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Machismo vira piada em série de stand-up feito por brasileiras na Netflix

As comediantes Micheli Machado, Cintia Rosini, Carol Zoccoli e Bruna Louise - Divulgação
As comediantes Micheli Machado, Cintia Rosini, Carol Zoccoli e Bruna Louise Imagem: Divulgação

Carlos Minuano

Colaboração para Universa

11/12/2019 04h00Atualizada em 11/12/2019 11h16

"Mãe estou na Netflix, nunca mais lavo uma louça", dispara Bruna Louise, ao entrar em cena no primeiro episódio de "Lugar de Mulher". A série de stand-up, só com comediantes brasileiras, acaba de estrear no serviço de streaming. A piada que a humorista solta logo na entrada é uma resposta aos muitos comentários machistas que teve de ouvir no início da carreira, há dez anos.

Em entrevista a Universa, Bruna Louise afirma que a série é uma validação da comédia feminina. "A maior plataforma de streaming do mundo está dizendo: sim, elas são boas". Em quatro episódios de aproximadamente 15 minutos, "Lugar de Mulher" tem também as participações de Cintia Rosini, Micheli Machado e Carol Zoccoli.

Tudo vira piada, assédio, drogas, religião, homossexualidade. Mas as bordoadas mais firmes miram o machismo e, claro, o universo masculino. A bronca não é sem motivo. Bruna relembra que. Antigamente. a plateia masculina, ao ver mulheres no palco fazendo comédia, em vez de aplaudir ou rir repetia velhas piadinhas do tipo "volta para a pia, vai para o fogão, faz um strip".

Não é mais assim. "Eles estão mais acostumados", afirma. Apesar disso, Bruna diz fazer humor para as mulheres. E explica o porquê. "Meu texto é para o público feminino, afinal, durante muito tempo fomos o alvo da piada."

Hoje o cenário é outro. Na mesma medida em que cresce o espaço para as meninas no stand-up, território até bem pouco tempo exclusivamente masculino, na plateia elas também ocupam uma quantidade cada vez maior de lugares, garante a humorista.

"Mulheres não frequentavam esses espetáculos de comédia", afirma Bruna. No primeiro episódio da série, ela aproveita para quebrar o gelo fazendo piada com a própria sexualidade. "Tenho certeza que minha primeira vez na Netflix será melhor do que na cama, porque aqui sei que vai durar pelo menos 15 minutos."

"Comédia pode ajudar a quebrar tabus"

O começo da carreira não foi fácil, desabafa Bruna. "É difícil para qualquer pessoa, não se ganha dinheiro, e há dez anos era bem mais complicado, principalmente para as mulheres."

Aprender a fazer humor era outro obstáculo. "Hoje tem plataformas como a Netflix com vários especiais de comédia, tem muito material para estudar, antigamente não tinha nada disso", diz.

Felizmente o cotidiano de perrengues são águas passadas. A comediante falou com a reportagem de Universa em uma rara pausa na agenda, que vive lotada, com apresentações todos os dias.

No momento, além da participação na série da Netflix, ela está em turnê com o show "Desbocada", segundo solo de humor no qual brinca com essa falta de lugar da mulher que ainda não conseguiu ocupar o seu espaço na sociedade.

Além de fazer rir, acredita ser capaz de promover uma reflexão, uma cutucada básica que de algum modo possa ajudar a alavancar o protagonismo feminino. "O humor pode ajudar as mulheres a pensarem sobre questões importantes", defende a comediante.

"Recebo muitas mensagens sobre isso, na série da Netflix faço piada com o fato de ser uma mulher com mais de 30 que escolheu ser solteira, minha ideia é sempre divertir, mas a pessoa pode aproveitar para dar uma pensadinha no assunto."

O prazer feminino é outro tema, na opinião de Bruna, extremamente pedagógico, que aparece em sua apresentação na série. "Parece absurdo dizer isso, mas na verdade é uma coisa nova, minha avó, por exemplo, nunca ouviu falar, nem sabia que isso existia."

Para ela, a liberdade da comédia pode ajudar a quebrar tabus. O humor pode ser uma ferramenta para desmistificar alguns assuntos relacionados ao corpo e aos relacionamentos. "Podemos sim fazer sexo casual sem nenhum problema."

Nos outros episódios, Micheli Machado, mulher do também humorista Robson Nunes, escancara a vida intima do casal (que aliás também já foi tema de um espetáculo). Já Cintia Rossini desfila piadas sobre a difícil vida de uma lésbica e detalha como a astrologia pode ajudar você a se dar bem no Tinder. Por fim, Carol Zoccoli metralha política, drogas, religião e as dificuldades que enfrenta por ser baixinha.

A série "Lugar de Mulher", dirigida por Fabio Ock, da Polar - produtora liderada por mulheres, está disponível nos 190 países em que a Netflix está presente.