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Fechar escolas expôs meninas a violência e mutilação genital, dizem ONGs

Uma mulher conhecida como "talhadora" mostra a lâmina que usa para mutilar as genitálias de meninas no Quênia - Getty Images
Uma mulher conhecida como 'talhadora' mostra a lâmina que usa para mutilar as genitálias de meninas no Quênia Imagem: Getty Images

De Universa, em São Paulo

03/06/2020 14h02Atualizada em 03/06/2020 14h27

O fechamento de escolas em todo o mundo devido ao novo coronavírus expôs crianças a violações dos direitos humanos, como a mutilação genital feminina forçada, casamento precoce e violência sexual. As afirmações são de especialistas em proteção infantil e ONGs (Organizações não governamentais).

O Banco Mundial estima, globalmente, que 1,5 bilhão de crianças foram deixaram de frequentar as escolas em decorrência da covid-19. Para ONGs, milhões de crianças mais vulneráveis não voltarão as escolas ao final da pandemia e afirmam que, após décadas lutando pela educação de meninas, a pandemia pode atrasar a igualdade de gênero na educação.

Segundo o Guardian, na Tanzânia, meninas que estavam em internatos e foram enviadas para casa e já sofreram mutilação genital feminina. Na região do Sahel, também na África, onde o casamento infantil é generalizado, a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) teme que muitas meninas nunca mais retornem à escola.

A MGF (mutilação genital feminina) é o corte ou a remoção deliberada da genitália feminina externa. A prática envolve a remoção ou o corte dos lábios e do clitóris. A OMS (Organização Mundial da Saúde) a descreve como "um procedimento que fere os órgãos genitais femininos sem justificativa médica".

A instituição holandesa Terre des Hommes disse que muitas meninas já sofreram mutilação ao voltarem para suas casas. O projeto administra uma casa de proteção para meninas contra a mutilação genital na Tanzânia.

"A comunidade aproveitou essa situação da covid-19 e, onde as crianças estão agora em casa, estão cortando suas filhas. Eles sabem que é contra a lei, mas não têm medo. Tivemos uma mãe que foi presa por um ano depois de realizar a MGF [mutilação genital feminina], mas para ela [mãe, sua filha] é feliz. Ela está presa, mas a garota está cortada."

Somente na África ocidental e central, 120 milhões de crianças foram mandadas para a casa após o fechamento das escolas.

"O ensino médio é um grande retardador do casamento precoce. Nesta região da África ocidental e central, quatro em cada dez meninas são casadas antes dos 18 anos. Se você olhar para os países do Sahel - Mali e Níger, Burkina Faso - são seis em cada dez", diz Andy Brooks consultor de proteção infantil do Unicef na África Ocidental e Central.

Eric Hazard, diretor de campanha da Save the Children in Africa, apontou o risco de violência sexual em meninas que não estão na escola. "Nós sabemos o que aconteceu durante a crise do Ebola. Houve um aumento de crianças que abandonaram a escola, em particular meninas. Mais de 11 mil meninas na Serra Leoa ficaram grávidas. Precisamos prestar muita atenção ao risco secundário [de bloqueio] em termos de violência e abuso sexual contra crianças."