Isolamento social agrava violência doméstica entre imigrantes no Brasil
Em meio à pandemia de Covid-19, uma imigrante boliviana procurou, no fim de abril, a Casa da Mulher Brasileira, localizada no Cambuci, região central de São Paulo. Apesar do nome, o centro de atendimento a vítimas de violência doméstica atende também estrangeiras que vivem no país.
Na primeira vez que foi ao local, a vergonha e o medo a impediram de contar todos os maus-tratos que estava sofrendo, e a mulher foi embora sem formalizar uma denúncia. Mas ela retornou dias depois e, com coragem, revelou sua história.
"Essa mulher procurou a casa com muita dificuldade. O marido a estuprava todo dia para que ela engravidasse novamente e não pudesse voltar para a Bolívia. Imediatamente, a juíza concedeu medidas protetivas e a guarda do filho do casal, de 1 ano, que estava em casa com o agressor", conta Maria Cecilia da Silva, comandante regional da Guarda Civil Municipal.
"Ela estava muito angustiada que a criança ficasse só com o pai e com medo do que ele poderia fazer quando descobrisse que ela não voltaria", conta. Foi então que Maria Cecilia organizou uma bem-sucedida operação para resgatar o bebê e entregá-lo à mãe. O pai, segundo a comandante, não ofereceu resistência e entregou o filho.
Barreira da língua
A língua e a distância da família acabam deixando as imigrantes ainda mais vulneráveis. A maioria não fala português e tem poucos contatos além do companheiro e do empregador. "Há muitas ocorrências na região do Brás envolvendo principalmente bolivianas e chinesas. Elas têm direito às medidas protetivas e nós monitoramos se estão sendo cumpridas ou não", afirma a comandante.
A Guarda Municipal atua no cumprimento de ordens judiciais, como ocorreu no caso do bebê, e ajuda na retirada de pertences e documentos das mulheres que aceitam ser abrigadas pelos serviços públicos de acolhimento.
É importante destacar que as mulheres agredidas têm local seguro e gratuito em que podem ficar, inclusive com seus filhos, enquanto buscam a ajuda de familiares ou amigos ou aguardam a decisão judicial para a saída do agressor de suas casas.
A advogada Patricia Vega, que atua no Centro Integrado do Imigrante, em São Paulo, também percebeu que a quarentena agravou a violência doméstica entre as famílias estrangeiras. "Com certeza piorou", diz ela. "Atendi várias mulheres e até chamei a polícia da minha casa para uma cliente que me ligou desesperada, dizendo que estava trancada em um quarto e que, se ela saísse, o companheiro a mataria."
Os telefones para pedir ajuda, 24 horas, em São Paulo são (11) 3275-8000 (Casa da Mulher Brasileira), (11) 2833-4252 (Coordenação de Políticas para mulheres) e 156 (municipal). No país todo, as denúncias podem ser feitas pelo 180 e também pelo aplicativo Direitos Humanos BR.
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