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Duffy critica Netflix por glamorizar sequestro e estupro no filme '365 dni'

A cantora britânica Duffy em foto de 2011; em fevereiro de 2020, ela revelou ter sido mantida em cativeiro, drogada e estuprada - Dave M. Benett/Getty Images
A cantora britânica Duffy em foto de 2011; em fevereiro de 2020, ela revelou ter sido mantida em cativeiro, drogada e estuprada Imagem: Dave M. Benett/Getty Images

De Universa, em São Paulo

02/07/2020 16h46Atualizada em 02/07/2020 17h36

A cantora britânica Duffy, que em fevereiro tornou pública a experiência de ter sido sequestrada e estuprada, escreveu uma carta aberta à Netflix criticando a plataforma por exibir o longa-metragem polonês "365 dni". Para ela, o filme "glamoriza a realidade brutal do tráfico sexual, do sequestro e do estupro".

Apresentado como um "drama erótico", o longa conta a história de uma jovem polonesa que é sequestrada por um mafioso da Sicília, na Itália, que lhe "dá" um ano — daí o nome "365 Days" em inglês — para se apaixonar por ele. O filme foi lançado na Polônia em 7 de fevereiro e entrou no catálogo da Netflix Brasil em 8 de junho.

Na carta, endereçada ao CEO da plataforma, Reed Hastings, Duffy chamou a decisão de disponibilizar o filme de "irresponsável". "Não queria ter que escrever para você, mas a 'virtude' do meu sofrimento me obriga a fazê-lo", escreve a cantora, fazendo referência ao que passou enquanto foi mantida em cativeiro.

"'365 dni' glamoriza a realidade brutal do tráfico sexual, do sequestro e do estupro. Não deveria ser a ideia de entretenimento para ninguém, nem ser descrito como tal ou comercializado desta maneira. Enquanto escrevo essas palavras, cerca de 25 milhões de pessoas são vítimas de tráfico [sexual] em todo o mundo. Por favor, tire um momento para pensar neste número, equivalente a quase metade da população da Inglaterra."

Duffy também lamentou que a Netflix ofereça uma plataforma para esse tipo de "filme", que erotiza o sequestro e distorce a violência sexual e o tráfico, transformando-os em algo "sexy", e disse não conseguir imaginar como a empresa pode ter sido tão descuidada e insensível.

"Todos sabemos", continuou, "que a Netflix não reproduziria um material que glamorizasse pedofilia, racismo, homofobia, genocídio ou qualquer outro crime contra a humanidade. O mundo corretamente se levantaria e gritaria. Tragicamente, as vítimas de tráfico e sequestro são invisíveis e, em '365 dni', seu sofrimento é transformado em um 'drama erótico', como descreve a Netflix."

Ao final, a cantora se dirigiu àqueles que assistiram ao filme, incentivando as milhões de pessoas que gostaram de "365 dni" a refletir sobre sequestro, tráfico e exploração sexual. Duffy ainda compartilhou links com mais informações sobre o tema e sugeriu entidades que lutam contra essa realidade, como a Coalition Against Trafficking in Women e a Hope for Justice, por exemplo.

"Vocês não se deram conta de como '365 dni' levou sofrimento àqueles que passaram pela dor e o horror que esse filme glamoriza pelo entretenimento e por dólares. O que eu e outros que conhecemos essas injustiças precisamos é exatamente o oposto — uma narrativa da verdade, da esperança e que dê voz."