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Manda Pink Jobs: advogada cria agência de emprego com vagas para trans

Marcia Rocha, do Manda Pink Jobs - Arquivo Pessoal
Marcia Rocha, do Manda Pink Jobs Imagem: Arquivo Pessoal

Carlos Madeiro

Colaboração para Universa

07/12/2019 04h00

Uma agência de empregos só para trans que ajudou muita gente a trabalhar. A ideia foi de um grupo de ativistas, mas foi realizada pela advogada e empresária trans Márcia Rocha, 55. Em funcionamento há cinco anos, a agência Transemprego já colocou muita gente no mercado.

"A agência não cobra nada, nem das pessoas trans, nem das empresas. O projeto vem crescendo ano a ano. Embora no Brasil venha declinando a quantidade de vagas, para pessoas trans cada vez mais vem surgindo mais vagas", afirma.

Marcia é uma das convidadas hoje da 7ª edição do Menos30 Fest, festival de empreendedorismo e inovação da Globo. Este ano o tema do evento é "Um Mundo de Gente", e a advogada e empresária vai debater o tema no palco Falas Afiadas. Além de palestras, a programação conta com mentorias, oficinas, experimentações e debates com curadores. O evento é gratuito acontece das 9h às 21h, no Liceu de Artes e Ofícios, no centro de São Paulo.

A Transemprego oferta vagas em diversas áreas, das mais simples às mais graduadas. "O projeto vem tendo um resultado muito bom. Nós temos vagas praticamente todos os dias, até para engenheiros. No nosso banco de currículos tem pessoas com pós-graduação, mestrado, doutorado, médicos, advogados. Tem de tudo", conta a advogada.

Márcia diz que não se tem um número exato de quantas pessoas já foram empregadas pela agência, mas afirma que somente no mês passado foram 20 pessoas, entre trans homens e mulheres.

"Muita gente não informa o resultado do processo: nem a empresa e nem a pessoa contratada. Mas com certeza várias centenas de pessoas foram contratadas nos últimos anos. Só esse ano foram mais de 200", explica.

Transição gradual

Márcia hoje é uma profissional reconhecida nas áreas em que atua, mas para chegar onde está e se firmar como trans houve um longo processo.

Márcia atua como advogada na área de defesa de direitos LGBT. Ela conta que teve uma transição gradual, e não repentina, de gênero.

"Não foi de um dia para o outro. Eu fui fazendo uma transição. Eu era casada e algumas pessoas ficaram sabendo e fui contando aos poucos até que resolvi me assumir publicamente", lembra.

Ela afirma que no começo percebeu que algumas pessoas estranhavam o jeito dela no mundo dos negócios. "Durava pouco tempo, depois elas agiam com naturalidade. Não é fácil, mas também não é impossível. É algo que no primeiro momento tem um certo impacto, mas que depois, dependendo também da postura da pessoa, a coisa transcorre com uma certa tranquilidade. Vida que segue", diz.

Além de advogada, Márcia é proprietária de quatro empresas nas áreas de administração de investimentos e bens, de loteamento no litoral e um estacionamento. Ela comanda equipes e afirma que nunca teve problemas com funcionários por ser trans.

"Eu acho que a pessoa trans precisa tratar lidar com uma certa naturalidade, deixar claro que é uma questão que não tem nada a ver com aquilo que está sendo discutido e focar", afirma.

Uma das vantagens de se assumir, diz, é que as pessoas aproveitam e também contam o que temem serem alvo de preconceito.

"Foi engraçado. Tive um caso de um parceiro de negócios que falou que 'ainda bem que você se assumiu' porque agora posso te contar que eu sou do candomblé", fala. Para ela, as pessoas também têm suas questões ocultas. "Ao se assumir, tudo se torna mais fácil porque as pessoas se abrem e contam seus próprios casos", diz.