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Coronavírus: presas idosas nos EUA pedem para ver filhos 'antes de morrer'

Getty Images/EyeEm
Imagem: Getty Images/EyeEm

De Universa, em São Paulo

03/06/2020 15h54

Mulheres que sobreviveram a abusos sexuais, ao câncer e à guerra, e que hoje estão em prisões nos Estados Unidos, fazem um apelo para que possam ver os filhos "antes de morrer". O site The Guardian mostra em reportagem de hoje que a pandemia do novo coronavírus já chegou a algumas unidades prisionais e está deixando em pânico prisioneiras, em especial as mais velhas.

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, está enfrentando uma pressão crescente para conceder clemência a dezenas de mulheres idosas e vulneráveis que cumprem longas penas na prisão e estão em alto risco de morte por covid-19. Entre elas estão sobreviventes de violência doméstica, de doenças geralmente terminais, da guerra, e a maioria está encarcerada em locais onde o coronavírus se espalha rapidamente.

Ativistas de direitos humanos dizem que a rápida liberação de prisioneiros mais velhos e com a imunidade comprometida é necessária e pode potencialmente salvar centenas de vidas, mas Newsom resiste em dar clemência a pessoas condenadas por crimes classificados como graves ou violentos.

Mais de 6.000 prisioneiros contraíram o vírus no estado, pelo menos 23 morreram e as instalações continuam superlotadas.

Lutando contra o câncer e a covid-19 ao mesmo tempo

A reportagem ouviu algumas das mulheres que pediram para serem liberadas do encarceramento por conta de sua situação de saúde. Patricia Wright, por exemplo, tem 68 anos e está presa em Los Angeles. Ela tem câncer de fígado terminal, está atualmente em quimioterapia e provavelmente tem poucos meses restantes de vida: "Sou frágil e tenho tanto medo de morrer aqui", ela afirmou. "Sofro de solidão. É mais difícil que o câncer."

"É comovente estar longe dos meus filhos e netos. Só espero poder vê-los antes de deixar este mundo", ela diz.

Presa há mais de duas décadas, ela é legalmente cega e usa cadeira de rodas. Wright foi condenada por assassinato, acusada de contratar alguém para matar seu marido abusivo.

"Não sou uma ameaça para a sociedade", disse. "Eu ouvi o governador Gavin Newsom falar. Eu sei que, se ele soubesse da minha condição, ele me ouviria".

Maria Aredondo, 67 anos, outra prisioneira, tem câncer de mama em estágio dois e é mantida na mesma prisão que Wright. Ela foi condenada por assassinato depois que sua arma foi usada em uma tentativa de assalto que acabou em latrocínio. Segundo seus advogados, ela foi transferida para uma cela suja após voltar da quimioterapia no mês passado. Ninguém verificou se ela estava bem, disse sua filha, Maria Nuñez.

"Toda vez que temos notícias, ela diz que sua saúde está se deteriorando", acrescentou Nuñez.

Terri Hardy, porta-voz da prisão, disse que as mulheres foram transferidas "para permitir mais distanciamento social" e que as celas são limpas antes das transferências. As mulheres colocadas em isolamento ou quarentena devido à covid-19 têm acesso a "rondas médicas diárias", afirmou.

Carole Dunham, 29 anos, foi condenada por uma acusação de tráfico de drogas e foi presa depois de não completar o serviço comunitário. Ela tem dois filhos e é mãe solo, já que o marido foi assassinado.

Dunham tem diabetes tipo 1 e disse que recentemente desmaiou dentro de uma prisão em Los Angeles porque seu nível de açúcar no sangue estava muito baixo. Como a covid-19 se espalhou entre as mulheres ao seu redor, ela disse que o tratamento da equipe da cadeia piorou, e ela luta para obter a nutrição básica de que precisa. Às vezes eles lhe dão comida podre, ela disse em um telefonema.

"Nossos direitos estão sendo violados aqui", disse Dunham. "O que acontece se meus filhos ficarem sem mãe e pai? Eu penso nisso o tempo todo."

O escritório do xerife de Los Angeles, que administra essa prisão, não respondeu às perguntas do Guardian.