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Relatório revela abusos a LGBTs na Síria: 'Eles nos estupravam com bastões'

Fugitivos sírios descrevem abusos homofóbicos - Getty Images/iStockphoto
Fugitivos sírios descrevem abusos homofóbicos Imagem: Getty Images/iStockphoto

De Universa, em São Paulo

29/07/2020 10h06

Um novo relatório da organização não governamental Human Rights Watch, lançado hoje, detalha as humilhações e torturas vividas por homens gays e bissexuais e mulheres transgênero na Síria.

A organização entrevistou dezenas de pessoas que fugiram do país, a maioria se estabelecendo no vizinho Líbano. Alguns deles nem mesmo se identificam como LGBTQ+, dizendo que foram "assediados e abusados por terem aparência 'delicada' ou trejeitos 'efeminados'".

Alguns dos entrevistados disseram que foram mantidos em centros governamentais, e outros em prisões do Estado Islâmico. Todos descreveram sofrer abusos constantes, incluindo mutilações genitais, estupro (ou ameaça de estupro), assédio sexual e nudez forçada.

Muitos deles descreveram também o trauma físico e psicológico que esta experiência deixou. Alguns sofrem de dores crônicas nos genitais e no reto, além de depressão e estresse pós-traumático.

'Eles pareciam felizes enquanto faziam aquilo'

Um sobrevivente identificado como Yousef disse que foi detido pelo governo por acusações não relacionadas a sua orientação sexual — mas, uma vez que os guardas da prisão descobriram que ele era gay, "o abuso se multiplicou por dez".

Eles pareciam felizes enquanto faziam aquilo. Eles nos estupravam com bastões, só para nos ver sofrendo, gritando, humilhados. É o que eles gostavam de ver. Eles colocavam aquele bastão no meu ânus, e diziam: 'É disso que você gosta, não é?'. Aquilo subiu até o meu estômago."
- Yousef sobre os abusos que sofreu em detenção na Síria

Outro sobrevivente, identificado como Khalil, foi mantido refém pelo Estado Islâmico. Originalmente capturado quando tinha 15 anos, ele estava ao lado do namorado. Khalil ficou sozinho após o rapaz ser morto, atirado do alto de um prédio.

Quando a mãe de Fahed, outro entrevistado do relatório, descobriu que ele era gay, enviou uma mensagem de texto desejando "que Deus quebrasse o coração dele, como ele havia quebrado o dela". A mensagem também ameaçava Fahed de morte caso ele não deixasse a Síria.

Família e problemas no Líbano

O Líbano, que acolheu os fugitivos da Síria, tampouco tem a estrutura necessária para recebê-los e dar a eles o apoio necessário — serviços de saúde mental são escassos, e a própria aceitação LGBTQ+ no país tem sofrido golpes recentemente, com eventos de Orgulho cancelados por todo o território.

Zeynep Pinar Erdem, autor do relatório da Human Rights Watch, disse que poucos fugitivos sírios conseguem ajuda de organizações internacionais para encontrar abrigo em outros países, e a maioria deve ficar "presa" no Líbano por um bom tempo.

Essa situação exige a atenção urgente da comunidade internacional. Precisamos de doadores que se comprometam a oferecer serviços de saúde e proteção a estes sobreviventes."
- Zynep Pinar Erdem sobre os fugitivos sírios no Líbano