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Alunos envolvidos em casos de racismo em colégio no Rio são indiciados

Marcela Lemos

Colaboração para Universa, no Rio

05/06/2020 19h26

Três dos cinco adolescentes envolvidos em ataques racistas direcionados à aluna Ndeye Fatou Ndjaye, do colégio Liceu Franco Brasileiro, em Laranjeiras, na zona sul do Rio, foram indiciados por fato análogo aos crimes de racismo e injúria racial. Dois deles vão responder pelas duas acusações e o terceiro, apenas por fato análogo à injúria racial.

Os outros dois estudantes não foram indiciados. A informação foi confirmada para Universa pela família da vítima.

O pai de Fatou, Mamour Ndjaye, disse que ele não vai descansar enquanto não houver justiça.

"A única certeza é que a gente não vai medir esforços por justiça, não vamos descansar, vamos lutar dentro da lei nacional e internacional para que a justiça seja feita", disse o pai da estudante, que informou ainda que ela não está assistindo às aulas on-line da escola.

"Estamos traumatizados, a escola até agora não mostrou que há segurança necessária para que ela e outras crianças negras vivam em um ambiente livre de racismo".

No mês passado, Fatou foi surpreendida ao receber de um amigo, que fazia parte do grupo, o print das mensagens trocadas.

Entre o conteúdo racista, havia afirmações que diziam "dou dois índios por um africano", "1 negro vale uma jujuba, 1 negro vale um pedaço de papelão, 1 negro vale um [chiclete]", entre outras frases de violência e apologia à escravidão e ao tráfico humano que Universa optou por não reproduzir.

A família registrou um boletim de ocorrência na delegacia da região.

De acordo com informações da escola, a instituição tomou conhecimento do caso no dia 18 de maio. Um grupo autodenominado "Bonde OFC" era composto por 15 membros - nem todos alunos da escola. Quatro estudantes do colégio foram identificados na troca de mensagens de cunho racista. O Liceu Franco Brasileiro comunicou o caso ao Conselho Tutelar, afastou os adolescentes das aulas on-line e emitiu nota de repúdio ao ocorrido. O Liceu Franco Brasileiro disse ainda, na ocasião, que aguardava a conclusão do inquérito para decidir por novas medidas.

Leia a nota na íntegra:

"Estamos profundamente indignados com o ocorrido e reiteramos que o Colégio Franco-Brasileiro repudia, de forma veemente, toda forma de racismo. O ato de discriminar agride os Direitos Humanos e o princípio da dignidade da pessoa humana. É nossa responsabilidade enfrentar o racismo nos diferentes espaços que ocupamos, incluindo os ambientes virtuais.
Em nossa proposta pedagógica, destacamos que: 'educamos para a democracia e não para o autoritarismo, para a igualdade de gênero e não para o sexismo, para o pluralismo econômico e não para o dogmatismo, para a diversidade cultural e não para o etnocentrismo, para a igualdade racial e não para o racismo, para a liberdade religiosa e não para o fanatismo'.
Questionada sobre o indiciamento dos alunos, o colégio disse que para dar continuidade ao trabalho feito contra o racismo, a discriminação e o preconceito, a instituição está contratando uma consultoria especializada para promover um programa de aprofundamento desse trabalho. "Só por meio da educação é possível mudar a sociedade. A luta contra o racismo é de todos nós".