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Em cárcere privado, mulher escreve pedido de socorro com batom em toalha

Pedido de socorro escrito com batom na toalha ajudou vítima de cárcere privado a conseguir escapar - Divulgação
Pedido de socorro escrito com batom na toalha ajudou vítima de cárcere privado a conseguir escapar Imagem: Divulgação

Hygino Vasconcellos

Colaboração para Universa

22/04/2020 14h06

Uma mulher de 42 anos conseguiu escapar do cárcere privado no qual estava sendo mantida pelo companheiro em Chapecó, no oeste de Santa Catarina. Para isso, ela escreveu um pedido de socorro com um batom em uma toalha e a jogou pela janela. No pano estava escrito "SOS" e o número do apartamento dela.

Um vizinho viu o pedido e bateu na porta do apartamento. No momento em que o suspeito, de 34 anos, abriu a porta, a mulher aproveitou para fugir. Ele acabou preso.

O caso aconteceu na madrugada de segunda-feira (20). Segundo a Polícia Militar, o homem chegou em casa por volta das 2h30 da manhã sob efeito de drogas e passou a discutir com a companheira. Ele teria pegado a mulher pelo pescoço e tentado estrangulá-la, provocando hematomas.

"Ele fazia ameaças e passou a manusear algumas facas que existiam na casa. Isso deixou-a intimidada, temerosa. Ela falou que iria sair de casa e foi quando ele trancou a porta", conta o delegado José Airton Stang, da Delegacia de Proteção à Criança ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (DPCami) de Chapecó.

Facas apreendidas vale - Divulgação Polícia Militar - Divulgação Polícia Militar
As duas facas foram apreendidas na casa do suspeito de cárcere privado e agressão
Imagem: Divulgação Polícia Militar

Segundo a polícia, a mulher acalmou um pouco o companheiro conversando com ele, mas não conseguiu pedir socorro, já que ele escondeu a chave do apartamento e o celular. Por isso, ela esperou até o início da manhã, quando começou a jogar objetos pela janela do apartamento para chamar a atenção dos vizinhos, além de escrever o pedido na toalha.

Após a mulher escapar, a PM foi chamada. Duas guarnições entraram no apartamento e encontraram o suspeito escondido no banheiro. Ele se entregou sem resistência. Para os PMs, o homem confessou ser usuário de cocaína e disse que discutiu com a esposa por ciúmes, mas negou agressões. No local, foram apreendidas duas facas grandes que o autor teria usado para ameaçar a vítima.

O homem foi preso em flagrante por cárcere privado e lesão corporal. Segundo o delegado, o casal estava havia menos de um ano junto e não há pedido de medida protetiva dela contra ele. Em dezembro do ano passado, a mulher fez uma ocorrência por desaparecimento do homem, que foi retirada depois, após ele reaparecer. "Provavelmente ele teve algum surto, algo relacionamento com droga", acredita Stang.

Aumento de casos de violência

Chapecó registrou aumento no número de ocorrências contra a mulher no mês passado. Foram 162 casos de ameaças em março deste ano contra 138 no mesmo período do ano passado. Os boletins de ocorrência de lesão corporal subiram de 24 para 62.

Ainda não há dados consolidados desde o início da quarentena no estado, que foi em 17 de março. Entretanto, o delegado lembra de dois casos de mulheres que, ao tentarem escapar do companheiro, pularam da janela e caíram de uma altura de mais de 6 metros. As duas foram hospitalizadas, mas passam bem.

A primeira ocorrência foi em 14 de março, um pouco antes da quarentena oficial (mas quando algumas pessoas já estavam em isolamento social). A mulher pulou da sacada do terceiro andar. Ela relatou aos policiais que tentou fugir para o apartamento vizinho durante uma briga com o companheiro. A mulher achava que o homem tivesse pegado uma faca e, por isso, tentou escapar. Na delegacia, ele negou que estivesse com a faca.

A outra foi em 5 de abril. Um casal começou a discutir e, em seguida, a mulher se jogou da janela do quarto. Ela caiu sobre o telhado de zinco da garagem do edifício e foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros e levada ao Hospital Regional do Oeste com ferimentos graves. Conforme o delegado, as situações podem ter relação com a maior convivência dos casais no momento atual, no qual as pessoas estão mais em casa.

"A gente sabe que as pessoas estão mais juntas. Os casais que já tinham conflitos antes da pandemia agora têm que ficar um longo período juntos. A gente sabe que aumenta a tensão e o risco da violência doméstica", comenta Stang. Para o delegado, o caminho para as vítimas é denunciar (veja abaixo como).

Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública de Santa Catarina observou que ocorreu uma queda de 36,6% nos registros de ocorrências de violência doméstica no Estado. Entretanto, o levantamento comparou todo o mês de março deste ano com 12 dias de abril — ou seja, 215 ocorrência em março contra 132 em parte de abril.

Como denunciar

Toda mulher que se sentir ameaçada em seu lar, pode denunciar o agressor de forma instantânea sem sair de casa apenas ligando para 180. Em Santa Catarina, é possível fazer denúncias pelo WhatsApp pelo número (48) 98844-0011 ou registrar boletim de ocorrência pelo site da Polícia Civil.

Em outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, além do Distrito Federal, é possível também fazer o registro do boletim de ocorrência pela internet. No país todos, ligações para a Polícia Militar, no 190, são outro canal de denúncia. E, presencialmente, os registros podem ser feitos em qualquer delegacia de polícia ou nas Delegacias de Defesa da Mulher.