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Com 60 milhões de páginas lidas, escritora começou com fanfics

Juliana Dantas: de fã de Lost a escritora - iStock
Juliana Dantas: de fã de Lost a escritora Imagem: iStock

Claudia Dias

Colaboração para Universa

07/01/2020 04h00

Bianca, Julia e Sabrina são nomes bem lembrados por quem viveu a adolescência nos anos 80 e 90. Vendidos em bancas de revista, tais romances, abundantes e com preços acessíveis, despertaram o gosto pela leitura em muita gente, especialmente entre as mulheres.

Juliana Dantas era uma delas. Paulista nascida há 42 anos em Franco da Rocha, criada na capital e formada em Marketing, naquele tempo, ela emprestava os livros da tia para ler. Adorava as histórias românticas, mas nem imaginava que se tornaria uma best-seller, que já acumula 30 livros escritos e mais de 60 milhões de páginas lidas na Amazon.

Na mesma época em que se encantou com os títulos populares, Juliana tomou gosto pelos clássicos que exploravam o universo feminino - Jane Austen e José de Alencar, por exemplo. As histórias acumuladas a inspiraram a se aventurar no mundo das fanfics (do inglês fanfictions, ou seja, histórias de ficção escritas por fãs, inspiradas em enredos já conhecidos).

Lost, onde tudo começou

O ano era 2006. Fã do seriado Lost, ela recorreu ao finado Orkut para encontrar outros admiradores da série. Nas comunidades da rede social, conheceu as fanfics e percebeu que poderia criar suas versões paralelas também. "Escrever era um sonho antigo, mas que nunca tinha tido coragem de levar adiante. Achei que era uma boa oportunidade de brincar com isso", lembra-se.

Depois de Lost, Harry Potter serviu de mote para suas escritas e, em 2008, o também fenômeno Crepúsculo. "Comecei a levar mais a sério porque o fandom (definição de fãs) que consumia fic era enorme e cobrava bem mais assiduidade", diz. Aliás, as mulheres, tanto adolescentes quanto adultas, já eram o maior público de suas criações românticas, com teor mais erótico.

No mesmo período em que começou a se destacar na Nyah (plataforma específica para fanfics) e reuniu mais de 2 mil leitoras em grupos do Facebook, Juliana deixou o emprego de assistente de coordenação escolar para ser livreira na Livraria Cultura.

A onda de Cinquenta Tons de Cinza

O repertório acumulado fizeram com que ela se tornasse referência entre os clientes. "Havia pouca opção de livros românticos nas livrarias, como Danielle Steel e Nora Roberts, ou os chick lit (gênero de ficção focado em questões das mulheres modernas). Os romances eróticos só tomaram espaço com Cinquenta Tons de Cinza, o que alavancou outros romances para mulheres também. Eu era uma das poucas livreiras que conheciam e liam esses livros", relata.

Paralelamente, Juliana continuava a produzir fanfics. Foram mais de 30, segundo suas contas, mas sem nenhuma pretensão financeira. "Fazia isso só para me divertir e espairecer", afirma Juliana. Há quatro anos, insatisfeita com o trabalho como livreira, pediu demissão. Já como assistente de marketing em uma editora, participou da Bienal do Livro de 2016, onde conheceu autoras independentes que estavam publicando na Amazon e fazendo sucesso, inclusive financeiro.

Publicações por conta própria

Juliana conhecia o funcionamento de editoras e sabia quão difícil é publicar livros pelos caminhos tradicionais. Viu na Amazon uma oportunidade. "Além de qualquer pessoa poder publicar, sem ter o aval de um editor, o processo é fácil e com um custo bem menor do que se aventurar com um livro físico independente", argumenta.

O retorno financeiro também é bem positivo. De acordo com a autora, ela ganha 70% do valor de um e-book e, também, um valor fixo por página lida dos livros que estão no KDP (o acervo da Amazon, o Kindle Direct Publishing).

Atualmente, Juliana tem 26 títulos independentes (entre romances, contos e boxes), dois títulos pela editora Volúpia e uma participação em coletânea com outras autoras) - tudo na plataforma Kindle. Além disso, contabiliza 60 milhões de páginas lidas no Kindle Unlimited e mais de 30 mil e-books vendidos.

Do digital para o impresso

Apesar de seu forte estar nos e-books, Juliana já está com um pé no mundo físico. Às vésperas da recente Bienal do Rio de Janeiro, lançou um livro inédito por uma grande editora - "No Silêncio do Mar", pela Harlequin. "Não é meu primeiro impresso, mas tem gostinho de ser, porque é o primeiro que lanço com uma grande editora e terá distribuição em todas as livrarias", comenta.

Antes dele, surgiram cinco versões físicas de livros que já estavam na Amazon, apenas em formato digital. "A escolha pelas versões físicas vem de um pedido as próprias leitoras, que gostam de comprar a versão física quando gostam muito do e-book", diz.

Desde o início, Juliana coleciona feitos: seu primeiro lançamento, o livro erótico "O Leão de Wall Street", chegou a ocupar o primeiro lugar na lista dos mais vendidos da categoria e ser um dos mais procurados no acervo completo. "Meu terceiro livro (o romance dramático 'A Verdade Oculta') foi meu primeiro a chegar em primeiro lugar na lista geral da Amazon", conta.

De todos os lançamento, ainda é "O Leão de Wall Street" que responde por seu maior faturamento - tanto por estar há mais tempo disponível como ter o maior tamanho, uma vez que ela também ganha por páginas lidas.

Rendimento cinco vezes maior

Quando trabalhava como livreira, o salário de Juliana somava R$ 2 mil por mês. De lá para cá, seu faturamento aumentou, em média, cinco vezes, podendo ser ainda mais, se tiver um lançamento bom. Cada livro, aliás, costuma render bastante no mês de estreia; depois, cai bastante.

É por isso que ela mantém o ritmo de escrever um livro novo a cada dois meses, no máximo. "Não tenho muito critério: sigo minha inspiração para escrever, tanto que tenho romances mais dramáticos e romances bem divertidos", diz sobre a escolha de temas.

Para atender seu público-leitor, vez ou outra também aposta em séries (trilogias ou quadrilogias), apesar de preferir não ficar presa a um mesmo enredo por muito tempo.

Planos futuros? Continuar publicando na Amazon, é claro! Mas também quer fazer mais versões físicas dos seus e-books para vender no próprio site, de forma independente, e ter a chance de continuar publicando romances inéditos por grandes editoras.

Para Juliana, esse passo é importante para conquistar leitores tradicionais, os de livraria - aqueles que ela ajudava tanto com suas indicações como livreira.