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Homem suspeito de comparar cabelo de gêmeas com palha de aço é investigado

Mãe de gêmeas de 4 anos diz que segurança comparou cabelo das filhas com palha de aço - Arquivo pessoal
Mãe de gêmeas de 4 anos diz que segurança comparou cabelo das filhas com palha de aço Imagem: Arquivo pessoal

Alexandre Santos

Colaboração para Universa, em Salvador

29/01/2020 09h08

A Deerca (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente) abriu inquérito para apurar se um segurança do metrô de Salvador cometeu crime de injúria racial ao comparar o cabelo de duas meninas com uma palha de aço. A denúncia foi feita pela mãe das gêmeas e a identidade do investigado não foi divulgada. Universa não conseguiu contato com a defesa do suspeito.

O caso ocorreu no último sábado (25), por volta das 18h30, na estação Rodoviária. De acordo com a técnica em metalúrgica Sandra Weydee, 37, as filhas V. e V., 3, foram insultadas quando voltavam para casa após passearem em um shopping.

Sandra explica a Universa que, no momento em que passavam pela catraca do metrô, elas se depararam com três seguranças conversando. Um dos agentes, que estava de costas, teria dito a palavra "misericórdia".

A técnica em metalúrgica diz que não entendeu do que se tratava, até que o mesmo homem olhou para as garotas e disse: "Bucha 1 e bucha 2". O termo que teria sido usado pelo segurança é uma forma popular usada para se referir à palha de aço, usada para lavar louça.

Gêmeas vítimas de racismo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Gêmeas atuam como modelos mirins
Imagem: Arquivo pessoal
"Fiquei surpresa, porque ele falou em um tom como se tivesse visto algo estranho. Eram três seguranças: dois negros e um branco. Foi justamente o branco que olhou para elas e falou essas palavras", afirma Sandra.

Ela afirma que, após o comentário, as filhas começaram a questioná-la sobre o que seria uma "bucha". A técnica em metalúrgica diz que as meninas atuam como modelos mirins e, por isso, adotam um estilo natural, com cabelo black power.

Minhas filhas não paravam de me perguntar por que ele [o segurança] tinha chamando elas assim. Uma das meninas, que é mais "pra frente", disse para a outra que ele se referiu ao cabelo delas
Sandra Weydee, mãe das gêmeas ofendidas em metrô de Salvador

Na hora, Sandra diz ter ficado sem reação e lembra que entrou em uma composição para seguir viagem. Sentindo-se "constrangida", Sandra desceu na estação seguinte e retornou ao local em que os seguranças estavam. O agressor, porém, já havia ido embora. "Um superior deles disse que ele já tinha saído, porque era mudança de turno. Pediu desculpas e disse que ele tinha feito uma brincadeira. Um absurdo isso", lamenta.

Sandra diz que uma funcionária do sistema anotou seu telefone e prometeu procurá-la depois. Como a empresa que administra o modal (CCR Metrô Bahia) não lhe procurou, resolveu registrar um boletim de ocorrência na tarde de ontem.

Para ela, casos como o sofrido pelas filhas são "lamentáveis" e devem servir de exemplo tanto para encorajar vítimas a tomar providências quanto para evitar que outras pessoas cometam o mesmo ato. "Se a gente se cala, acaba conivente", avalia.

Concessionária diz repudiar atitudes racistas

Em nota encaminhada a Universa, a CCR Metrô Bahia diz repudiar atitudes racistas ou discriminatórias, de qualquer natureza, "premissa que norteia o trabalho diário de todos os seus colaboradores".

"A opinião dos clientes é imprescindível para o aprimoramento de protocolos em busca da excelência do atendimento. Isso inclui a adequação dos treinamentos periódicos realizados junto aos agentes de atendimento, a fim de melhorar a prestação do serviço. A empresa ressalta ainda que tem trabalhado pela valorização da pluralidade cultural do povo baiano e reforça o seu compromisso com a promoção da igualdade étnica-racial e de gênero", afirma no comunicado.

A empresa, no entanto, não respondeu se o segurança alvo da denúncia sofreu alguma punição. A OAB-BA (Ordem dos Advogados do Brasil Seção Bahia) também acompanha o caso.