Topo

Baleada pelo ex reage a morte cerebral no hospital, diz pai

A empresária Karina Souto Rocha, de 29 anos, vítima de tentativa de feminicídio - Arquivo Pessoal
A empresária Karina Souto Rocha, de 29 anos, vítima de tentativa de feminicídio Imagem: Arquivo Pessoal

Simone Machado

Colaboração para Universa

11/02/2020 04h00

Após ter sido baleada pelo ex-namorado por se recusar a reatar o relacionamento, a empresária Karina Souto Rocha, de 29 anos, teve a morte cerebral constatada no hospital ao qual foi socorrida. No momento em que os aparelhos seriam desligados, uma surpresa: ela reagiu, mexendo as mãos. Novos exames mostraram que, apesar do estado de saúde de Karina ser grave, ele é reversível.

Karina está internada no Hospital Municipal de Barra do Garças, a 520 quilômetros de Cuiabá (MT) após ser vítima de uma tentativa de feminicídio no dia 1º de fevereiro. Seu ex-namorado Baltazar Augusto de Menezes, 58, a baleou três vezes após a jovem se negar a voltar com ele. Os tiros atingiram o rosto, o tórax e o abdômen de Karina. Baltazar se matou em seguida com um tiro na cabeça.

Segundo o pedreiro José Rocha Cardoso, 56, pai de Karina, a moça deu entrada no hospital na tarde do crime, um sábado, em estado gravíssimo. Na segunda-feira seguinte, dia 3, os médicos decretaram sua morte cerebral. Apesar de toda a dor, a família de Karina autorizou que os aparelhos fossem desligados.

"O médico me chamou e disse que o quadro dela era irreversível. Os exames mostravam que não tinha mais o que a medicina fazer pela minha filha, mas no meu coração eu sentia que ela não iria morrer", conta José.

Família espantada

Segundo o pai, por volta das 14h, quando uma enfermeira foi até o quarto para fazer o desligamento, percebeu que a empresária mexeu uma das mãos. Espantada, a profissional chamou pelo nome de Karina — e ela teria respondido com um movimento de cabeça.

A empresária Karina Souto Rocha - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Karina não quis reatar com o ex e foi baleada três vezes; ele se matou depois
Imagem: Arquivo Pessoal

"A enfermeira saiu correndo e chamou o médico. Em seguida ele veio até mim, chorando. Achei que ele falaria que havia desligado os aparelhos, mas disse que a Karina havia reagido e acrescentou: 'Isso foi Deus, porque eu não fui e a medicina não alcança esse resultado'", lembra José, emocionado. "Os médicos e enfermeiras todos choraram comigo. Todo mundo sabia que a Karina voltou por um milagre."

O pai conta que a empresária passou por novos exames que constataram que ela teria retornado do estado de morte cerebral. Karina foi levada para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e segue internada lá.

"Hoje o estado de saúde dela ainda é grave, mas ela vem se recuperando pouco a pouco. Ela abre os olhos e entende tudo o que conversamos, só a fala ainda não voltou, mas isso é questão de tempo. Está respirando com ajuda de aparelhos, mas a pressão e os batimentos cardíacos estão normalizados. Está tudo certo com ela", acrescenta o pai.

Não há registros na medicina de reversão de uma morte cerebral. Universa entrou em contato com o hospital municipal onde Karina está internada para saber detalhes clínicos do que pode ter acontecido com a empresária. A assessoria de imprensa da prefeitura de Barra do Garças confirma a história, mas afirma que o hospital público e os médicos não devem se pronunciar sobre o assunto.

Relacionamento conturbado com o ex

De acordo com os familiares, Karina e Baltazar ficaram juntos por pouco mais de quatro anos. Apesar do tempo de relacionamento, o homem não assumia Karina como sua mulher e o casal brigava muito, o que teria motivado o fim da relação há cerca de um mês.

"Eles tinham uma relação muito conturbada, por isso ela se separou. Ela achou que com o término ele iria se interessar por outras mulheres e a deixaria em paz", conta o pai dela.

Karina, que era proprietária de um restaurante, vendido há pouco tempo, tem dois filhos, um de 7 e outro de 10 anos. Após a separação de Baltazar. ela começou a namorar outro rapaz, o que teria irritado ainda mais o ex-companheiro.

Na tarde do sábado dia 1º, Karina estava com amigos na casa de uma deles, no bairro Santa Mônica, em Nova Xavantina, cidade onde mora com a família, a 650 quilômetros da capital do Mato Grosso.

Segundo a ocorrência, Baltazar foi até a casa na tentativa de conversar com Karina e reatar o relacionamento, mas os dois começaram uma discussão e ela se negou a voltar com o ex. O homem, então, teria pedido que ela devolvesse uma correntinha que usava e era presente dele. Karina entregou o objeto e Baltazar foi guardá-lo em seu carro, estacionado em frente à casa. Ele, no entanto, retornou armado, deu os três tiros em Karina e se matou em seguida.

O que é morte cerebral?

A morte encefálica, popularmente chamada de cerebral, é resultado de uma descompensação dos mecanismos que regulam a pressão intracraniana e o fluxo sanguíneo cerebral. Nessa condição, quando o coração tenta bombear o sangue para dentro da cabeça, não consegue porque a pressão do crânio está maior. Com a entrada de sangue bloqueada, o cérebro para de funcionar, levando à morte encefálica.

De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Tecidos e Órgãos (ABTO), trata-se de uma definição legal (no sentido da legislação) de morte.

Para o diagnóstico de morte encefálica, é necessária a realização de dois exames neurológicos, que serão feitos por dois médicos distintos e com intervalo de pelo menos uma hora.

Além de exames clínicos que testam reflexos do tronco encefálico, o paciente deve ser submetido a um teste de apneia, para confirmar a incapacidade de manter a respiração de maneira independente, e a um exame complementar que assegure a ausência de atividade cerebral cortical, ausência do metabolismo ou ausência de fluxo sanguíneo cerebral, como a angiografia cerebral, o eletroencefalograma, o doppler transcraniano ou a cintilografia.

Ao ser cumprido corretamente, o protocolo de segurança garante que não haja erros no diagnóstico.