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Estilista acusa Farm de plagiar fantasia de Carnaval de sua marca

À esq, fantasia lançada pela Farm; à dir., look produzido por Ligia Parreira desde 2016 - Reprodução/Instagram
À esq, fantasia lançada pela Farm; à dir., look produzido por Ligia Parreira desde 2016 Imagem: Reprodução/Instagram

Natália Eiras

De Universa

18/01/2020 12h24

Anualmente, a Farm, marca queridinha das cariocas e de famosas como Lupita Nyong'o, lança sua tradicional coleção de fantasias de Carnaval. Um dos modelos deste ano, no entanto, está sendo alvo de críticas de internautas e da estilista carioca Ligia Parreira. A dona da marca Devassas.com e outros usuários de redes sociais estão acusando a Farm de plagiar a fantasia de Pipoca, lançada por Ligia em 2016, mas que cuja estampa teria sido desenvolvida por ela há mais de 10 anos.

"Sou uma mulher suburbana e minha marca trabalha com ícones populares. Essa estampa eu criei há mais de uma década. Achei registros dela desde 2013", fala Ligia para Universa. "Eu já a apliquei em mochilas, vestido, casacos. Porém, percebi que as meninas usavam muito a camiseta no bloco de Carnaval. Por isso que, há 3 anos, comecei a fazer a fantasia Pipocão. Temos o body, saia, arquinho. A estampa virou uma característica da minha marca."

Para provar seu ponto, Ligia publicou no Instagram uma foto de uma matéria de 2018, em que uma atriz usa a estampa criada por ela. "E todas as minhas estampas e tecidos são exclusivos, criados por mim. Já me falaram que a viram na 25 de março, mas eu mesma nunca tinha visto."

A estilista ficou sabendo que a Farm estaria lançado a fantasia de Pipoca por uma amiga, que mandou a imagem do produto no site da etiqueta. "Levamos um susto. Muita gente achou que eu estava fazendo colaboração com eles." O look faz parte da coleção Voa!, inspirado no mundo circense e, por isso, a pipoca seria um dos elementos centrais.

Ligia fez, então, a denúncia de plágio em suas redes sociais e a conta oficial da Farm no Instagram entrou em contato com ela pelos comentários da publicação. "A gente adora criar junto com novos estilistas e independentes de todos os cantos do país", escreveu a marca. "Começamos a brincar com o tema pipoca em 2017. A gente ama tudo da cultura que vem das ruas e a pipoca é um clássico." Em comunicado oficial para Universa, a Farm seguiu pela mesma linha de raciocínio. "A pipoca surgiu como um elemento natural da coleção e as peças tiveram como ponto de partida a memória afetiva dos clássicos e tradicionais saquinhos de pipoca, tão presentes no Rio, no carnaval e nos espaços públicos. As estampas são parecidas pois elas se inspiram no mesmo grafismo: o do saquinho da pipoca."

Assim como a própria Farm, pessoas argumentaram que o plágio poderia ser apenas uma coincidência, uma vez que o saco de pipoca é algo que habita o imaginário popular. No entanto, Ligia e fãs da Devassa.com relembram que a Farm já foi acusada de plágio e de apropriação do trabalho de estilistas independentes em outras ocasiões. "Está sendo muito estressante para mim tudo isso porque a Farm representa um público que eu não curto. Trabalho com empoderamento feminino, militância negra, e essa marca não representa nada disso", afirma a estilista. Ela estaria, ainda, sendo atacada por funcionárias da Farm. "Elas estão vindo me insultar nas minhas redes sociais. Estou sendo desrespeitada demais. Além de ser copiada, estou sendo silenciada."

A estilista carioca narra, ainda, que não apostaria na fantasia de Pipocão para o Carnaval desse ano para dar visibilidade para outras criações suas, mas que mudou de ideia. "Estão pedindo e agora vou fazer só de raiva", afirma.

Veja o comunicado da Farm na íntegra:

"A FARM lamenta o ocorrido e esclarece que seu time e parceiros criativos não tinham conhecimento da criação de Lígia Parreira.

A nova coleção, 'VOA!', se inspira nas artes circenses, no carnaval e no Rio de Janeiro. Desta temática, nasceram inúmeras estampas, peças e fantasias.

A pipoca surgiu como um elemento natural da coleção e as peças tiveram como ponto de partida a memória afetiva dos clássicos e tradicionais saquinhos de pipoca, tão presentes no Rio, no carnaval e nos espaços públicos.

As estampas são parecidas pois elas se inspiram no mesmo grafismo: o do saquinho da pipoca.

Segundo Rodrigo Ouro Preto, advogado da FARM, 'não há proteção jurídica para 'ideias' no sistema de propriedade intelectual, como a ideia de criar e utilizar uma fantasia envolvendo sacos de pipocas e estampas com o tema, conforme estabelece o inciso I, do artigo 8º, da Lei de Direitos Autorais, de modo que não houve violação, infração ou cópia por parte da FARM. Ninguém tem exclusividade sobre um tema de fantasia carnavalesca, inclusive costumes de pipocas e seus adereços, nem Lígia e tampouco a FARM, podendo-se admitir que outro designer crie sua própria fantasia de pipoca, desde que os desenhos característicos e originais de cada um desses dois trabalhos anteriores não sejam copiados, e mesmo que este se inspire nas "ideias" deixadas pelos dois trajes anteriores objeto desta matéria.

A Lei de Direitos Autorais protege obras autorais originais, ou seja, obras de 'origem' nova - no sentido de 'fonte' - tornando ilícito o ato de copiar, mesmo que a cópia se refira apenas a alguns elementos concretos e característicos de trabalhos anteriores. Para haver plágio, a obra nova precisa necessariamente de acesso e uso da obra anterior. No caso das fantasias de pipocas, não houve qualquer acesso do time criativo da FARM e parceira envolvida, à fantasia da estilista Lígia Parreira e, portanto, não há como se afirmar que houve plágio pelo uso indevido da obra da estilista'.

A FARM reforça a sua cultura de criatividade original e valorização do pioneirismo com respeito aos profissionais do segmento de moda e afirma que está convidando a estilista Ligia Parreira para dialogarem pessoalmente.

Segundo Taciana Abreu, Head de Marketing da FARM: 'Infelizmente foi a partir da acusação da Lígia que tivemos a oportunidade de conhecer sua criação. O fato de ninguém envolvido no processo conhecer nos mostra que precisamos ampliar ainda mais o nosso radar para parceiros criativos, criando novas estratégias de inclusão. Ano passado, iniciamos nossos comitês de diversidade - o comitê de igualdade racial e o comitê LGBTQI+. Compostos de funcionários de diversas áreas, estes comitês vem estruturando conversas e ações internas para avanços em estratégias de igualdade e diversidade. Este ano, teremos metas de contratação e estratégias de aceleração de jovens talentos e lideranças negras e negros com base no nosso primeiro censo étnico racial, rodado no final do ano passado. E estamos reafirmando o nosso compromisso com esta pauta renovando a parceria com o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) que trabalha para a aceleração da promoção da igualdade racial, buscando reduzir a desigualdade racial no mercado de trabalho. Estamos evoluindo e aprendendo, diariamente. Como marca Brasileira, queremos representar cada vez mais e melhor, o Brasil e a nossa criatividade. Acreditamos no diálogo como essencial em todos os processos, por isso uma conversa com a Lígia é fundamental'".