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Selecionada por Harvard, jovem cria rede para ajudar nordestinos com bolsas

Natália Cecília Ribeiro foi selecionada para estudar economia em um intercâmbio na Universidade Harvard - Arquivo Pessoal
Natália Cecília Ribeiro foi selecionada para estudar economia em um intercâmbio na Universidade Harvard Imagem: Arquivo Pessoal

Carlos Madeiro

Colaboração para Universa

02/06/2020 04h00

Em 2018, Natália Cecília Ribeiro, 23 anos, deixou Arapiraca, cidade no semiárido alagoano, a 122 quilômetros de Maceió, para cursar relações internacionais na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Era o primeiro de um de seus sonhos que se tornavam reais. Dois anos depois, veio um segundo: a seleção para estudar economia por um ano em um intercâmbio na Universidade Harvard, em Cambridge, nos EUA.

A escolha não só a fez pensar no seu futuro, mas despertou na jovem o desejo de ajudar outros nordestinos a terem informações e chances de disputar vagas em intercâmbios internacionais, além de oportunidades nacionais.

Após ser aprovada e virar notícia, ela começou a ser procurada nas redes sociais em busca de dicas. "Recebi muitas mensagens de pais e de jovens com sonhos e dúvidas: foram quase 3 mil. Então resolvi criar uma conta no Instagram pensando em atender melhor a todos e deixar a informação acessível. Senti falta disso durante meus dois processos de aplicação", explica.

Ela conta que a ideia do Instagram (@nordestenerd) é cobrir uma lacuna de informações sobre oportunidades para estudantes da região Nordeste. "Algo que eu me questionava muito era de eu ficar sabendo de muitas oportunidades aqui no Sul, e essas vagas são para o Brasil todo. Existem oportunidades com bolsas de 100%, e meus amigos de Arapiraca e Maceió não fazem ideia", cita.

Democratização de acesso

Natália Harvard 1 - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Além de divulgar bolsas, outra ideia do Instagram é trazer depoimentos de nordestinos que conseguiram estudar dessa forma para que expliquem como foi o processo. "Estou tentando trazer depoimentos deles em suas pós, seja mestrado ou doutorado. Muita gente quer saber sobre isso. Também estou tentando trazer depoimentos de quem conseguiu fazer graduação fora", diz.

Natália saiu de Alagoas em 2017 e se sente uma privilegiada por ter estudado em escola particular sua vida inteira. Agora, além de orientar estudantes de sua terra natal, ela quer fazer mais: conseguir identificar os alunos "excepcionais" que precisam de uma chance. O objetivo é ligá-los a escolas ou a cursinhos preparatórios para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

"Minha ideia inicial é captar recursos ou bolsas com grupos empresariais e direcioná-las para alunos-destaque. A princípio serão bolsas em cursos de inglês. Estou estruturando um processo seletivo no qual o aluno que quiser concorrer terá que enviar histórico escolar, carta de recomendação de um professor ou diretor e um vídeo contando sua história e explicando por que quer aprender inglês", explica.

Todo material enviado é somente para análise. "É muito fácil a gente entender que a educação é o que vai mudar as coisas, mas a gente tem que saber que a educação que muda é aquela que oferece possibilidades. Eu, como aluna de escola particular, nunca vou saber o que o aluno da escola pública passa e passou. Mas o que eu puder fazer pra ajudar esse aluno, farei."

Espera pela pandemia

Apesar de aprovada, Natália não sabe ainda se irá para Harvard no próximo semestre por causa da pandemia do novo coronavírus. Também por causa da Covid-19 ela decidiu ficar em Florianópolis porque a mãe e avó são idosas e moram na mesma casa.

Além disso, ela ainda aguarda a aprovação de uma bolsa pela Fundação Educar (ela participa da seleção, que tem sete fases e resultado previsto para junho). "Se eu não conseguir a bolsa, vou fazer Vakinha [vaquinha virtual] e pedir patrocínio de empresas. Minha família vai arcar com mais ou menos 30% dos custos", relata.

Natália diz que que escolheu Harvard pelos professores. "Em especial pelo Amartya Sen, que ganhou o Nobel de Economia em 1998. Os trabalhos dele são voltados para o desenvolvimento econômico com preocupações sociais como justiça, IDH [Índice de Desenvolvimento Humano], mitigação da pobreza", conta.

Depois de formada ela diz que planeja trabalhar em uma grande empresa de tecnologia. "Quero atuar em uma pasta de cunho social. Quero ainda fazer meu MBA fora e, depois disso, trabalhar com empreendedorismo social, principalmente no Nordeste."