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#NiUnaMenos: 5 anos depois, América Latina continua mortal para mulheres

8.mar.2017 - Ato do Ni Una Menos na Argentina - AFP
8.mar.2017 - Ato do Ni Una Menos na Argentina Imagem: AFP

De Universa, em São Paulo

04/06/2020 11h29

Níveis assustadores de violência de gênero e um caso de estupro coletivo levaram milhares de argentinas às ruas de seu país, cinco anos atrás, no movimento que ganhou a hashtag #NiUnaMenos (nenhuma a menos, em tradução literal). A indignação feminina ganhou o espaço público também em países vizinhos, mas a América Latina continua sendo um dos lugares mais violentos para mulheres no mundo, diz reportagem de hoje no site britânico The Guardian.

Uma em cada três mulheres na região foi submetida à violência, e entre 17% e 53% das mulheres sofreram violência doméstica, mostra o site.

Nas últimas semanas, restrições sociais impostas pela pandemia do novo coronavírus agravaram o problema, pois muitas das vítimas estão confinadas em casa com seus agressores.

Ativistas dizem que a mensagem do movimento é mais urgente agora do que nunca. Ontem, o maior jornal da Argentina, o Clarín, publicou os nomes e histórias de mais de 300 mulheres que foram assassinadas no ano passado como parte de uma seção especial de obituário.

Uma mulher morta a cada 30 horas na Argentina

Em 2016, Marta Montero teve a filha de 16 anos, Lucia Pérez, drogada, atacada em um estupro coletivo e morta. O crime causou revolta e foi a faísca para a movimentação nacional de mulheres, que fizeram sua primeira greve. Porém, os três homens acusados de agredir Lucia foram absolvidos de assassinato. Dois deles foram condenados por vender drogas a um menor de idade.

Hoje, uma mulher é morta a cada 30 horas na Argentina, e Montero diz que costuma pensar em todas as outras que morreram desde que Lucia foi assassinada.

"Tento não ser pessimista, mas infelizmente as coisas pioraram", lamenta ela, falando de sua casa na cidade costeira de Mar del Plata. "Há muito mais violência contra as mulheres".

Em seu discurso de posse, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, elogiou o movimento Ni Una Menos como uma bandeira que todos deveriam levantar. Ele criou um novo Ministério da Mulher, Gênero e Diversidade, que administra uma linha de apoio às vítimas de violência e trabalha para mudar comportamentos através de campanhas educacionais.

"Você pode ver as mudanças", disse Andrea Lescano, cuja filha Micaela Garcia foi assassinada em 2017. Sua morte levou a Argentina a aprovar uma lei exigindo que todos os funcionários do governo passassem por um treinamento de sensibilidade a gênero. As universidades e outros locais de trabalho estão desenvolvendo protocolos para lidar com a violência de gênero em suas esferas.

"Não é que exista mais violência, é que agora você a vê e a nomeia", diz Lescano.

Marta Dillion, fundadora do movimento Ni Una Menos, vê importantes avanços nos últimos cinco anos. "Culpar a vítima não é mais possível", diz ela.