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Bar LGBT é atacado em Salvador: "Agressor disse que ia matar todo mundo"

"Bar está destruído", diz dona do estabelecimento após ataque homofóbico - Divulgação
"Bar está destruído", diz dona do estabelecimento após ataque homofóbico Imagem: Divulgação

Camila Brandalise

De Universa

01/12/2019 12h46

Um bar LGBT no centro de Salvador foi alvo de um ataque homofóbico na noite do sábado (30). Por volta das 23h, Edson Oliveira Lima Macedo, conhecido como Sinho Macedo, teria descido de um ônibus na rua Carlos Gomes puxando uma mulher pelos cabelos, atravessado a rua e entrado no bar Espaço Cultural Caras e Bocas, onde começou a agredir as proprietárias. Após ameaçá-las de morte, a polícia chegou e Macedo foi preso em flagrante, mas liberado na sequência — as vítimas relatam que ele, inclusive, tentou atacá-las novamente na porta da delegacia.

O relato do ataque foi feito por Rosy Silva, uma das donas do estabelecimento, a Universa. Ela diz que estava do lado de fora do bar quando notou uma confusão assim que o ônibus parou. Viu Macedo saindo do veículo puxando uma mulher pelos cabelos e segurando um pedaço de pau.

"Não entendi o que estava acontecendo, tentei falar com ele para largar a menina. Ele obedeceu. Mas aí entrou no bar e começou a gritar: 'Eu quero o Isidório, chama o Isidório'", relembra Rosy. O Isidório em questão é o pastor e deputado federal baiano pelo partido Avante conhecido por comentários homofóbicos e por ter chamado a cantora Daniela Mercury de "endemoniada" e "escrava de Satanás" no ano passado.

Depois, Rosy conta que conseguiu acalmá-lo, tirou o pedaço de pau de sua mão e lhe deu um copo de água. "Ele começou a perguntar sobre sua sacola e eu respondi que estava em outro lugar. Quando fomos pegar, ele viu minha esposa e outras duas mulheres lésbicas", diz ela.

Nesse momento, Macedo surtou. "Ele falou: 'Perdeu, todo mundo vai morrer agora'. Começou a falar que ia matar todo mundo, dar cadeirada na gente. Jogou cadeiras, garrafas. Ele era grande, devia ter mais de 100kg. Pegou um pedaço do mármore do balcão e quebrou. Ele queria quebrar o espelho, foi quando pensei: 'Se ele pegar isso, vai matar nós todos'." Segundo a vítima, ele gritava que mataria "veados e sapatões".

"Uma drag queen que iria se apresentar na casa entrou em vias de fato com ele. Depois, ele pegou minha esposa, foi puxando pelos cabelos, pela escada, dizendo que ia matá-la. Já no lado de fora, chegou a jogá-la em frente a um ônibus. Depois ainda tentou invadir outra casa de show ao lado, o Âncora do Marujo, mas saíram na mão com ele e não deixaram."

Nesse momento, uma viatura da polícia chamada por Rosy chegou ao local e prendeu Macedo em flagrante. Vítimas e testemunhas foram até a Central de Flagrantes, no bairro Iguatemi, durante a madrugada. Minutos depois, o agressor foi solto. Rosy conta que ela e a mulher estavam em frente à delegacia, e ele tentou agredi-las novamente. "Corremos para a delegacia para nos esconder. Não sei o que aconteceu com ele."

A reportagem entrou em contato com a Central de Flagrantes, que confirmou que Macedo foi solto. O atendente, questionado sobre o perigo da soltura, uma vez que ele representa ameaça real às vítimas, respondeu que era preciso ligar na segunda-feira (02) para falar com a coordenador da delegacia, ausente no momento. Assim que o responsável atender as ligações da reportagem, a matéria será complementada.

"O bar está destruído. Psicologicamente, a gente está morta por ter que passar por isso. Ele atingiu a gente, eu tomei cadeirada, minha esposa foi arrastada pelo cabelo... A finalidade dele realmente era a morte", diz Rosy, que ressalta nunca ter visto Macedo antes. "Ele não é cliente, não tem vínculo nenhum com o bar."

"Ele está solto. E se tentar matar a gente de novo?", ela diz.