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Submisso, ele usou cinto de castidade por 6 dias: veja outros fetiches

BDSM e outros fetiches determinam quem é dominador e quem é dominado: você já testou? - dannikonov/iStock
BDSM e outros fetiches determinam quem é dominador e quem é dominado: você já testou? Imagem: dannikonov/iStock

Christiane Ferreira

Colaboração para Universa

14/12/2019 04h00

Você já pensou em ser amarrado e humilhado? Apanhar calado e fazer a linha cachorrinho submisso, andando de quatro e encoleirado?

"Os fetiches são variações do comportamento sexual. Eles atuam no cérebro da mesma maneira que um encontro sexual e a leitura do que é prazer ou dor é feita pela percepção da pessoa que está na situação. O objeto do desejo não é a outra pessoa mas, sim, artigos, roupas, situações, tipos físicos", afirma a mestre em psicologia Carolina Freitas, especialista em sexualidade da plataforma Sexo sem Dúvida.

O que é BDSM, afinal?

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As práticas do BDSM são usadas com frequência. São iniciativas consensuais (que nem sempre envolvem sexo) que abrangem bondage e disciplina, dominação e submissão, sadomasoquismo e outros padrões de comportamento sexual relacionados.

No BDSM, os termos submissos e dominante/dominador (a) são usados para distinguir dois papéis: quem domina e assume o controle psicológico ou físico e quem é o parceiro subserviente.

E vale tudo na hora, desde que o outro concorde. A dominatrix profissional Mistress Charlotte realiza fantasias em seu estúdio de BDSM, em São Paulo. Desde a adolescência já se via com gostos diferenciados de suas amigas. Com o passar do tempo, descobriu o BDSM.

"Sentia que as informações eram escassas e desencontradas. Criei um blog diário e compartilhei as minhas experiências. O blog virou site e passei a cobrar pelas sessões por sugestão dos próprios submissos, que me presenteavam e pagavam contas", afirma Charlotte, atuante há cinco anos na área.

Charlotte Dominatrix profissional - Divulgação - Divulgação
Charlotte conta que só topa aquilo que está dentro das suas preferências
Imagem: Divulgação

Ela realiza fantasias, mas deixa claro que não faz nada fora das suas preferências. Dentro dos fetiches é estabelecido um limite seguro. "Sabemos quais práticas irão acontecer, mas não de que forma. A maneira de conduzir é uma escolha minha. Tudo isso após uma conversa prévia. Uma safe-word (palavra de segurança) é criada. E as práticas tidas como limites rígidos, problemas de saúde, restrições físicas ou emocionais devem ser respeitadas. São coisas que envolvem a comunidade de 'SSC - São, Seguro e Consensual'".

Os acessórios são higienizados adequadamente. Seus serviços custam de R$ 500 a hora a R$ 3 mil por uma noite.

Ele conta: "Fiquei com o cinto de castidade por seis dias"

Para um submisso, não ter controle sobre sua vida ou seu corpo é excitante. O publicitário Márcio*, 48 anos, sente tesão em ser humilhado por uma mulher fatal, empoderada, predadora, inatingível e cheia de atitude.

Quando mais jovem, ele conta que a personagem Tiazinha — a mascarada que depilava os homens, usava roupa de couro e um chicote —, era uma das suas preferidas.

Ele tem por hábito contratar uma dominatrix profissional, com quem pode realizar todos os seus fetiches sem pudores. Certa vez, ficou seis dias com um cinto de castidade, em que era possível apenas urinar. Durante esse período, tinha interações diárias com sua dominadora, que ficava em posse da chave do seu cinto. "Quando tirei estava em carne viva", relata.

O publicitário também gosta de práticas como podolatria, quando lambe os pés da sua dominadora e é humilhado de todas as formas. Uma de suas preferências é o cuckhold, ou seja, prazer em ser corno. Gosta de ver a parceira — às vezes sua própria namorada —, transar com outros homens.

"Eu pago uma mulher para ser escrachado. Sinto prazer quando ela diz que vai me torturar, que não sou nada. Às vezes, ela coloca em mim a coleira e saio passeando igual um cachorrinho. Em outras situações, a provoco para receber uma punição", conta o submisso. "O legal da dominação é que ela é ritualizada, o homem tem prazer nisso. Exemplo: ele fica de joelhos, coloca a coleira, chama a dominadora de senhora, que só permite que ele fale após autorização."

Mais práticas

Brinquedos eróticos - ADragan/iStock - ADragan/iStock
Imagem: ADragan/iStock

Márcio comenta que gosta de outras práticas: inversão de papéis, quando a mulher o penetra com um vibrador; crossdressing, quando ele se veste de mulher; e spanking, quando apanha com chicote nas nádegas.

Para a dominatrix Charlotte, que também dá workshops sobre o tema, o BDSM significa confiança e testar seus limites de forma segura. "Mesmo as práticas que não são solicitadas eu acabo apresentando na negociação e, em um nível mais leve, realizo alguns fetiches que não são propriamente as preferências da outra parte, mas que ao serem testados podem ser incorporados."

