Topo

Morta pelo ex: "Dói saber que quem você ama pode te dar beijo e uma facada"

Antes de ser morta, Luciana Rodrigues deixou carta para o ex. Ele é o principal suspeito - Arquivo pessoal
Antes de ser morta, Luciana Rodrigues deixou carta para o ex. Ele é o principal suspeito Imagem: Arquivo pessoal

Luiza Souto

De Universa

17/12/2019 04h00

Luciana Rodrigues Ramos acreditava que o companheiro com quem se relacionou por sete anos, em Cascavel, no Paraná, iria mudar. Por isso, Luciana perdoava toda vez que ele gastava o dinheiro que ela ganhava trabalhando como manicure e com marketing. Mas, quando Gilmar Ramos, 35, foi preso por tráfico de drogas, no ano passado, Luciana, 36, decidiu terminar a relação. Em janeiro, ele fugiu da cadeia. E, no último dia 5 de dezembro, a estrangulou até a morte. Luciana teve o corpo queimado e largado numa mata. Ela deixa uma filha de 18 anos.

Gilmar foi preso novamente no último dia 12 de dezembro e vai responder por feminicídio e ocultação de cadáver. Pode pegar até 30 anos de prisão. Ele não confessou o crime, mas a Delegacia de Homicídios de Cascavel tem o depoimento de uma testemunha incriminando o homem.

A filha de Luciana perdeu o pai num acidente de carro há dez anos. Na casa em que vivia com a mãe e Gilmar, ela encontrou uma carta que Luciana mandaria para o ex. Nela, entre outras coisas, dizia:

Você não sabe o quanto dói saber que quem você ama é capaz de te dar um beijo, uma facada nas costas e dizer que te ama.

carta_colagem_1 - Reprodução - Reprodução
Luciana pensou em pedir medida protetiva contra o ex dias antes de morrer
Imagem: Reprodução

Foi a irmã de Luciana, Marluce Rodrigues, de 31 anos, quem publicou esse texto nas redes sociais. Ainda tentando assimilar o horror que a família está vivendo com a tragédia, a técnica em saúde bucal relembra de sua última conversa com Luciana, há um mês:

"Minha irmã falou que estava sofrendo ameaças do Gilmar. Ele dizia que os dois só iam se separar após a morte. E ela queria pedir uma medida protetiva por esses dias."

carta_colagem_2 - Reprodução - Reprodução
A filha de Luciana achou sua carta após o seu assassinato
Imagem: Reprodução

Segundo Marluce, a irmã desconfiava da verdadeira ocupação do companheiro, já que ele não tinha um trabalho fixo, e dizia que fazia bicos, mas arrumava dinheiro frequentemente. Só no ano passado Luciana teria descoberto que Gilmar tinha envolvimento com tráfico de drogas. Numa ida dele a Campo Grande (MS), o suspeito cometeu o crime e acabou preso.

Apesar da descoberta, Luciana visitava o companheiro no presídio. Em janeiro deste ano, ele conseguiu passar para o regime semiaberto, mas fugiu para o Paraguai. Após a fuga, Luciana decidiu não manter mais contato. O homem, porém, insistia em se comunicar com ela, apesar de não mais aparecer na cidade com frequência.

"Acho que ela o perdoava porque tinha um pouco de pena. E gostava muito dele", diz Marluce.

Histórico de violência doméstica

Terceira de seis irmãs, Luciana conheceu cedo a realidade da violência doméstica. Seu pai era alcoólatra e a mãe precisou sair de casa para se manter viva, conta Marluce:

"Ele quase matou minha mãe. Quando ela viu que meu pai estava ficando cada vez mais violento, nos deixou com ele e foi morar com uma conhecida. Um advogado, na época, a aconselhou a nos deixar com o meu pai mesmo porque ela nem tinha para onde ir. Eu estava com oito anos. Nossa mãe trabalhou como faxineira, casou novamente, se reergueu, mas seguimos com nosso pai. Ele nunca encostou a mão em nós. Uma irmã cuidou da outra, mas a Luciana tinha muita mágoa do nosso pai, que já morreu. É inacreditável que agora tenha sofrido essa violência."

O dia do crime

Segundo informações da Delegacia de Homicídios de Cascavel, na noite de 5 de dezembro Gilmar apareceu em sua casa e pediu para a ex levá-lo na casa da mãe dele, numa zona rural. No meio do caminho, ele teria estrangulado a ex dentro do carro. Após a morte, teria enrolado o corpo de Luciana num lençol, jogado no mato, encharcado de gasolina e ateado fogo. No dia seguinte, Gilmar foi ao Paraguai, (a 160 quilômetros de Ciudad del Est e a 470 quilômetros de Assunção), e lá se desfez do carro, que pertence ao padrasto de Luciana.

Esses detalhes, segundo a polícia, foram repassados por uma pessoa próxima ao suspeito, para quem ele teria confessado o crime. A polícia aguarda agora o laudo do IML (Instituto Médico Legal) para confirmar a causa da morte.

Enquanto investigava o desaparecimento de Luciana, a polícia localizou um mandado de prisão contra Gilmar por tráfico de drogas, expedido em Campo Grande (MS), e viu que ele era considerado foragido.

Quando localizou o corpo de Luciana, uma semana após a família comunicar o desaparecimento, a polícia pediu à Justiça a prisão preventiva de Gilmar, por crime de feminicídio e ocultação de cadáver. Os agentes ligados ao caso prenderam o homem numa rodoviária, em Foz do Iguaçu.

Gilmar recusou-se a prestar depoimento e disse que falaria somente em juízo. O inquérito policial deve ser encaminhado à Justiça no início de janeiro. Este foi o quinto caso de feminicídio em Cascavel neste ano, segundo a polícia.