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O nome dela é Gessilma: conheça a intérprete de Libras de Marília Mendonça

Gessilma Dias foi convidada pela produção de Marília Mendonça para live no Youtube Imagem: Arquivo pessoal

Luiza Souto

De Universa

09/04/2020 12h51

Fã de Marília Mendonça, a fonoaudióloga Gessilma Dias, 45 anos, nunca havia trabalhado como intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) num evento musical. Até a noite desta quarta-feira (8), quando passou mais de três horas traduzindo para a língua usada por surdos os hits da cantora sertaneja, numa live no YouTube que chegou a atrair mais de 3 milhões de espectadores simultâneos no seu canal oficial.

"Não estou conseguindo processar o que está acontecendo", ela ri, ao telefone, ao saber dos inúmeros memes e elogios ao seu trabalho na internet.

Apesar de já terem criado um falso perfil dela no Instagram (é só ficar atento ao número de seguidores), a lista de elogios que Gessilma recebeu é enorme, e foi de icônica...

À lenda.

Religiosa, a goianiense tinha 17 anos quando convidou duas vizinhas surdas para um culto. Não havia ali um intérprete de Libras e as jovens nada entenderam:

"Elas faziam cara de paisagem e fiquei envergonhada por elas não conseguirem entender, então fui procurar curso de Libras".

Após formar-se em Fonoaudiologia pela Universidade Católica de Goiás, em 1997, Gessilma foi convidada pela secretaria de Educação de Goiás, dois anos depois, para integrar o programa de atendimento à diversidade, em que os alunos com deficiência teriam professores capacitados para atendê-los nas escolas regulares. Ela passou, a partir de então, a auxiliar alunos surdos da antiga quinta à oitava série:

"Como tinham poucos profissionais, fazia trabalho itinerante, de sala em sala. E tinha muito aluno surdo".

Gessilma trabalha ainda num centro de capacitação, para formar mais profissionais, e com o isolamento social por causa da pandemia do coronavírus, também tem dado aulas pela internet.

Encontro com Marília Mendonça

Além do trabalho em escolas, Gessilma era eventualmente chamada para atuar em peças teatrais, mas foi a primeira vez que interpretou um show. E ela teve menos de 24 horas para se preparar. Gessilma conta que uma pessoa da produção de Marília Mendonça ligou um dia antes da live, fazendo o convite, mas não sabe como chegaram a ela. Tem um palpite:

"Alguém conseguiu meu telefone e passou para a produção. Tenho 20 anos de trabalho, não são 20 dias. Então é um histórico. E um trabalho desse nível não é fácil. Mas onde fala que precisa de intérprete, nem pergunto. Simplesmente vou, porque ninguém lembra que essas pessoas precisam".

Convite aceito, Gessilma acionou sua rede de amigos e profissionais que atuam no meio. Afinal, seria apenas ela e outro intérprete, Viny Batista, para mais de três horas de show:

"O ideal era uma equipe de pelo menos seis profissionais trabalhando, pra gente se revezar. E foram 52 músicas. Virei a noite estudando, busquei pessoas surdas para me ajudar nesse estudo. Não dá pra fazer da cabeça da gente. Não podia fazer um trabalho mais ou menos. Mesmo assim houve falhas, a gente se perdeu em algumas coisas, mas foi a melhor forma que podíamos fazer. Ninguém pensou nisso até agora, e fico feliz pela Marília ter esse olhar".

Dancinha, caras e bocas

Além da experiência profissional, ser fã de Marília Mendonça deixou Gessilma mais tranquila para o trabalho."Gosto muito dela. Acho que ela conta a história da gente mesmo". Apesar da empolgação, ela tem outra justificativa para as danças animadas que já renderam memes e muitos elogios na rede.

"O surdo tem que entender a diferença entre um Jornal Nacional para um show artístico. Se estou dando notícia sobre a pandemia, preciso estar séria, mas se estou num show, todo mundo está se divertindo. Por que tenho que fazer tradução igual a um robô? As expressões manuais são parte da língua se sinais e tem que incorporar mesmo", ela pontua.

O trabalho foi feito dentro do estúdio da cantora, e elas não tiveram muito contato por conta do isolamento social:

"A gente se viu de longe e não pôde fazer foto, sentar pra conversar. No fim, fomos lanchar e ela agradeceu o trabalho".

Mãe de uma mulher de 30 anos e um homem de 22, Gessilma agora aguarda junto ao marido pelo fim da quarentena. E não somente para voltar a trabalhar.

"Minha mãe está com câncer e, no início da quarentena, teve que interromper a quimioterapia e está isolada em casa, no Mato Grosso, tomando 16 comprimidos por dia", ela lamenta.

Apesar das adversidades, o que Gessilma quer —e vê-se pelas suas redes— é passar mensagem de esperança:

"A gente já tem muito problema na vida, e se ficar ressaltando só as dificuldades, não vamos passar por ela", finaliza.

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