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Como Ana Maria Braga: "Estou enfrentando um câncer pela quarta vez"

Acervo pessoal
Imagem: Acervo pessoal

Ana Bardella

De Universa

06/02/2020 04h00

Recentemente a apresentadora Ana Maria Braga contou ao público, durante a exibição do programa Mais Você, que fará um tratamento para um câncer de pulmão. Segundo o que explicou, por ser um tipo "mais agressivo", ele não pode ser tratado por meio de cirurgia: por isso a apresentadora está se submetendo a sessões de quimioterapia. Pela forma como se dirigiu ao público, está confiante de que tudo sairá bem. "Não tenho dúvidas de que eu vou ganhar", disse, ao vivo.

Esta não é a única vez que Ana Maria foi diagnosticada com tumores malignos. Em 1991, ela recebeu seu primeiro diagnóstico de câncer, na pele. Dez anos depois, em 2001, soube que estava com um tumor colorretal, que havia se espalhado para a virilha. Em 2015, foi diagnosticada com câncer de pulmão. Agora, trata o retorno da doença no mesmo órgão.

Casos como a da apresentadora são difíceis de encontrar, mas podem acontecer. A história de Fernanda Nascimento de Carvalho, moradora de Santos, no litoral paulista, é semelhante à de Ana Maria — com o agravante de não ter cura. Por ter sofrido uma metástase nos órgãos, ela faz o tratamento conforme a doença se manifesta e, nos intervalos, toma medicações para adiar seu retorno. Assim como a apresentadora, já recebeu a notícia de tumores malignos quatro vezes. Atualmente, faz sessões de quimioterapia para tratar um localizado no fígado.

A seguir, ela conta sua história:

Primeira descoberta: um baque

"Tinha 37 anos, era casada e não estava trabalhando quando descobri o câncer pela primeira vez. Engravidei cedo, aos 14 anos, por isso nesta época já tínhamos uma filha de 23 anos e um neto. Meu marido viajava muito, então eu, que trabalhei durante muito tempo como bancária, tinha resolvido deixar o emprego por um tempo para acompanhá-lo.

Estava acostumada a fazer exames anuais, sempre cuidei bem da saúde. No entanto, um dia acordei com um caroço na axila debaixo do braço: ele me gerava tanta dor que não conseguia me movimentar direito. Fui procurar saber o que era. Depois de alguns exames, veio o diagnóstico: câncer de mama.

Sou uma pessoa otimista. Ainda assim, foi um baque grande. Fiquei triste por um tempo, mas decidi encarar de frente: só pensava em tirar aquilo de mim. Com muita esperança de que tudo daria certo, fiz uma cirurgia para a retirada da mama. Na mesma operação, fiz esvaziamento de axila e reconstrução da mama por meio de uma prótese de silicone, por isso nunca me vi totalmente mutilada. Em seguida, comecei com a químio e a radioterapia.

Quando precisei raspar o cabelo, fiquei triste. É um momento marcante: as pessoas olham para você e sabem do que se trata. Muitas sentem pena.

Assim como outros homens, que não aguentam, meu marido não aguentou. Na época, me deu bastante suporte financeiro — essa era a sua forma de demonstrar amor. Mas não soube lidar com a situação. Acabamos nos divorciando por causa disso. Por sorte, tenho uma família grande e contei com o suporte das minhas irmãs, da minha mãe e da minha filha. Depois, passei cinco anos tomando medicamentos e recebi alta. Eu estava curada do câncer.

Retorno da doença

Fernanda e o neto - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Imagem: Acervo pessoal
Voltei a trabalhar no banco, como vendedora de seguros e previdência privada. No entanto, antes de completar seis anos de longe da doença, vivi o mesmo filme: fui dormir bem e acordei com dor na axila, no mesmíssimo lugar. Antes de procurar os médicos, já tive certeza de que a doença tinha voltado e só queria acelerar o processo, fazer o tratamento antes que algo pior acontecesse. Eu estava certa. Fiz novamente uma cirurgia e o tratamento quimioterápico.

Dessa vez foi tudo mais tranquilo: já sabia pelo que iria passar. Na hora de raspar o cabelo, fiz uma reunião com meu neto e minha sobrinha e eles me ajudaram. Foi uma farra, consegui levar as coisas com leveza. Assim que terminei as químios, passei a tomar um remédio por mais três anos. Mais uma vez voltei a trabalhar, agora como vendedora de loja.

Consequências da metástase

Logo que parei com a medicação, os exames de imagem detectaram um nódulo no ovário. Foi então que a médica descobriu que o último câncer havia se espalhado para outros órgãos: tive metástase da mama em um dos ovários, no fígado e no apêndice.

Graças à minha positividade, não consegui pensar em nada ruim.

Só passou pela minha cabeça que iria dar conta.

Não sigo uma religião, mas tenho fé e sei que tenho muito ainda para viver. Tenho forças, vou lutar. Disse para minha médica que iria fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para melhorar.

Passei por uma cirurgia extensa de "limpeza geral", uma que abre a barriga de cima para baixo. Nela retirei útero, ovários, apêndice e um pedaço do fígado. Essa operação faz um estrago geral no corpo. Sou vaidosa, até hoje fico achando defeitos em mim por causa dela. Mas o que importava é que tinha retirado as partes doentes. Fiz quimioterapia pela terceira vez, só que dessa vez foi de um tipo que não me fez ficar careca.

Tive as reações às quais já estava acostumada: algumas dores, mas nada demais. Graças a Deus, meu corpo reage bem ao tratamento. Mais uma vez retornei ao trabalho, como cuidadora de uma pessoa da minha família. Passei a tomar injeções que seguraram bem o avanço da doença durante seis meses.

Esperança para o futuro

Então foram detectados novos nódulos no fígado. Não foi recomendado pela médica que eu operasse. Como já retirei um pedaço do órgão, é provável que eles desapareçam através da quimioterapia — já fiz duas sessões e tenho mais quatro pela frente. Se isso acontecer, volto a fazer o controle da doença por meio das injeções. Sei que o câncer pode voltar novamente, mas minha esperança é que leve um tempo longo para que isso aconteça.

Gostaria que a minha velhice vencesse a doença. Enquanto isso, sigo firme, forte e com muita fé."

Fernanda Nascimento de Carvalho, 51 anos