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'Tive que escolher entre o pai e a mãe em um divórcio', diz Carla Zambelli

Moro discursa em casamento de Carla Zambelli - Reprodução/Redes sociais
Moro discursa em casamento de Carla Zambelli Imagem: Reprodução/Redes sociais

Marcos Candido

De Universa

24/04/2020 15h50

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) esteve com Sérgio Moro momentos antes do então ministro anunciar a demissão e acusar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de interferir politicamente na Polícia Federal.

Segundo ela, a possibilidade de um pedido de impeachment presidencial é uma medida "oportunista" — a deputada afirma que a interferência política do presidente na PF é prevista na Constituição.

A equipe do ministro Moro, porém, estava abatida com a situação nesta manhã, diz Zambelli. Só não era possível decifrar qual era o humor do maior símbolo da operação Lava-Jato. "Moro não muda de expressão. A expressão é sempre a mesma", explica a deputada.

Moro é padrinho de casamento de Zambelli com o coronel Aguinaldo de Oliveira. O convite para apadrinhá-los partiu do marido, e Moro aceitou com carinho. A cerimônia aconteceu em fevereiro em um templo maçônico em Brasília.

Além da relação com Moro, Zambelli também é uma das maiores defensoras de Bolsonaro e ganhou projeção ao liderar grupos anticorrupção em São Paulo. O presidente mesmo não foi à celebração, mas enviou seu sobrenome influente para lá.

A primeira-dama Michelle Bolsonaro foi ao casamento de Zambelli. A secretária especial da pasta de Cultura, Regina Duarte, também. Outro linha de frente do bolsonarismo, Abraham Weintraub, vestiu-se a rigor para prestigiar a união da deputada eleita com 76 mil votos em 2018. Moro discursou.

"Quero fazer uma homenagem ao coronel [Oliveira], que é muito importante na Força Nacional. E [se referindo à noiva] não é todo mundo que sai na rua com coragem de se manifestar pelo país. Eu sinceramente não sei se teria coragem, mas [Carla] é uma guerreira, merecia uma medalha", falou Moro ao microfone. (Assista vídeo abaixo)

Nesta sexta (24), Moro pediu demissão do cargo como ministro da Justiça e Segurança Pública. Era o nome mais popular do governo; a notícia caiu como uma bomba em uma Brasília já inflamada pela crise do novo coronavírus.

No encontro com Zambelli nesta manhã, Moro disse que só voltaria atrás se Valeixo ficasse no cargo. "É como se eu tivesse que escolher entre meu pai e minha mãe, com quem vou ficar em um divórcio. É complicado", diz.

Segundo a parlamentar, os dois poderiam ter trabalhado em conjunto, mas cada um tinha direito a tomar as decisões que tomou. Um, constitucional. O outro, de escolher com quem trabalhar.

"É uma interferência política porque o presidente é político. Isso é crime? Isso está na Constituição, que o presidente pode escolher", diz. Para ela, a interferência não abalaria na imparcialidade da PF.

Parlamentares como a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) e a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) apontaram possível crime de responsabilidade por Moro ter afirmado que não assinou o pedido de demissão do então diretor da PF e por ter acusado Bolsonaro de interromper investigações da corporação.

"O presidente também me informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no STF e que a troca também seria oportuna na Polícia Federal por esse motivo", afirmou o ministro durante a coletiva em que anunciou a saída do cargo.

Zambelli também teria falado com Valeixo ao telefone. Ela diz que ele já havia cogitado pedir demissão para evitar o mal-estar em Brasília. "Ele [Valeixo] queria sair? Não, mas queria aliviar a pressão entre Sergio Moro e o presidente", explica. "O pedido de impeachment é político e oportunista. Não existe materialidade."

E daqui para a frente? "Espero continuar a amizade que tenho com Moro e espero que ele entenda que sou base do governo e preciso apoiar o governo a governar. Digamos que eu vou morar com o JB, como se fosse minha mãe e com quem eu moro, mas manter a amizade com o pai", conclui.

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