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Caso Prior: por que ler relatos de abuso sexual é "gatilho" para mulheres?

Felipe Prior, ex-BBB, foi acusado de tentativa de estupro e estupro - Globo
Felipe Prior, ex-BBB, foi acusado de tentativa de estupro e estupro Imagem: Globo

Nathália Geraldo

De Universa

04/04/2020 04h00

A revista Marie Claire publicou, na sexta-feira, reportagem em que mulheres acusam de estupro e tentativa de estupro o ex-BBB Felipe Prior. A denúncia tomou as redes sociais com comentários de mulheres, tocadas pelo tema abuso sexual.

Para muitas, no entanto, a descrição dos crimes que ele teria cometido é indigesta de ler — não à toa, parte das mulheres no Twitter e no Instagram compartilhou a notícia avisando que ela era um "gatilho emocional". O termo "alerta de gatilho" chegou a ficar entre os temas mais citados na primeira rede social, na tarde de sexta.

Há pouco tempo, o termo virou piada na internet, gerando esvaziamento da questão e levantando a questão de como certos temas atingem diretamente o bem-estar psicológico das pessoas.

Mas o que significa esse "gatilho"? E por que os conteúdos sobre violência sexual precisam vir com esse aviso?

"Aviso de gatilho": matérias que relatam abuso

Nas publicações de repercussão do caso Prior, parte das mulheres comentou que não conseguiu ler as frases ditas pelas vítimas à reportagem até o final. Outras preferiram avisar a outras mulheres que o conteúdo era sensível, e que poderia despertar "gatilhos" em quem lesse.

Para a psicóloga clínica Maria Regina Daroz Bevilacqua, o "gatilho" a qual as leitoras se referem tem a ver com o despertar de emoções que podem surgir quando alguém vê uma cena, que pode ser de um filme ou novela, sente a presença de outra pessoa ou vivencia qualquer outro tipo de experiência que o faz ter conexão com algo que viveu. "Trata-se de um evento que se conecta a outro, do passado, despertando emoções."

Quando acionados, esses gatilhos emocionais podem se desdobrar em reações físicas, como suor excessivo e tremores. A ansiedade também pode se apresentar nestes momentos.

Por que faz tão mal?

No caso de quem já viveu uma situação de violência de gênero — estupro, agressões, relacionamento abusivo, entre outras — a vítima pode se sentir emocionalmente impactada a ponto de "reviver" o trauma.

"Ainda que mais de 20 anos tenham se passado desde que a situação aconteceu, o cérebro é capaz de gravar os detalhes e revivê-los como se estivessem ocorrendo neste exato momento", explica a psicóloga e terapeuta de casais Mirtes Gonzalez.

Superar: cada uma tem uma forma

Superar o trauma, explicam os especialistas e as próprias vítimas, não funciona de maneira igual para todas. Por vezes, o que foi vivido impacta em várias áreas da vida, como a sexual. Para algumas, a solução é revisitar o trauma e falar sobre ele, outras, buscam terapias, grupos de apoio e informações sobre o tema para que se sinta menos sozinha em sua experiência.

Com informações da matéria Cássia em A Dona: por que cenas de abuso são gatilho para algumas mulheres