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Tabata Amaral sobre declarações de Moro: "Foi uma delação premiada"

A deputada Tabata Amaral (PDT-SP): dúvidas sobre impeachment em momento de pandemia - Pedro Ladeira/Folhapress
A deputada Tabata Amaral (PDT-SP): dúvidas sobre impeachment em momento de pandemia Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Camila Brandalise

De Universa

24/04/2020 13h41

Embora a demissão do agora ex-ministro Sergio Moro já estivesse sendo ventilada no Congresso, os parlamentares não cogitavam que, na coletiva que ele realizou nesta sexta-feira (24), fizesse tantas revelações que comprometessem o presidente Jair Bolsonaro.

"Ninguém estava esperando isso por aqui. Está todo mundo completamente estarrecido", afirma a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP). "Não foi uma coletiva, foi uma delação premiada", disse à reportagem de Universa.

Tabata diz reconhecer uma série de crimes atribuídos a Bolsonaro nas falas de Moro. "Elas abrem duas direções: por um lado, tem acusações muito graves de tentativa e intervenção do Bolsonaro na Polícia Federal que, como o próprio ministro falou, essa intervenção não aconteceu nos governos do PT", afirma.

"E tem uma segunda coisa que parece menor,, mas não é: quando Bolsonaro utiliza assinatura do Moro sem sua autorização [em uma exoneração publicada no Diário Oficial], o que a gente vê são maracutaias e ilegalidades."

A deputada levanta duas perguntas. "Será que a PF chegou em alguma investigação, por exemplo, no financiamento das fake news ligado ao governo, que está motivando isso, ou será que chegou em seus novos aliados, como a gente viu nessa parceria dele [Bolsonaro] com Roberto Jefferson, que tem uma investigação correndo na polícia?"


Dúvida em relação ao impeachment: "Paralisar o país com tantas pessoas morrendo será péssimo"

Tabata afirma já ter marcadas diversas reuniões ao longo da tarde com deputados, senadores e movimentos da sociedade civil que se consolidaram com as manifestações de 2013 para discutir a viabilidade de um pedido de impeachment, sobre o qual ela admite ter dúvidas por estarmos atravessando a maior crise de saúde pública dos últimos anos.

"É justamente a pandemia que está me segurando. Em outros momentos, não teria dúvida. Tenho certeza que ele escolheu esse momento para tirar algumas pessoas, como Mandetta [Luiz Henrique, ex-ministro da Saúde] e Moro. Só continuam lá pessoas que concordam com governo baseado no ódio, como Weintraub [Abraham, ministro da Educação], Ernesto [Araújo, das Relações Exteriores] e Salles [Ricardo, do Meio Ambiente]. Ele escolheu esse momento delicado porque sabia que seria mais difícil uma adesão que pedisse seu afastamento."

Apesar da dúvida, a deputada diz estar agindo com os colegas em uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para analisar as falas de Moro, para a qual já se inscreveu para participar, e também integra um movimento que encaminhará um pedido de investigação à PGR (Procuradoria Geral da República).

"A discussão é sobre o que fazer. É melhor ir tapando buracos: conter Bolsonaro, e engolir esses crimes que ele está cometendo, ou dar um basta nele, mas enfraquecer um combate que já está enfraquecido, o da saúde?"