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Não teve paciência? As lições que Gabi tentou ensinar e Paula não ouviu

Gabi Hebling, participante do BBB 19 - Reprodução / TV Globo
Gabi Hebling, participante do BBB 19 Imagem: Reprodução / TV Globo

De Universa

19/04/2020 13h37

A participante Rafa Kalimann, do BBB 20, defendeu recentemente Paula von Sperling, ganhadora do 'BBB 19', que ficou marcada por falas e atitudes consideradas racistas pelo público, além responder criminalmente a queixas de intolerância religiosa, que surgiram quando ainda estava no programa.

Em conversa com os demais finalistas, a influenciadora disse: "A menina é lá do interior, é outra cultura. Ela mora numa cidade pequena. Ela era muito avoada, não fazia na maldade, na malandragem. Ela fazia pergunta de vergonha alheia, tinha menos informação do que a gente tem".

Babu e Thelma discordaram, apontando que Paula é formada em advocacia e por isso já teve muito acesso à informação. Rafa, no entanto, continuou com a defesa, afirmando que os pensamentos que Paula trazia fazem parte da cultura do interior e que os colegas da edição passada não tiveram paciência para ensiná-la. "Ela foi muito criticada porque falou [a expressão] 'humor negro'. Você e o Babu têm a tolerância de nos ensinar. Às pessoas não tinham paciência",

Thelma, então, citou Rodrigo França e Gabi Hebling, militantes contra o racismo que participaram da mesma edição que Paula, dizendo que eles tentaram dialogar com a mineira.

Rodrigo, que tem feito constantes críticas à edição, se manifestou sobre o assunto no Twitter:

A seguir, relembramos quatro situações em que Gabi, que é lésbica e militante dos movimentos feminista e negro, começou diálogos sobre temas importantes para a sociedade, em especial o racismo, durante sua participação no reality, mas não foi ouvida:

"Racismo reverso" não existe

Após Tereza declarar que "mulheres brancas de olho claro também passam por racismo" e se desculpar logo em seguida, dizendo que usou a palavra errada, Gabi e Rízia aproveitaram a deixa para explicarem por quê não se trata de racismo: "É um sistema de opressão. Para nós negros sermos opressores a gente teria que estar no poder. E não estamos", disse Gabi. Ela aproveitou para relembrar à Isabella, que também participava da conversa, sobre acontecimentos históricos, como a escravidão e a chegada dos negros ao Brasil em navios negreiros.

"Quando vemos que uma pessoa negra não foi contratada para uma vaga por conta do cabelo ou de outra questão estética, por exemplo, isso é racismo. E uma pessoa branca não vai passar por isso. Pessoas negras não possuem poder para oprimir pessoas brancas. Quem compreende isso, sabe que não pode existir racismo reverso", comenta Luana Génot, especialista em relações étnico-raciais.

"Cabelo ruim" é preconceito

No quarto, Paula disse que "também tinha cabelo ruim". Quando escutou, Gabriela rebateu dizendo que "ruim é o preconceito". Em outro momento, trocando ideias com seu grupo, confessou que teve problemas em aceitar o próprio cabelo e que chegou a "amarrar uma blusa na cabeça para fingir que era liso", relembrando o quanto essa questão pode ser complicada, principalmente na época da escola.

Sobre o assunto, Luana comenta: "Vivemos em uma sociedade que ainda cultua padrões eurocêntricos de beleza. O padrão do belo ainda é o da pessoa branca, loira, de cabelos lisos e olhos claros, totalmente divergente das pessoas negras. Essa questão é delicada, principalmente para as mulheres. Se formos analisar, alguém de cabelo liso pode ter dificuldade para fazer certos penteados, como tranças, que se soltam rápido. Da mesma forma, quem tem o cabelo crespo tem dificuldade em fazer outros penteados. Por que um deles deveria ser considerado bom e o outro ruim?"

Cota não é esmola

Em outro momento, Gabriela disse enfaticamente que "cota não é esmola", fazendo referência a uma música com o mesmo título, da cantora e instrumentista Bia Ferreira.

Luana acrescenta: "Cota não é esmola porque faz parte de um processo de reparação histórica. Os negros foram escravizados, ajudaram na construção de um país e depois da falsa abolição, foram jogados nas ruas sem a mínima estrutura de educação ou trabalho, a maioria sequer sabia ler. A consequência disso foi a aglomeração deste povo em grandes favelas e comunidades extremamente pobres, o que reduzia sua chance de ascender socialmente, já que as oportunidades sempre foram negadas para pessoas negras e isso foi repassado para várias gerações".

"O que gera muita polêmica é que pessoas brancas, que sempre desfrutaram de privilégios, não querem perdê-los e acabam tendo raiva das cotas raciais, quando na verdade ela visa equiparar toda uma sociedade - o que é bom para o país. E é importante dizer que, ao contrário do que muitos pensam, não existem só as cotas raciais: existem as cotas sociais e de outras vertentes também", finaliza.

Se ofende, por que dizer?

Gabriela confessou para Rodrigo que "doeu" quando escutou Paula utilizar a expressão "humor negro". Depois, ainda tentou conversar com a mineira sobre o assunto, mas não encontrou abertura. Paula, que se mostrou impaciente com a conversa, tentou explicar a ela o significado da expressão e ainda usou a palavra "denegrir", cuja origem também é racista.

Sobre o desentendimento, Luana aponta: "As pessoas negras estão debatendo sobre diversas expressões que colocam o negro como ruim. Não significa que a expressão 'humor negro' vai ser considerada racista por todos, mas questão é ouvir o que a outra parte tem a dizer sobre o assunto. Se achar ofensivo, o ideal é procurar entender e mudar os termos. Até porque pessoas negras estão acostumadas a conviver com expressões racistas o tempo todo e há anos", defende.

* Com informações da matéria: "Você está sendo racista sem perceber? Gabriela, do BBB, pode te mostrar", publicada em 2019.

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