer ameaça à vítima. "Existe um livro chamado 'A culpa é de quem sofre', está escrito na capa do livro. Quando ele faz um vídeo, ele está direcionando o livro para o sofrimento dele, não é para o sofrimento de ninguém, é o sofrimento pessoal dele', argumentou.

Apesar de se sentir insegura com as postagens, Mariana disse que não vai se deixar intimidar e espera a finalização do inquérito policial para buscar também indenização na esfera cível. "E o mais triste de tudo é estarem politizando, não é direita ou esquerda, é uma violência. Não importa quem fez e não importa quem sofreu", ressaltou.

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