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Amor impossível: por que certas mulheres se interessam por caras errados?

Ninguém se apaixona por um "boy lixo" de propósito - Getty Images
Ninguém se apaixona por um "boy lixo" de propósito Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

19/04/2020 04h00

Casados ou em um relacionamento sério, "filhinhos da mamãe" que não querem nem pretendem sair da casa dos pais, solteirões convictos, gays e, numa frequência bem menor, até padres. Há mulheres que parecem escolher de propósito se apaixonarem por crushes da categoria "impossível". Entretanto, isso não é intencional - existem vários fatores do subconsciente, portanto desconhecidos para elas - por trás desse comportamento que precisam ser olhados de perto.

Uma das possíveis motivações é optar - vale ressaltar, não se trata de algo racional - por não consumar a relação, que ficaria confinada ao nível platônico. "Em muitos casos, o medo da rejeição é tão forte que a mulher acaba escolhendo viver envolvimentos improváveis com sujeitos sem qualquer disposição para abrir mão de suas condições e assumir uma relação que vá além de se tornarem amantes ocasionais", observa Mara Lúcia Madureira, psicóloga especializada em terapia cognitivo-comportamental. Sim, pode rolar muito sexo, mas nunca atravessar aquele limite que uma relação casual se transformar em algo sério.

A segunda perspectiva frequente é agirem movidas pelo desafio e pelo sabor da conquista. Não é à toa que muitas mulheres simplesmente perdem o interesse quando o homem passa a corresponder às tentativas de sedução. Isso acontece por dois motivos cujas origens remetem à infância. "As experiências de abuso emocional, físico ou e/ou sexual, os traumas, o abandono e a sensação de não serem amadas podem levar muitas crianças a desenvolverem certos modos de pensar e se comportar que acabam se repetindo ao longo da vida", comenta Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e terapeuta sexual pelo Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade).

Pautadas por esse histórico arrasador, no qual também é preciso incluir o exemplo nocivo de conflitos e brigas entre os pais, muitas mulheres acabam acreditando que não merecem amor, respeito e carinho. "Daí, partem para relacionamentos com pessoas que possam confirmar essas crenças ao se mostrarem indisponíveis", fala Marina Prado Franco, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Outra razão é o desejo (lembre-se, fruto do subconsciente) de buscar suprir o amor não recebido na infância através de uma espécie de desafio. "Ao conquistar um homem tido como 'proibido', a mulher se sente realizada, com o ego inflado e a autoestima em dia. Acontece que autoestima não é algo que se deva procurar numa relação. Isso tem de vir sempre de nós mesmos, jamais colocado nas mãos de outros", pontua Marina. Como a tentativa é infrutífera, não é raro que a mulher vá colecionando paixões condenadas ao fracasso e deixando atrás de si um rastro de dor e mágoa, para os outros e para si.

A idealização que isso envolve também é um ponto a ser considerado, segundo psicanalista Priscila Gasparini Fernandes, especialista em neuropsicologia. "O relacionamento nunca irá trazer à mulher o prazer que ela projetou inconscientemente. Se a relação se torna real e acessível ela irá partir para outro mais difícil onde fantasie coisas que, caso se concretizem, perdem o encanto. Quando homens disponíveis demonstram querer um envolvimento saudável, muitas dessas mulheres os evitam - um exemplo típico de autossabotagem. "Elas fogem por não se valorizarem, não se gostarem e não se permitirem viver algo bom e verdadeiro. Têm um medo inconsciente de sofrer decepções e evitam essas relações", diz Priscila.

Para Mara Lúcia, é possível romper esse ciclo vicioso. Primeiro, tomando consciência das próprias ações e entendendo que nenhuma mulher é o que ela faz. "Mesmo que sempre tenham agido desse modo, todas podem aprender outras maneiras de interação. É vital que não se confundam com os próprios comportamentos", explica. "O passo seguinte é buscar ajuda para superar os medos, desenvolver autoestima e amor próprio. Exemplos? Fazer psicoterapia, ioga, lutas marciais, pilates, corrida, pedalar, meditação, crossfit ou qualquer outra atividade que resgate ou desenvolva a autoconsciência. Essas atividades ajudam a aprender a gostar de si, de estar em sua própria companhia, a lidar 'de boa' com o fato de estar só de vez em quando e a construir um repertório de pensamentos e comportamentos que tragam consequências satisfatórias", orienta.