Topo

Comediante Jade Catta-Preta estreia série na TV: das vaias à fama nos EUA

Jade Catta-Preta em frente a seu billboard, o painel que mostra a estreia do "The Soup" - Arquivo Pessoal
Jade Catta-Preta em frente a seu billboard, o painel que mostra a estreia do "The Soup" Imagem: Arquivo Pessoal

Fernanda Ezabella

Colaboração para Universa, de Los Angeles

01/04/2020 04h00

O primeiro billboard a gente nunca esquece. E a comediante e atriz Jade Catta-Preta, brasileira que se mudou para os EUA ainda pequena, sabia exatamente o dia e o local em que o painel gigantesco seria levantado, exibindo seu corpo inteiro, em fevereiro último.

Foi numa das ruas mais famosas de Los Angeles, a Sunset Boulevard, a uma quadra de distância do local onde ela começou sua carreira no stand-up, a Comedy Store, um dos clubes de comédia mais importantes da cidade.

Não foi um começo fácil. Jade sofria bullying pesado dos veteranos da casa, que costumavam vaiar e fazê-la chorar, além de atirarem papel molhado quando ela se apresentava no palco. Mas, 12 anos depois, é ela quem brilha no billboard da Sunset.

"Fiquei chocada quando me vi", diz Jade a Universa, no escritório da produtora onde ela grava o programa de TV "The Soup", do qual virou a apresentadora e motivo do billboard da Sunset. "O painel fica na frente da pizzaria que eu frequentava na época do Comedy Store, quando não tinha dinheiro pra nada, só um pedaço de pizza. Voltei lá para comer e me admirar no billboard."

"Beijo na bunda!"

"The Soup", que lançou a carreira de Joel McHale ("Community"), estreou em fevereiro nos EUA e chega ao Brasil em 1º de abril pelo canal E! (veja abaixo o convite que ela faz para o telespectador prestigiá-la).

Apesar de apresentar em inglês, Jade tem feito comerciais do programa em português para o lançamento. E, no fim de cada episódio, ela dá um jeitinho de infiltrar um recado em português: "Um beijo na bunda!", disse uma vez.

O programa semanal faz piada com outros programas de TV, em especial do universo infinito dos reality shows americanos, como as franquias "Kardashians" e "The Real Housewives", um gênero que Jade adora e não tem (mais) vergonha de abraçar.

"Muita gente considera cultura rasa, mas eu acho um experimento muito interessante. Gosto da psicologia humana, de ver como as pessoas reagem quando estão sendo observadas ou isoladas", diz ela, que é fã de "Love Island" e "Dra. Sandra Lee: a Rainha dos Cravos".

Apesar de não acompanhar "Big Brother Brasil", Jade diz que sonha em conseguir colocar alguma novela brasileira para comentar no "The Soup".

"Me sinto brasileira"

Jade se mudou para os EUA com seus pais quando tinha cerca de 10 anos e estudou teatro musical numa faculdade de Boston antes de se mandar para Los Angeles. Como atriz, fez muitos comerciais e descolou pontas nos seriados "Modern Family", "Californication" e "2 Broke Girls". Ela também participa da série "Future Man", atualmente na terceira temporada no Hulu, a maior concorrente nos EUA da Netflix.

Aos 36 anos, ela é rápida no inglês e devagar no português — então fazemos a entrevista numa mistura de "portuguenglish" (ou "portinglês"). Em 2017, Jade visitou o Brasil pela primeira vez em quase 20 anos e desde então volta sempre para fazer stand-up. Muitas vezes abre para o amigo Rafinha Bastos, a quem Jade ajudou na mudança para os EUA, em 2018.

"Honestamente, voltar ao Brasil foi a melhor coisa que me aconteceu. Porque eu andava perdida, não me sentia conectada a nada. É uma indústria muito solitária", disse. "E no Brasil rolou uma conexão profunda comigo mesmo, uma sensação de tudo bem me sentir brasileira, porque eu sou. Posso não morar lá mais, não falar a língua direito, mas foi muito importante."

Além da colaboração com Rafinha, Jade também ficou amiga das comediantes Bruna Louise, Cintia Rosini e Carol Zoccoli. "Elas estão arrasando muito", disse, citando o especial da Netflix "Lugar de Mulher", onde as três aparecem junto com Micheli Machado. "Senti que o Brasil está finalmente começando a levar mulher a sério na comédia."

Hora do show

"The Soup" foi lançado em 1991 com Greg Kinnear ("House of Cards") como apresentador e com comentários sarcásticos sobre os talk-shows da época, mas estava fora do ar desde 2015. Jade diz que a principal diferença do seu trabalho com o dos outros apresentadores é que ela chega com a perspectiva de fã e sem intenção de humilhar ninguém.

"Sinto que o pessoal dos reality shows já está numa situação engraçada. Não quero que eles se sintam piores ainda. Quero celebrá-los, mas também fazer graça", falou.

O programa é rodado toda terça-feira. No resto da semana, ela se reúne com sua equipe de sete roteiristas e quatro pesquisadores, cujo trabalho é separar clipes de diversos programas da TV, incluindo seriados. A criadora é Sue Murphy, que trabalhou por mais de uma década com Chelsea Handler e foi produtora e roteirista do "The Ellen DeGeneres Show".

"Parece que sou bem americana, mas ainda sou bem imigrante e algumas palavras eu não consigo falar. 'World' [mundo] é tão difícil... Tem umas palavras que eu travo. Então o roteiro é arrumado para mim", explica. "Eu leio as piadas, mas estou sempre improvisando e fazendo minhas próprias reações aos vídeos. Tudo tem que ser natural."

Planos de voltar ao Brasil

Em dezembro, ela planeja passar o mês no Brasil e fazer stand-up nos clubes locais. Nos EUA, começou em fevereiro sua primeira turnê própria, já que antes abria para outros comediantes, como Bill Burr, Kevin Nealon e Bobby Lee.

"Estava morrendo de medo de ninguém aparecer, porque quando eu comecei cheguei a fazer shows para três pessoas", diz, rindo. Mas na estreia em Dallas (Texas), ela vendeu todos os ingressos.

A turnê "Tiny Head" (cabeça pequena), apelido que ganhou de Bobby Lee, vai até setembro e passa por 20 cidades. "Agora vamos ver o que acontece com o coronavírus. Espero que as pessoas peguem seu Purell [álcool gel] e continuem indo aos shows."