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"Ainda temos muitos espaços para ocupar", diz Petra Costa sobre mulheres

Petra Costa durante as gravações para o documentário "Democracia em Vertigem" Imagem: Alan Marques/ Folhapress

De Universa

05/02/2020 09h06

Petra Costa, a diretora de "Democracia em Vertigem", que concorre ao Oscar na categoria de melhor documentário, disse que as mulheres ainda têm muito espaço para ocupar. Em texto à "Marie Claire", a cineasta falou sobre machismo e disse que "o cinema não é tão diferente da política".

Em "Democracia em Vertigem", Petra faz um retrato do processo que tirou Dilma da presidência do Brasil, em 2016, a partir de um ponto de vista pessoal, misturando sua história familiar com a trajetória política do país. A história começa a ser contada a partir do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, e segue analisando a posterior crise política no Brasil.

Ela conta no texto que, durante o lançamento de "Olmo e a Gaivota", filme que dirigiu e que trata a questão do feminino, "a insurgência das ruas tinha se transformado em uma insurreição contra a presidente da República" e notou "o machismo que permeava o debate".

"Os adesivos de Dilma (Rousseff) de pernas abertas nos carros estampavam essa perversidade. Sua culminação foi no coro ofensivo na abertura da Copa do Mundo", escreve.

Para Petra, não é coincidência de que quatro documentários filmados sobre o impeachment, três foram dirigidos por mulheres. "Éramos, de alguma forma, corpos estranhos no Congresso que, naquela legislatura, tinha menos mulheres que o parlamento da Arábia Saudita", analisou.

"Muito mudou desde que fui para Brasília filmar. A cada nova primavera feminista, mais mulheres vestem o termo com orgulho. Mas ainda temos muitos espaços para ocupar. O cinema não é tão diferente da política", analisou.

Sobre o Oscar, ela destaca que em 92 anos a Academia indicou 350 homens na categoria de melhor direção e apenas cinco mulheres.

"Como fala Paulo Freire, somente os oprimidos, libertando-se, podem libertar os opressores. Isso é nossa tarefa como mulher. Lutar para habitar nossos corpos, criar nossa própria voz. O abuso do corpo da mulher (que aumentou vertiginosamente desde a última eleição), o silenciamento de sua expressão, me parece reflexo de uma terra abusada. Uma terra que segue se desfazendo em lágrimas cada vez que é subtraída em tenebrosas transações. Até que consigamos regerminar essa terra abusada, para que ela se refaça por dentro, e frutifique", encerra.

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