'Golden shower', podolatria e mais

Gostou da ideia? Em cada uma das práticas abaixo, é preciso que o ato seja consensual. Veja quais são possíveis:

Asfixia ou breath control: Prender o ar ou o fluxo sanguíneo para intensificar o orgasmo. Sufocar ou estrangular estão entre as práticas utilizadas. Há variações com o uso de plásticos, submersão e máscaras de gás. Técnica não deve ultrapassar os parâmetros de segurança.

Bofetada ou tapa: É um tapa na cara e que oferece forte efeito moral no submisso que tem prazer em apanhar.

CBT: Cock and Ball Torture (do inglês tortura de 'bola e pau') - Tortura nos testículos. É comum usar braçadeiras, engates, cintos de castidade e pesos para aumentar o efeito.

Cinto de Castidade: Peça feita de couro, acrílico ou metal que impede a relação sexual. Pode ser usado por horas ou dias e está disponível para homens e mulheres.

Cócegas (tickling): Forma de excitar por meio das cócegas, que libera endorfinas no cérebro. O submisso geralmente fica contido de alguma maneira, enquanto a dominadora pode usar as mãos, penas ou qualquer outro objeto. Dependendo da intensidade, o dominado pode até fazer xixi na calça.

Chuva dourada (golden shower): Fazer xixi no parceiro.

Chuva de Prata: Jogos e fantasias que podem envolver suor, saliva ou esperma.

Crossdressing: Quando um homem se veste de mulher ou vice-versa. O objetivo é servir a dominadora sexualmente.

Cuckold: Ter tesão em ser traído, ou seja, ver ou ouvir parceira fazendo sexo e sentindo prazer com outro homem.

Dominação Psicológica: O submisso é humilhado de todas as formas, por meio de palavras que afetam o seu psicológico. Ele pode ser feito de escravo, adestrado ou disciplinado de acordo com o que a dominadora determina.

Eletroestimulação: Usa aparelhos específicos, alguns chamados de power boxes, que disparam pequenas descargas elétricas no parceiro. Algumas vezes é possível que a prática estimule nervos e músculos de maneira involuntária, o que traz um formigamento seguido pelo orgasmo.

Facesitting: Quando um dos envolvidos no ato sexual senta-se na cabeça do outro, com o objetivo de receber sexo oral ou anal, ou apenas reforçar a submissão de quem está embaixo.

Humilhação: Quando a dominadora rebaixa o submisso com palavras, com o objetivo de trazer uma dor moral.

Inversão de papéis: O homem e a mulher trocam de papéis, com mudanças de roupas e até do tom de voz. Em alguns casos, a mulher penetra o homem com uso de straps (pênis de borracha).

Mobiliário humano: O submisso assume papel de móveis como cadeiras, mesas, entre outros.

Money slave: A dominadora usa financeiramente o submisso.

Mumificação: Imobilizar o outro com o uso de ataduras, plástico ou filme de PVC.

Nipple torture: Tortura dos mamilos.

Orgasm control (controle do orgasmo): Manter o nível de excitação sexual por um longo tempo sem atingir o orgasmo.

Pet play ou dog play: Submisso assume papel cachorro, gato ou qualquer animal que possa ser adestrado. A prática não está ligada à zoofilia.

Podolatria: Fetiche por pés. Nela, o submisso pode beijar, massagear ou acariciar os pés de sua dominadora.

Privação de Sentidos: Ao se utilizar mordaças, capuzes, vendas, tampões ou outros objetos a dominadora faz com o que submisso tenha uma diminuição das informações sensoriais.

Shibari (amarrar em japonês): É uma amarração japonesa, em que são utilizadas cordas de fibras naturais como cânhamo ou juta para imobilizar o parceiro. O shibari vem do hojojutsu, uma arte marcial usada pelos samurais.

Smoking fetish: Quando um dos envolvidos sente tesão em fumar ou ver o outro fumando - cigarros, charutos ou narguile. O submisso também pode ser usado como cinzeiro ou obrigado a limpar as cinzas quando precisar ser disciplinado.

Spanking: Também é uma maneira de disciplinar o parceiro, seja com tapas na bunda, chicotadas, tudo que indique vulnerabilidade que desperta o prazer do submisso em obedecer e do outro, de dominar.

Tease and denial: Provocação e negação é um jogo para aumentar a excitação sexual. Muitas vezes, o outro é estimulado, mas fica proibido de gozar. É uma maneira de intensificar a tensão erótica.

Velas - Cera: Acender uma vela e deixar que a parafina quente pingue sobre o corpo do submisso. Há velas específicas, que não queimam a pele a ponto de ferir.

Fonte: Mistress Charlotte Dominatrix

*O nome foi trocado a pedido do entrevistado